Se passaram uma semana na tentativa de evitar o máximo possível Daniel e Thiago, mas é em vão. Por vivermos na mesma casa torna-se difícil não nos esbarramos, mas o que é mais estranho que eles mal respiram em minha direção. No fim eu que fui ignorada.
Acordo com uma batida na porta. Já percebi que é quase impossível dormir até tarde nesta casa sem me incomodarem, apenas quero dormir. Ignoro como quase tudo na minha vida, mas as batidas continuam e tento abafar com o travesseiro na cabeça, mas a porta se abre e sinto o colchão afundar ao meu lado.
— Precisamos falar com você? — de novo?
— Estou dormindo.
— Você fala dormindo?
— Sou sonâmbula — Léo dá uma risada.
— Engraçadinha, car? — Ele me chama pelo apelido, que mesmo negando veementemente ele não me ouve.
— Que droga Leo me deixa dormir é sábado — jogo o travesseiro em seu rosto — E já te disse para não me chamar assim, o que você quer? Se for sobre festas idiotas, não estou de acordo, agora pode sair — respondo mal humorada
— Me surpreendo como você fica mais gentil a cada dia — sinto o riso em sua voz — Mas não é sobre festas.
— Então me diz logo e me deixa em paz.
— Melhor descermos, tomarmos café que eu te explico, só para constar já são onze e meia da manhã, quase hora do almoço. Então não reclame e levante daí senhorita mau humorada.
— Agora vai pegar no meu pé? Eu tenho esse direito, essa semana trabalhei até tarde todos os dias só para não trazer trabalho para casa e poder me dar ao luxo de dormir até tarde" explico enquanto levanto — O que você não deixou — ele me encara como fosse louca, sei que já é tarde mas dormir é um dom que tenho.
Tento me deixar um pouco mais apresentável, prendendo o cabelo em um coque, para Léo foi o suficiente para tentar me levar para baixo, me puxando de quarto para fora.
— Você está louco?
— Vamos logo, todos estão nos esperando.
— Não, eu não vou vestida assim — ele me encara confuso.
— Qual o problema? Que eu saiba você anda assim vinte quatro horas por dia.
— Não ao com esse short" aponto para meu short branco transparente — Estou quase nua — assim que me sentia, estranho não ter nenhuma vergonha evidente de Léo mas em pensar em Daniel e Thiago me ver sem tanta roupa me deixa nervosa.
—Já vi uma mulher nua e você está longe de está e era para me confortar não adiantou.
— Eca Léo me poupe — ele me puxa mais uma vez — Léo— protesto.
— Está bem se troca — sai apressado me deixando curiosa sobre tanto mistério.
Faço minha higiene matinal, com uma bermuda e uma regata me apresso até a cozinha. Chegando os meninos estão rindo, mas quando me veem como se depararem com um animal feroz.
— E aí quem morreu?
— Amanhã chegará uma nova moradora — diz Léo empolgado.
— E...? — sento e eles se olham.
— Você terá que dividir o quarto com ela — não, definitivamente não foi o combinado, me levantei sobressaltada.
— Por que?
— Por que não há mais quartos? — diz Daniel.
— E a porcaria do quarto do barulho?
— Mesmo que ela fique lá vai demorar para desocupar porque primeiro vamos ter que desocupar o quarto dos fundos — diz Thiago.
— Tem um quarto dos fundos aqui? E o que vocês estão esperando para jogar ela no quarto, e leva menos tempo e menos esforço simples assim. Vocês têm o que na cabeça? Não deve ser tão ruim.
— Ela tem razão — diz Daniel e não contenho um sorriso vitorioso.
— Parabéns você não é um completo imprestável — comento e posso jurar que levou como um elogio pois pude perceber um fino traço de riso em seus lábios.
— Mais uma coisa. Seja gentil.— Completa Léo, e reviro os olhos em resposta.
— Não sei sobre o que está falando? Sou gentileza em pessoa — Eles se olham e começam a rir.
— Sério não coma a garota quando estiver dormindo — diz Daniel enxugando uma lágrima imaginária, eu ainda não entendo a graça, mostro a língua para eles da forma mais infantil que habitar meu ser.
— Tanto faz — dei de ombros " Era só isso? Vocês são piores que uma novela mexicana, fato óbvio. Depois de comer um hambúrguer e tomar um maravilhoso refrigerante bem gelado, subo para o quarto e volto a dormir.
