Azul Profundo ( Livro 1 Série...

By PriscillaaFerreira

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ATENÇÃO! PLÁGIO É CRIME, Livro devidamente registrado junto a Biblioteca Nacional. Violar direito autoral: P... More

Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Agradecimentos

Capítulo 14

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By PriscillaaFerreira


Gustavo

Depois que belisquei o café da manhã que ficou esquecido em minha cozinha, passei o resto do domingo chuvoso lendo um livro de suspense do Harlan Coben que trouxe dos Estados Unidos. A leitura foi tão agradável que em alguns momentos esvaziei minha mente. Quando terminei de ler, passei um café novo e liguei o som, coloco uma seleção de clássicos do Guns N' Roses pra tocar.

Preciso parar de ocupar minha cabeça com as imagens de Liz nua. O que aquela mulher fez comigo? Ela só pode ter me feito algum feitiço. Estou ficando louco. Tomo meu café enquanto organizo as coisas que preciso fazer amanhã. Deito no sofá e acabo dormindo.

Acordo com a companhia tocando, olho para o relógio da sala. 02:10. Quem será a essa hora? Levanto e vou cambaleando para a porta, assim que abro, meu corpo todo trava. Liz está parada na minha porta, vestindo apenas um robe preto de seda e chinelos, com os cabelos despenteados de quem acabou de sair da cama.

Pelo visto ela adora me fazer surpresas no meio da noite, mesmo magoado e muito puto ainda fico excitado imediatamente apenas em vê-la.

Gustavo, controle-se homem!

Os olhos me encaram como duas tochas de fogo.

— Liz? – falo surpreso por ela estar ali depois de ter saído daqui batendo a porta.

— Oi, posso entrar? – ela pergunta receosa.

— Claro. - faço um gesto para que ela passe por mim na porta.

Liz caminha até o meio da sala e vira-se pra mim abraçando o próprio corpo.

— A gente pode conversar? – pergunta como se estivesse com medo da minha resposta.

— Liz, claro que podemos conversar, venha sente-se. – indico o sofá para que possamos sentar.

— Desculpe-me pelo horário, você estava dormindo?

— Não precisa se desculpar, acabei cochilando no sofá, foi bom você me acordar senão eu iria dormir aqui a noite toda.

— Eu deitei, mas não conseguia dormir. Eu precisa vir... – eu a interrompo.

— E?

— Preciso te contar uma coisa, algo que justifica o que te falei ontem e porque sai correndo daqui hoje de manhã.

— Eu sou todo ouvido Liz, você pode confiar em mim... Já te falei sobre isso. – ela me observa por um tempo, depois olha para as mãos e começa a falar receosa.

— Nasci em Florianópolis, meus pais eram advogados e tinham um escritório renomado na cidade. Meu pai era fascinado pela minha mãe desde que se conheceram, ele era um homem de alma livre assim como você, mas ele abriu mão do seu sonho de ser um grande pintor por ela, para poder lhe dar uma vida segura. Você sabe que é muito difícil viver da arte no Brasil, mesmo que com muito talento. Minha mãe sempre foi contra tudo que meu pai fazia, fora o trabalho no escritório, ela achava que a pintura e a cozinha era perda de tempo. Mas meu pai não se importava, ele a amava como nunca vi ninguém amar alguém nesse mundo. Quando eu nasci, uma parte desse fascínio foi dividido comigo, meu pai era meu herói. Sempre sorrindo, me elogiando, me mimando e me ensinando tudo que eu sei, eu era sua garotinha. Já minha relação com minha mãe sempre foi difícil, ela cobrava muito de mim desde que eu era pequena. Sempre com grandes expectativas. – as lágrimas começam a escorrer pelas suas bochechas que já estão vermelhas, lentamente vou passando os dedos para secá-las.

— Quando eu tinha quinze anos, certo dia larguei cedo da escola e resolvi ir almoçar com meus pais no escritório. Quando cheguei lá, flagrei minha mãe transando com meu padrinho de batismo, que também era sócio do meu pai. Eles estavam tão concentrados que não me viram, eu saí de lá atordoada, me sentindo tão traída. Como minha mãe poderia estar fazendo isso com um homem maravilhoso como meu pai e trair a amizade da minha madrinha? Fui pra casa, acabei encontrando meu pai no seu ateliê pintando e não consegui esconder meu choro. Papai me questionou o que tinha acontecido pra me deixar daquele jeito e eu acabei contando Gustavo, eu não poderia mentir para o meu pai.

— Meu Deus Liz. – puxo-a para o meu colo e a abraço apertado contra mim, nesse momento eu não queria soltá-la dos meus braços nunca mais, queria poder dividir com ela sua dor.

