Doce Vingança, livro 01

Por PriscilaMariaLima

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*OBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL, OBRA REGISTRADA EM CARTÓRIO* Gustavo é acostumado a ter as coisas do... Más

Apresentação e esclarecimentos
Capítulo 1 - parte 1
Capítulo 1- parte 2
Capítulo 2 - Inesperado
Capítulo 3 - Dois pra lá dois pra cá.
Capítulo 04 - (não) me toque!
Capítulo 05 (parte 01)
Capítulo 05 (parte02)
Capítulo 06 - Labirinto
Capítulo 07 - Doce Despedida
Capítulo 08
Capítulo 08 (parte 02)
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15 (parte 01)
Capítulo 15 (parte 02)
Capítulo 15 (parte 03)
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19 (parte 01)
Capítulo 19 (parte 02)
Capítulo 19 (parte 03)
Capítulo 19 (parte 04)
Página!
Capa
Aviso sobre a publicação
Capítulo 38 - Final
Doce Surpresa saiu do forno!
Doces contos pra esquentar!
Livro 02!

Capítulo 08 (parte 03)

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Por PriscilaMariaLima


*Quero aproveitar o ensejo e agradecer ao apoio, papos e inspirações vindo das minhas meninas (e seus meninos) do querido grupo "Devaneios literários",  "Amo livros hots" e "Romance Quente". Em cada linha desse livro, vocês escrevem comigo!

*E não esqueçam da estrelinha*

Graças a Deus todos já estavam dormindo quando cheguei em casa. Minha noite foi péssima, demorei a pegar no sono e todas as vezes que cochilava sonhava com Gustavo e acordava assustada quando começávamos a nos agarrar. Que merda que eu fui fazer, caramba! Minha consciência nunca pesou tanto. Nem quando eu me envolvi com meu diretor da escola de ballet. Era só para ser uma brincadeira, uma vingancinha para dar uma lição no Gustavo mas eu acabei transando com o cara! E o pior de tudo é que eu tinha gostado! Não, eu tinha adorado... adorado pra caralho!

Ainda estava de olhos abertos quando o dia começou a clarear. Abri meu notebook, dei uma olhada no meu calendário e respondi alguns e-mails confirmando minhas palestras mensais. Eu desenvolvo um projeto, ligado a auto estima e aceitação, ramificado dos exercícios no meu estúdio; vou às escolas de danças e agências de modelos e atores conversar com os jovens sobre a visão da própria imagem, as diferenças entre cada um e a importância da qualidade de vida. Dialogamos sobre os sacrifícios que fazemos em prol de uma carreira. E o que é essa carreira senão aquilo que escolhemos fazer por amor? Pelo menos no caso deles que escolheram uma via artística. O amor está ligado a felicidade e se você sofre por algo que deveria te deixar feliz, alguma coisa está errada. Sempre vou acompanhada de uma nutricionista, Camila e uma psicóloga, Rosane, que se tornaram minhas grandes amigas quando atenderam uma bailarina que estudava comigo e sofreu um transtorno alimentar devido a pressões dos nossos professores. Inacreditável! Tínhamos quatorze anos e eu prometi a mim mesma que nunca passaria por aquilo, que o ballet era apenas uma parte do amor que eu sempre sentiria por mim mesma.

Passei a manhã preparando o material do projeto e fazendo as ligações para os centros, agencias e escolas. Marquei uma reunião com Camila e Rosane, como fazíamos mensalmente para sempre nos atualizarmos e conversamos sobre o lugar e as pessoas que iríamos encontrar nas palestras.

Almocei em casa com meus pais e combinamos de nos encontrar na defesa de projeto da Marianinha. Passei a tarde no estúdio tentando iniciar um rascunho de espetáculo com as coreografias que minhas turmas de contemporâneo e clássico apresentaram. Era desgastante ter que me desdobrar para ser justa e firme com todos aqueles egos. Artista é uma criatura muito sensível, credo!