Acordo já é noite e meu estômago ronca e desço para a cozinha e encontro o Léo comendo pizza.
— Cheguei na hora certa — entro esfregando a mão uma na outra.
— Boa noite dorminhoca — sento me sirvo de uma fatia de pizza sem ao menos pedir, educação 0%. Quando estou terminando, Léo fala.
— Você vai para o aniversário do Paulo e Guilherme?
— Não fui convidada — ele franze a sobrancelha.
— Sim, você foi. Pedi para o Daniel te passar o recado já faz uma semana— Claro que ele não me disse nada, Daniel sendo o idiota de sempre.
Eu e Guilherme não tínhamos saído ultimamente, ele parecia ocupado, ele mesmo se intitulava meu irmão, mas estava sendo um irmão desnaturado.
— Acho que esqueceu de passar o recado. Quando é?
— Amanhã.
— O que? Muito em cima para comprar presente — falo para mim mesma.
— Relaxa é só uma festa na verdade ninguém leva presente só vai — ele sorrir inocentemente — Você vai?
— Provavelmente — combino com Léo por não fazer a mínima ideia de como chegar na casa do Guilherme ele promete que se encarregará de me levar — Obrigada Léo.
Subo as escadas rápido pensando em bom presente para Guilherme, mas me choco com alguém que me segura pela cintura impedindo que role escada abaixo.
— Você está bem? Pergunta Daniel me segurando perto do seu corpo.
— Sim — Digo sem ar, minha respiração está acelerada pelo susto.
— Bom...— ele me aperta mas contra seu corpo como se não quisesse sair dali — Qual a pressa? — ele está tão perto do meu rosto que posso ver os traços azuis em seus olhos verdes.
Lembro o quanto estou chateada por não ter me passado o recado do aniversário de Guilherme.
— Qual o seu problema?— me afasto e ele parece confuso — Porque é tão idiota? Porque não falou sobre a festa? Porque não passou o recado da festa do Gui?
— Gui? Você está brava porque não te dei um recado de uma festa? Que eu saiba você não gosta de festas.
— Sim, estou furiosa porque o Guilherme é meu amigo, e quem é você para dizer o que eu gosto ou não? Seu egoísta ridículo — saio bufando.
Domingo acordo com um grande par de olhos verdes me olhando. Dou um grito assustada.
— Shiiii!
— Quem é você?
— Sou sua colega de quarto — automaticamente a analiso, ela está de saltos rosas e vestido também rosa colado ao seu corpo mostrando suas pernas e seus cabelos lisos e loiros, uma verdadeira barbie.
— O que? — Tento absorver rápido pois ainda estou lenta por acabar de acordar — Você vai ficar no quarto dos fundos.
— Não desocuparam ainda — Diz tranquilamente. Acho que nessa hora meu cérebro entrou em choque.
— Não, não, não — saio correndo do quarto, bato na porta do quarto de Léo e nada no de Thiago igualmente, desço a procura deles mas ele não estão em lugar nenhum, então tento a última opção subo e bato na porta do quarto de Daniel que abre logo em seguida.
— Carol? — Diz surpreso — O que aconteceu?" Obviamente preocupado por bater em sua porta.
— Tire aquela loira peituda do meu quarto agora — rosno.
— Era só isso? — me parecia decepcionado.
— E o que seria? Você fez de propósito — aponto o dedo para ele de uma forma dramática — Você quer acabar comigo — soou tão ridícula falando, mas não tanto em meus pensamentos.
— Pois você terá que ser gentil com ela por um bom tempo — da ênfase na palavra me desafiando — Pois o quarto ainda não está desocupado.
— Porque não?
— Porque tem muita tralha ainda dos antigos moradores, não é tão rápido como um piscar de olhos, será que você não entende?
— Não — bufo de raiva —Onde estão todos? — ele me olha e me analisa por minha mudança de humor tão repentina.
— Me lembro que era você que estava empolgada com a festa do "gui" suponho que estejam lá — desdenha mim, mas juro que vi uma ponta de ciúme — Afinal são duas da tarde Bela adormecida — eles amam me alfinetar por dormir demais. Tento não entrar na pilha, mas não sou paciente.
— Não enche é domingo — falo como fosse óbvio, mas lembro que não sei o endereço e lembro que Léo prometeu me levar — Mas como assim ele já foi ele sabe que iria com ele, mas você sabe se ele deixou o endereço?