— Não se culpe, você era só uma garotinha Liz. – tento acalmá-la beijando seus cabelos e alisando seus ombros sobre a seda fria.

— Me deixa falar, eu preciso te contar todo o resto. – ela chora no meu peito.

— Fale minha flor.

— Meu pai me ouviu contar tudo que vi, e me confessou que já sabia dos encontros furtivos da minha mãe com meu padrinho. Gustavo, a dor que vi nos olhos dele me dilacerou. Meu pai amava tanto a minha mãe que concordava com aquilo. Aquela situação era podre, me embrulhava o estômago de tão suja. Nunca iria concordar com aquilo. Fiquei com tanta raiva que gritei com ele o acusando-o de ser covarde. Como ele poderia se sujeitar a algo tão baixo como aquilo? Eu saí correndo para o meu quarto e chorei até dormir. Eu sempre imaginei que meus pais se amavam, minha mãe tinha o jeito frio dela, mas pensei que ela o amasse. Que tipo de amor é esse? Que fere e magoa as pessoas?

Meu peito aperta com cada palavra de Liz, uma garotinha não merecia passar por uma coisa dessas.

— Acalme-se, querida. – tento confortá-la.

— Gustavo, eu acordei poucas horas depois com o grito de horror da minha mãe. Meu pai... – engulo em seco, me preparando para o que ela irá falar.

— Ele se suicidou. Eu vi seu corpo caído morto no chão por minha culpa. – fico em choque com o que ela acabou de me revelar, a coisa toda parece um filme de terror. O passado de Liz é tão triste.

— Meu Deus, minha flor. Eu não imaginei.

— Eu me sinto tão culpada Gustavo, foi culpa minha por ter gritado com ele, por ter lhe acusado de ser covarde. Eu não poderia culpá-lo, ele a amava. Meu pai me abandonou, você entende agora? Ele não aguentou saber que eu sabia de tudo, e preferiu me deixar.

— Liz, eu sinto muito. – falo tentando mostrar o quanto estou tocado com isso tudo, mas sei que é em vão, só quem perde alguém que ama muito sabe o que é se sentir abandonado, ainda mais quando se sente culpado dessa maneira.

— Minha mãe me acusou quando contei para ela o que tinha acontecido, ela disse que a culpa de tudo era minha.

— Sua mãe é que deveria se sentir culpada minha querida, você era só uma garotinha e não poderia estar passando por uma coisa dessas. Depois disso o que aconteceu?

— Ela não falou mais comigo, me mandou estudar em colégio interno em Blumenau na semana seguinte, passei três longos anos naquele lugar. Daí quando eu terminei a escola já estava perto de completar dezoito anos, prestei vestibular pra Universidade Federal de Santa Catarina, depois consegui uma transferência para a USP, saí de lá o mais rápido que pude, meu pai tinha me deixado algum dinheiro no seu testamento, coisa que só pude mexer quando fiquei maior de idade, mas foi esse dinheiro que me ajudou a vir pra São Paulo e alugar um local pra viver, trabalhei em lanchonetes, em lojas do shopping, fiz tudo que podia pra nunca precisar da ajuda dela.

— Imagino o que você passou, mas e as pessoas envolvidas? O que aconteceu? O que seus padrinhos fizeram?

— Quando a bomba estourou na cidade assim que tudo aconteceu, todos me viraram as costas, inclusive meus padrinhos como também os outros amigos da família, minhas amigas e até um namoradinho que eu tinha. Ninguém queria qualquer relação com a filha do casamento cheio de traições e suicídio. Nossa família fazia parte da alta sociedade, e um escândalo como esse era demais para os amigos ricos dos meus pais aceitarem.

— Meu Deus, Liz. Você foi muito forte por ter passado por tudo isso sozinha. Sua mãe nunca te procurou novamente? Nem nenhum dos seus parentes?

— Meu pai era filho único e seus pais morreram há muito tempo e eu nem cheguei a conhecê-los, a família da minha mãe sempre foi apenas ela e minha tia Lúcia que mora nos Estados Unidos há muito tempo. Minha mãe chegou a me visitar quando fiz dezoito anos. Só para que eu assinasse um contrato de venda da nossa antiga casa. Ela comprou um apartamento em uma cidade vizinha para esquecer o vexame e desde então não a vi mais.

Sete longos anos.