Dispensei todos porque faltava uma hora para a apresentação da tese. Tomei um banho e me arrumei ali mesmo no estúdio, depois de trancar todas as portas. Como depois, sairíamos para jantar, optei por uma calça jeans de cintura alta, um cropped branco frente única, jogando um blazer preto por cima e scarpin vermelho. Deixei o coque alto, coloquei umas argolas douradas e uma maquiagem bem discreta. Resolvi ir à pé porque ficava apenas a duas quadras, dali. Cheguei poucos minutos antes de começar, encontrei meus pais já sentados e com um lugar guardado para mim.

Estava em cima da hora, foi só eu sentar e as luzes do auditório diminuíram para dar início ao espetáculo. Marianinha e a outra atriz, que era sua dupla, estavam lindas! Elas fizeram uma pequena cena de teatro sem uso da voz falada e era tudo tão potente, tão intenso. Foi uma das coisas mais lindas que já vi! Após a cena, que foi ovacionada, passamos para a defesa onde elas explicavam o desenvolvimento do projeto e como chegaram até ali. Tudo muito bem detalhado e explicado, também tinham desenvolvido um blog onde partilhavam do cotidiano dos ensaios. Meus pais que antes já admiravam minha amiga, passaram a grandes fãs e queriam trabalhar com ela, de qualquer jeito. Os três ficaram conversando com alguns professores do curso e acabaram que agendaram uma palestra na faculdade, com a condição de que a cena de Marianinha e da dupla seria a abertura do bate papo, assim como, elas também participariam como palestrantes.

Anna e Luca, Mavi e Stela, eu e os amigos de turma de Marianinha seguimos para o restaurante enquanto ela e sua colega se reuniam com meus pais e os coordenadores do curso.

O restaurante era também um barzinho charmoso de estilo rústico. A parte interna tinha sofás de couro e mesas baixas, tapete de pele artificial e um enorme balcão; algumas mesas redondas perto da janela com seis cadeiras de madeiras acolchoadas. Um vidro transparente era usado como divisória para a parte externa, onde tínhamos reservado nossa mesa. A varanda era linda toda projetada num deque, mesas e cadeiras de madeiras com alguns balanços de tronco. Refletores ficavam no chão atrás dos vasos de planta e tocava a mesma música que ouvimos quando passamos pelo bar.

Na porta da varanda, senti uma mão me segurando e virei me deparando com Thomaz e seu sorriso largo. Sorri de volta e o abracei.

_ Oi, Thomaz! _ ele estava de terno azul escuro, uma camisa preta e sem gravata. _Tudo bem?

_ Tudo. Fazendo o que, por aqui? _ Marianinha chegava com sua amiga, nos cumprimentando rapidamente e indo direto para a nossa mesa.

_ Marianinha acabou de se formar.

_ Aquela é a Mariana? _ Thomaz levantava as sobrancelhas e eu olhei na mesma direção que ele. Assenti com a cabeça. _ Ela tá... tá diferente.

_ Diferente? _ olhei de novo. De fato, tinha algo diferente nela mas não sabia explicar o quê.

_ Preciso ir, tô num jantar de negócios. _ gelei quando Thomaz soltou essa informação. Será que Gustavo estava ali. Cacete, o que eu faria? Precisava fugir daquela situação. Passeei os olhos varrendo o local quando Thomaz franziu o cenho. _ Que foi?

_ Nada... Veio fazer negócios, sozinho? Cadê seu pai? _ começaria perguntando pelo pai para disfarçar e depois chegaria onde me interessava.

_ Já faz tempo que eu tirei as rodinhas da bicicleta, Valentina. _ rimos. _Eu sei fazer as negociações sem meu pai. Preciso voltar. Mas tô naquela mesa, ali. Se você for embora, passa ali pra me dar um beijo, ok? _ olhei para a mesa e vi mais quatro homens de terno. Nenhum era Gustavo, graças aos céus! Thomaz me deu um beijo no rosto e seguiu para a sua mesa. Fui sentar ao lado de Marianinha e a abracei.