— Não — fala com raiva aparente, nessa hora minha suposta colega de quarto sai deixando Daniel paralisado e olhos arregalados — Erica? — fala como se esforça-se para pronunciar seu nome.
— Oi Daniel — diz cantando. Eles se conhecem? — Você vai para festa? Poderia nos levar? — diz fazendo charme.
— Não — ele diz sem hesitar de um jeito bruto e entra batendo a porta do seu quarto.
— Continua o mesmo — ela afirma, mas pra ela mesma — Não liga ele é assim mesmo — fala me encarando, com olhos verdes que me dão arrepio — Quer dizer você já deve saber disso — não sei dizer em que sentido ela quis dizer, mas soou estranho — Vamos nos arrumar para abalar — diz me puxando para o quarto, como se fossemos amigas há anos.
— Não vou abalar em canto nenhum — nunca pensei que diria essas palavras.
— Pensei que iria pra festa.
— Não mais, não sei o endereço.
— Só por isso? Relaxa, são velhos amigos meus, agora quero que mude sua cara e dê um sorriso — quem é ela afinal? Mesmo que tivesse boas intenções, o que eu não engolia, ela tentava forçar uma intimidade que não gostava nenhum pouco.
Ela entrou no quarto depois de se trocar mais bela que antes, se é que era possível. Está com um salto preto uma minissaia xadrez que me faz lembrar uma estudante lhe dando um ar inocente e uma simples blusa branca de manga com um leve decote em v e seus cabelos lisos e soltos, quando me vê faz uma cara decepcionada.
— Achei que estaria pronta.
— E estou — falo com a mão na cintura.
— Não, não é que roupa é essa? E essa calça? — aponta para minha calça preta cheia de bolsos — Assim nenhum homem olhará para você — diz mexendo em sua mala.
— E quem disse que quero?
— Não sabia que você era lésbica — diz como uma revelação — Desculpa — a intenção era me ofender, em pleno século vinte um ainda tem gente que pensa que esse tipo de palavra é ofensa.
— Eu não sou lésbica - digo revirando os olhos.
— Sei... — ela me encara como maquina-se algo — Mas me desculpe falar, mas você é mulher e toda mulher quer se sentir atraente gosta de atrair olhares de se sentir desejada cedo ou tarde isso vai acontecer — ela fala como fosse tão positivo, mas por minhas experiências ser bonita sempre me trouxeram problemas.
— Se acontece cedo ou tarde certo? Então comigo pode não ter acontecido? — ela me encara como se estivesse falando outra língua, e que venho de outro planeta.
— Mas irá provar como é a sensação — fala remexendo em sua mala que parece ter um buraco no fundo. Puxa uma mini saia como se tivesse encontrado ouro — Você vai ficar linda — diz jogando-a para mim.
— Nem morta que uso esse pedaço de pano — ela faz uma careta — Tenho minhas roupas.
— Pois não — se dirige ao meu guarda-roupa e começa a procurar algo. Quem ela pensa que é? A boa samaritana? — Achei! — exclamou contente, me entrega uma calça jeans clara que minha mãe me deu, mas nunca usei, por motivo de odiar calça e qualquer parte de baixo branca. Faço uma careta.
— Não essa calça não — reclamo.
— Não quero saber de reclamações — sorrio, por um momento ela me faz lembrar minha irmã com seu ar mandão sempre tinha o costume de cuidar de mim — É só uma calça não vai mudar quase nada — diz saindo para que me troque, quem sabe pode dar certo tempo que não sei o que é uma amiga.
Me admirando no espelho o quanto uma calça pode mudar um visual completamente me vejo tão feminina, a calça se ajustou perfeitamente ao meu corpo mas não faz parecer vulgar por minha blusa azul caída no ombro, e meus queridos amigos e confortáveis allstar uma mania que não larguei desde a adolescência.
Ela entra no quarto e me olha com aprovação.
— Uau! — Erica assovia entrando no quarto — Sabia que cairia bem mas, isso — ela olha para meus pés reprovando o allstar — Poderia melhorar — diz com um sorriso esperançoso.
— Não abusa — encerro alisando meu rabo de cavalo.
— Certo, por hora tudo bem, vamos — me puxa como se eu não soubesse andar por mim própria.
—Sim mamãe — sorriu balançando a cabeça negativamente.