— Liz, eu sei que  qualquer coisa eu te fale agora será incapaz de diminuir toda dor e toda mágoa que você deve estar sentindo, mas posso imaginar. Eu já me senti assim, mas eu tenho certeza que, diferente do meu caso, seu pai a amava muito. Eu não posso apagar o que você viveu, mas posso tentar fazer você esquecer. Seu pai cometeu um erro, mas ele te amava e a culpa de sua ação não foi sua. Você é luz na vida de qualquer um minha flor.

Abracei-a ainda mais apertado, nos beijamos delicadamente, aquela confissão era tudo que eu precisava para saber que meu coração já tinha uma dona, ela era tão quebrada quanto eu e juntos talvez, nós pudéssemos tentar nos concertar, um ajudando o outro a curar o que a vida dilacerou.

Sei que deveria estar evitando mais surpresas pra minha vida, mas eu seria incapaz de negar o que está acontecendo. A admiração que sinto por Liz só aumenta e minha necessidade em protegê-la também. Não que ela seja frágil, alguém que passou por tudo isso, pode ser tudo, menos frágil.

Como é possível uma menina passar por tanta dor e abandono sozinha? Não sei se eu conseguiria. Fico me perguntando como alguém pôde abandoná-la?

Eu a pego no colo.

— Venha. – levo-a até meu quarto, coloca-a em pé de frente pra cama.

— O que você está fazendo? – Liz pergunta acanhada.

— Vista isso. – não me dou o trabalho de responder, entrego a ela uma calça de moletom e um casaco.

Liz me fita intrigada formando uma ruguinha entre as sobrancelhas.

— Pra que? –indaga.

— Vista, vamos dar uma volta. – como Liz não se mexe pego a calça de suas mãos e me ajoelho em sua frente colocando-a pelas suas pernas, como se fosse uma criança. Liz ri baixinho e se equilibra me segurando pelos ombros.

Subo a calça até sua cintura e dou um laço apertado para segurar no corpo magrinho de Liz. Ela desfaz o laço do robe e veste o casaco sobe a camisola de seda. Levanto, vou até o closet, pego uma jaqueta de couro grossa e coloco pelos seus braços em silêncio.

— Sua roupa está enorme em mim. Aonde nós vamos, Gustavo? – ela pergunta.

— Surpresa, venha. – pego minha jaqueta velha de couro no sofá e visto, acho minha carteira, as chaves e alcanço sua mão, caminho com ela ao meu lado em direção à garagem.

Quando Liz vê eu me aproximar da minha Harley-Davidson Forty-Eight, ela puxa minha mão parando atrás de mim.

— O que houve? – pergunto.

— Se você está pensando em me levar a algum canto nessa coisa eu não vou.

— Liz... Que besteira. Venha, você vai adorar.

— Gustavo, eu não acho seguro...

— Meu Deus Liz, deixe de ser sempre tão controlada. Eu nunca te exporia a nada que possa ser perigoso. E quando foi que você andou em uma moto?

— Nunca.

— Então, como pode saber se é bom ou não? Além do mais, você está esquecendo que quem vai estar na direção é um piloto profissional. Prometo te trazer inteira, sã e salva. E vou adorar ser o primeiro cara que vai te levar na garupa. – pisco pra ela.

— Se você fala assim... – todo seu rosto está tomado de apreensão, Liz é tão jovem, mas a vida lhe fez tão dura e muitas vezes responsável demais para a sua idade. Beijo sua bochecha e nos aproximo da moto.

Pego um capacete, coloco em sua cabeça prendendo o fecho no seu queixo. Antes de soltá-la, dou um beijo em seus lábios e fecho o zíper da jaqueta para protegê-la do frio. Coloco meu próprio capacete, monto na moto e me viro para ajudá-la a subir.

— Coloque o pé no apoio e passe a perna sobre o banco, sente-se bem apoiada e me abrace à cintura para se sentir mais firme sobre a moto. E relaxe, certo? Você pode fazer isso?

Liz me olha atenta prestando atenção em cada informação e faz como eu disse, como uma profissional ela abraça minha cintura e encosta a cabeça nas minhas costas.

— Está tudo bem? – pergunto.

— Sim, podemos ir. – ela confirma.

Ronrono o motor da moto, e sinto-a tremer atrás de mim. Sorrio e acelero deixando a garagem para trás e caindo na rua deserta da madrugada. A chuva está leve, os pingos caem contra nossas roupas nos encharcando lentamente, mantenho uma velocidade confortável para não assustá-la para a sua primeira vez, mas suficiente para sentir a sensação de liberdade que só a moto pode nos dar. Devido à hora, as ruas estão quase desertas, o vento frio molha meu rosto e a adrenalina começa a correr nas minhas veias. Solto uma mão e agarro a coxa de Liz, ela responde me abraçando mais apertado e deslizando as mãos por dentro da minha jaqueta, todos os meus músculos ficam tensos só de sentir seu toque macio.