_ Recordar é viver? _ Marianinha apontou para Thomaz.

_ Você está muito louca, minha amiga! _ disse dando uma bicada em sua caipirinha e pedindo um chá gelado para o garçom. _ Tá feliz?

_ Bastante! _ ela deu um sorriso radiante e suspirou. O cansaço era estampado em sua olheiras e na perda de peso mas, também, havia um brilho de satisfação.

_ Meus pais estão apaixonados por você, né?

_ Você não tem ideia de como isso é incrível! Seus pais são incríveis e conversar com eles sobre minha pesquisa, a troca de experiências...

_ Mas esse trabalho foi diferente, amiga... Não sei, você tá desabrochada. _ ficamos nos olhando alguns segundos até que minha ficha caiu e eu engasguei com o chá gelado. Ela quase gargalhava mas nada dizia. _ Não acredito! Quando?

_ A gente se conheceu semana passada...

_ Como é que é? _ virei completamente para encará-la. Ela demorava a responder as perguntas, ficando um pouco pensativa ou nostálgica, o que me deixava agoniada. _ Mariana, responde!

_ Eu o conheci semana passada e pareceu tudo tão certo, o tempo que ficamos juntos. _ franzia a testa. _ É, ele já foi embora. Ele é italiano. Passamos todos esses dias juntos e ele foi embora há dois dias.

_ E como você tá? _ segurei sua mão. Ela se fazia de forte mas era sensível. Diferente de mim, ela sempre chorava sozinha. Guardava o pranto para si e o sorriso para os outros.

_ Feliz! Acredita? Foi a primeira vez que me permiti viver e me deixei ser levada, desejada, eu sei lá! Foi mais do que sentir alguém dentro de mim... Senti alguém em mim. Foi o que você assistiu hoje no espetáculo. Tinha muito sobre nós. _ eu estava perplexa!

_ Você deu! _ todos da mesa olharam para mim e então eu percebi que tinha dito aquilo muito alto. Marianinha gargalhou e todos voltaram as suas conversas enquanto eu abaixava a cabeça, envergonhada. _ Foi bom? Ai, que pergunta! Basta olhar essa cara, aí. _ a abracei por alguns segundos e quando ela fez menção de se soltar do abraço, a prendi um pouco mais. Lembrei de Gustavo e senti um misto de culpa. Ela estava feliz e eu poderia me sentir aliviada, não é? Mas então por que aquela sensação pesada no meio do meu peito?

_ Você tá bem? _ ela se afastou me olhando nos olhos, procurando por qualquer informação. Balancei a cabeça que sim e desvie para a conversa de Luca e Anna, com Stela. Não conseguia olhar muito tempo nos olhos de Mariana e começava a me sentir incomodada, ao seu lado. Pensei em beber para aliviar um pouco esse nó na garganta mas eu estava dirigindo e tinha medo de soltar mais do que deveria, de um jeito que não deveria.

Minha amiga estava feliz e pelo jeito tinha superado Gustavo! Então por que não era tão simples? Por que eu não gostava dele? E por que eu continuava lembrando tudo que tinha acontecido com prazer acoplado à culpa? Eu ainda podia sentir entre as pernas, o lugar que ele tinha ocupado.

Num determinado momento da noite, Marianinha estava no bar com alguns de sua turma e Anna sentou ao meu lado:

_ Oi.

_ Oi, Anninha. Como é que você está? _ a pergunta se referia mais a Sula do que ao seu cotidiano. Ela suspirou e deu um sorriso triste. Coloquei minha mão sobre a sua. _ É, eu sei.

_ E você? Estou te achando tão abatida.

_ Eu também fiquei triste demais. Amava muito a Sula. _ não era uma total mentira mas eu não podia contar toda a verdade. Culpa e vergonha se encontraram e deram as mãos para saltitar em meu coração.

_ Vi o Thomaz falando contigo...

_ Ah, você também?! _revirei os olhos e ri. Ficamos conversando sobre a coreografia que ela e Luca apresentariam na festa do estúdio mas minha mente vagava bem longe dali. Tentei me distrair de todas as maneiras até Thomaz vir se despedir. Vi ali uma saída para escapar daquela noite que estava sendo catastrófica e lhe ofereci uma carona.

Sob olhares sugestivos me despedi dos meus amigos e segui para o estacionamento onde tinha deixado meu carro, caminhando ao lado de Thomaz que parecia feliz por ter fechado um ótimo negócio. Ele falava das estratégias, dos números, de como seria vantajoso principalmente em meio à crise que se instalava e eu só balançava a cabeça sorrindo, fingindo prestar atenção. Até que o nome no final de uma frase deu o alerta ao meu cérebro, quando entrávamos no carro.

_ ...ter que trabalhar com o babaca do Gustavo. _ enrijeci no volante mas Thomaz não percebeu. Torci silenciosamente para que ele continuasse falando mais enquanto, ao mesmo tempo, orava para que ele parasse com aquele assunto. _ Por mim, ele tinha continuado bem longe. Ele sente prazer em provocar. _ ô... sei muito bem disso. _ Ele tem uma relação péssima com o César mas se enfurnou lá na empresa há dez meses e resolveu assumir sua parte nos negócios! _ então ele não se dava bem com o pai? Por quê? Merda! Eu estava me corroendo de curiosidade mas chegamos a casa de Thomaz que me deu um beijo na bochecha e segurou no meu queixo. _ Quer subir um pouco?

_ Acho que não. _ sorri carinhosamente e ele assentiu, suspirando. _ Boa noite.

_ Boa noite. _ saiu e ficou esperando até eu ir embora.

O impasse me corroía por dentro. Tudo tinha sido muito rápido, muito intenso e muito contraditório. Era um mal que fazia muito bem, era algo proibido de desejar e o pior era que eu já havia tido uma provinha.

Minha noite mais uma vez foi uma tentativa em vão de descanso, cochilava e quase sempre acordava, sobressaltada. Sempre tinha sido assim quando algo me deixava ansiosa: perto de apresentações de ballet, uma semana antes das viagens e desde a época de provas na escola. Minha manhã seguiu o exemplo da minha noite e foi completamente desperdiçada comigo rolando pela cama, de um lado para o outro. Que saco! Levantei e troquei minha camisola azul de algodão por um biquíni cortininha laranja, dei um nó nos laços laterais da calcinha, calcei os tênis, joguei uma regata por cima e passei protetor solar. Quando desci, encontrei meu pai, minha mãe e Bá, tomando café. Peguei uma pera e saí comendo, sob os protestos da Bá.

Sem perceber, tinha dirigido até o estúdio e já estava correndo no calçadão perto do flat de Gustavo. Comprei uma água de coco no quiosque ali perto e sentei para beber, pensando no que eu faria e como eu faria. Vi quando seu carro estacionou e ele saiu com uma menina, ao lado. Gustavo estava de bermuda, camiseta e chinelos. Ainda assim continuava lindo! Os fios loiros da menina caíam até o meio das costas e era bem magrinha, usava um vestido rosa de algodão, tomara que caia, justinho até a cintura onde se abria num corte evasê, até o meio da coxa. Quando deu a volta no carro, vi quando ele segurou seu rosto dizendo alguma coisa, deu um beijo na testa e depois segurando sua mão, entraram no prédio.

Inferno! 

O que eu estava pensando? Óbvio que a cada dia ele levava uma diferente para cama. E, também, o que eu estava pensando parada ali? O que eu faria? Tocaria a campainha dele e quando ele atendesse... ai, eu tinha tanta coisa em mente para quando ele atendesse. Foco, Valentina! Foco! Parece que alguém chegou na frente e te impediu de fazer a mesma merda, pela terceira vez. Quarta, se levarmos em conta a festa do hotel. Droga! Isso precisava mesmo acabar. Quando voltei para onde tinha estacionado, vi Robson e a Bá, parados ao lado do meu carro.