Piloto por um longo tempo, quando chegamos a uma autoestrada, Liz solta às mãos e as abre como asas, pelo espelho retrovisor, vejo-a rindo e levantando o rosto para o céu para poder tomar as gotas de chuva que cai contra nós.

— Gustavo... Eu me sinto livreeee... – ela grita alegremente enquanto deixa os braços soltos no ar imitando movimento de um pássaro voando.

— Eu falei que você ia gostar! – respondo contra o vento.

— É incrível! – Liz grita alegremente.

Seguro mais firme sua coxa para não deixá-la cair, e diminuo a velocidade da moto. Retomo o caminho de volta pra casa, mas Liz protesta.

— Nãaao... Eu quero continuar voando! – não paro de sorrir, já carreguei muitas mulheres na minha garupa, mas nenhuma delas ficou tão encantada com algo tão simples, Liz pelo reflexo das lâmpadas das ruas parecia realmente um anjo brilhando em dourado. Seus cabelos loiros, encharcados pela chuva voavam livres por fora do capacete e seus braços envelopados na minha jaqueta continuavam soltos contra o vento. Meu peito se enche de orgulho por fazê-la sorrir dessa maneira.

A chuva começa a engrossar, paro a moto embaixo de uma árvore e me viro para olhá-la.

— Você está bem? – procuro saber, tirando seu capacete.

Liz sorri e passa os braços pelo meu pescoço, ela começa a me beijar ferozmente sem me dar qualquer chance de recusa. Mas quem disse que eu iria? Retribuo seus beijos esfomeados, mas afasto-me para falar.

— Querida, não é seguro ficarmos aqui. Venha, coloque o capacete que iremos pra casa. – eu não me perdoaria se acontecesse algo a Liz.

— Gustavo, obrigado! Nunca me senti assim tão bem e livre enquanto a chuva caía no meu rosto, foi incrível. Nunca mais quero andar de carro, estou até pensando em ter uma moto dessas pra mim, você me ensinaria a pilotar? – ela pergunta esbaforida e cheia de animação.

— Por enquanto, estou satisfeito em ter você na minha garupa. – beijo a pontinha do seu nariz e ponho de volta seu capacete, levo-nos de volta pra casa. Quando estaciono na minha vaga na garagem, Liz está tão agarradinha em mim que meu peito dói em ter que nos afastar.

— Chegamos. – Liz desencosta a cabeça das minhas costas e desce da moto sonolenta, desço em seguida devolvendo os capacetes ao seu apoio na parede. Nossas roupas estão completamente encharcadas, então me apresso em pegá-la no colo e levá-la pra cama, afinal ainda estou bem aceso dos beijos escaldantes que ela me deu e eu muito grato retribuí.

— Gustavo, eu sei andar sabia? – ela retruca.

— Minhas pernas são maiores que as suas, e por isso posso chegar mais rápido ao nosso apartamento lhe carregando. Sendo assim, estarei dentro de você em cerca de três minutos. Coisa que se você for andando isso só aconteceria no dobro de tempo. E não queremos atrasos, certo? – pergunto levando-a para o elevador.

Abro a porta de casa no tato, enquanto Liz está escarranchada na minha cintura, nossas bocas se chocando em uma fusão de línguas e desejo. Dispo suas roupas e me afundo no seu corpo. Naquele fim de madrugada chuvosa e fria, fizemos amor delicadamente, como se assim, pudéssemos transferir a dor um do outro para si. Não foi sexo o que fizemos, foi literalmente amor, ela confiou algo tão doloroso e íntimo sobre seu passado a mim, isso significou muito pro meu coração.

E eu apresentei a ela o que sinto quando estou sobre uma moto, livre... Num lugar onde ninguém pode me machucar porque meu sangue está cheio de adrenalina e meu coração está cheio de euforia. E se isso é o que a minha garota precisa, eu posso dar isso a ela para fazê-la parar a dor. Então amei seu corpo com a minha alma, deixando lentamente ela entrar no meu coração. Lugar que eu sabia que ela já pertencia.

Liz ainda estava um pouco dolorida, mas isso não a impediu de choramingar meu nome quando o prazer lhe atingiu. Quando nós estávamos nos acalmando para dormir, eu digo baixinho em seu ouvido:

— Liz, eu quero fazê-la esquecer. Eu vou fazer isso por você minha flor... Estou aqui, e não vou a lugar nenhum.

Ela resmungou aninhada no meu peito, não sei ao certo se ela entendeu, mas eu gostaria que ela soubesse e acreditasse em mim.

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