_ Bá? Oi, Robson. Aconteceu alguma coisa?

_ Não, ia ligar pra você ainda agora. Aonde você vai? _ Bá guardava seu celular na bolsa.

_ Ia voltar pra casa. Só vim correr um pouco.

_ Ah, então pode voltar pra casa, Robson. Volto com a Valentina. _ Robson se despediu e atravessou a rua para entrar no carro estacionado, do outro lado. _ Preciso ir ao mercado. Vem me fazer companhia, tô com saudades.

_ Sua carente! _ passei os braços em volta de Bá e seguimos para as compras.

Comecei a abastecer o carrinho com guloseimas que Bá tirava todas as vezes que virávamos um corredor. Emburrei a cara e falei para ela seguir enquanto eu pegaria outro carrinho para colocar só as minhas coisas.

Enchi meu carrinho de biscoitos salgadinhos, barras de chocolate e algumas barras de cereais. Abri o freezer e peguei dois potes de sorvete de chocolate com menta. Merda... a ultima vez que tinha provado esse sabor foi dos lábios daquele cretino. Ainda estava com a porta do freezer aberta mas podia sentir um olhar me queimando. Virei para trás a tempo de ver os olhos de Gustavo subindo lentamente dos meus pés, passando pela curva da bunda, parando alguns segundos nos meus seios, até encontrar meu olhar. Ficamos nos olhando alguns segundos e ele sorriu, divertido. Fiquei de costas para fechar a porta e quando virei, ele já estava atrás de mim. Agora ele estava só com uma sunga vermelha, camiseta branca e chinelos. Estava segurando uma garrafa de energético. Respirei fundo com aquela proximidade. Meu Deus... só mais um pouquinho e eu roçava nele!

_Dá licença? _ abaixei meu olhar. Pra quê? Dei de cara com uma tímida ereção!

_ Oi, né?!

_Oi, Gustavo. Agora pode me dar licença? _ ele não se mexeu, olhei para cima e ele estava sorrindo. Deus, meu ar estava todo preso no pulmão e eu tinha medo de soltar porque gemeria ao mesmo tempo, com certeza.

_ Você não vai levar metade dessas porcarias, mocinha! _ Bá se aproximava do meu carrinho até que viu Gustavo perto de mim e sorriu. _ Oi.

_ Oi. _ Gustavo sorriu lhe estendendo a mão e ela se derreteu _ Tudo bem? Eu sou o Gustavo.

_ Oi, Gustavo. Meu nome é Teresa, sou a babá da Valentina.

_ Babá? _ Gustavo me olhou divertido e eu revirei os olhos.

_ Bá... por favor...

_ Que foi? Eu sou sua babá!

_ Você foi minha babá... _ enfatizei o "foi". Bá suspirou revirando os olhos e Gustavo sorriu, ambos se divertindo com meu constrangimento. Desde quando eu ficava sem saber o que fazer?

_ A senhora é muito engraçada! _ Gustavo gargalhou.

_ Ah, por favor! Assim você faz eu me sentir mais velha do que eu já sou, rapazinho! Pode me chamar de Bá, também, já gostei de você! _arregalei os olhos, incrédula! Bá estava visivelmente se deixando levar pelo charme do cafajeste.

_ Que bom que pelo menos você gosta, Bá! Podia dar uma forcinha pra mim e fazer a Valentina seguir seu exemplo. Sabe... _ ele se aproximou dela e disse em tom de confidência: _ ela não gosta de mim.

_ Não é possível! _ ela falava espantada. Que situação patética dos dois conversando como se eu não estivesse ali.

_ Gustavo! Tá formando fila! _ nós três olhamos para o caixa e a loirinha que eu tinha visto com ele, pela manhã, estava parada de braços cruzados. Usava um biquíni rosa e chinelos.

_ Já vou! _ ele gritou e virou para nós. _ Preciso ir mas foi um prazer te conhecer, Bá. Até mais, Valentina.

Bufei irritada e Bá virou sorrindo, de orelha a orelha, para mim. Mexeu as sobrancelhas com um "e aí?". Ela só podia estar de brincadeira! Apontei com a cabeça na direção do caixa e avistamos Gustavo com a mocinha, já emburrada batendo pés e de braços cruzados. Ele a abraçou e disse alguma coisa que a fez trocar a carranca por uma gargalhada, pagaram as compras e saíram abraçados.

_ É a namorada dele? _ Bá voltou-se para mim, entortando a boca. Assenti arqueando uma sobrancelha e ela bufou tirando as coisas do meu carrinho. Saco! Ela não deixaria eu levar nada? _ Mas ele estava olhando tão encantado pra você... Parece tão bom soldado...

_ Você só pode tá brincando, Bazinha... _ comecei a colocar minhas compras de volta no carrinho e segui para o caixa.

Voltamos para casa e o dia foi monótono. Não fiz absolutamente nada de produtivo, não conseguia me concentrar em pequenas tarefas como conversar com meus pais e sempre assentia, distraidamente. Tenho certeza que disse "sim" a um monte de pedidos da minha mãe.

Por mensagem, combinamos todos de sair para uma boate e comemorarmos a formatura de Marianinha. Meu Deus... era um diploma e muita festa. Estava desanimada demais, porém me obriguei a animar. Ainda não sei se iria conseguir continuar encarando minha amiga escondendo dela tudo que tinha acontecido com Gustavo. Ela merecia a verdade. Ela merecia sinceridade mas ela não merecia ser machucada.

Jantei com meus pais e a Bá, em seguida subi para tomar um banho e me trocar. Quando entrei no closet, o desanimo se apossou de mim e isso era sinônimo de ter que me arrumar demais para que meu estado de espírito passasse despercebido. Optei por um vestido de paetê colado ao corpo e costas nuas. Ele era de mangas longas, indo até o meio da coxa, de um verde musgo que contrastava com minhas sandálias de saltos altos, roxas. Esfumei os olhos com cores escuras mais puxadas para o chumbo e cinza, na boca um batom bordô e resolvi deixar os cachos até o quadril, soltos. Coloquei umas argolas douradas sequestradas do porta joias da minha mãe e enfiei celular, cartão de crédito, dinheiro e identidade na minha bolsa carteira.

Robson me levou até a boate e o dispensei, avisando que voltaria de táxi. Ele não precisaria ficar acordado esperando a hora que eu precisasse voltar, embora eu ache que Gina e ele não dormiriam tão cedo...

Encontrei Anna e Luca, na entrada. Ela estava linda com um vestido preto curto, de renda e saltos da mesma cor. Seus cabelos estavam soltos e Luca percebeu que outros, também, estavam achando sua namorada linda porque segurava sua cintura possessivamente. Ele estava com uma polo verde , calça jeans escura e sapato de couro. Por que todos os homens ficavam tão lindos se arrumando de forma tão simples?

_ Uau! _dissemos uma para a outra quando nos encontramos. Ao entrarmos, vimos que o local já estava lotado. Subimos para a área VIP, onde Mariana com sua saia preta de couro mais curta que a vida, cropped vermelho com um decote generoso em seus fartos seios e um blazer preto, já dançava com uma bebida na mão. Ela estava alguns centímetros mais alta, por causa da sua bota de cano longo. Algumas pessoas estavam sentadas no sofá reto que pegava toda a parede e outras, nas poltronas espalhadas por ali. No fundo, um bar com bancos altos caso quiséssemos perdi alguma outra bebida que não fosse o champagnen servido.

"Bang! Bang!", ela vinha cantando e abraçando nós três. Estava feliz demais, solta demais e dançava levantando aqueles cachinhos lindos. Marianinha era bonita e nem percebia os olhares dos caras a nossa volta. Ri da minha amiga, para minha amiga e celebrei sua felicidade! Dancei até sentir o suor descer pelas minhas costas e os meus cachos grudarem na minha pele.

A noite estava divertida, todos já altos por conta bebida e muito engraçados! Riamos de piadas que não entendíamos e cantávamos até as músicas que não sabíamos cantar. O garçom não parava de nos servir, cada taça vazia era trocada por uma taça cheia. Eu esquecia de toda culpa e aflição que vinha me acompanhado durante esses dias.

_ Oi! Dois dias seguidos e vou achar que é perseguição!

_ Thomaz! _ o abracei e ele retribuiu, quando me soltou, olhou para Mariana dançando. _ Ela ainda tá comemorando a formatura.

_ Ah... _ continuou olhando para ela e despertou, voltando a falar comigo. _ E eu vim fazer negócios... _suspirou. Estava com uma calça jeans escura, camisa branca social e um blazer preto. Sempre bonito.

_ Aqui? _ gargalhei, já sentindo minha língua languida, falando alto no seu ouvido por causa da música alta

_ São gringos e querem conhecer a noite brasileira. O pior de tudo é ter vindo com o imbecil do Gustavo. _ senti minha espinha toda se contorcer num arrepio. Ele apontou para o bar e vi Gustavo conversando sorridente com uma loira num tubinho apertado, de alças finas, que ia até o joelho. Ele estava, assim como Thomaz, de jeans e blusa social branca mas sem o blazer. _ Pelo menos ele é persuasivo nos negócios. _ ele estava se referindo aquela mulher com ele?

Senti um nó na boca do estômago e olhei para Mariana dançando de olhos fechados com nossos amigos. Gustavo e eu cruzamos olhares e ele sorriu. Depois voltou toda sua atenção para a mulher ao seu lado, que jogava o cabelo de um lado para o outro. Senti meu rosto aquecendo de raiva e virei minha taça, pegando outra quando o garçom passava por nós.

Thomaz teve que voltar para perto dos empresários estrangeiros e eu continuei bebendo, enquanto olhava para Gustavo. Ele continuava com o mesmo drinque a noite toda, os olhos fixos em mim enquanto falava no ouvido da loira. Eu já estava de cara fechada e dançava lascivamente com Mariana. Rebolávamos e jogamos os cabelos para cima, de olhos fechados. Vezes ou outras, abria para encontrar Gustavo me encarando. Não sabia quanto mais podia suportar aquela situação. Deixei Marianinha dançando com os amigos e fui para o sofá do outro lado onde Anna e Luca estavam se beijando de uma forma obscena e eu me joguei no meio deles:

_ Isso é uma boate! Se quiserem prevaricar, vão pra um quarto!

_ Prevaricar, Valentina? _ Luca gargalhava. _ Minha vovó falava isso!

_ "Minha vovó"! _ sorri fazendo biquinho para Anna que não se aguentava na risada. _ Teu namorado é muito fofo!

_ Ah, vai se foder! _ arregalamos os olhos e caímos na gargalhada com o palavreado do "bom moço Luca". Ele nos puxou para dançar e vi quando Marianinha se afastava para ir ao banheiro, passou pelo bar e Gustavo lhe seguiu com os olhos. Continuei dançando com os olhos atentos ao outro lado e depois de cinco minutos vi minha amiga voltando e parando no bar, falou com o barman e depois de pegar o seu drink, se deu conta de Gustavo. Ele e Marianinha se encararam e ensaiaram um cumprimento, Thomaz se aproximou e começou a conversar com minha amiga. Olhei para Gustavo que me encarava. Merda!

Não demorou muito para que todos estivessem completamente bêbados e cansados! Mais um pouco e entraríamos em coma alcoólico. Sério! Fazia tempo que eu não chutava o balde desse jeito mas poxa... Eu estava tensa. No mesmo ambiente que minha amiga e meu... meu o quê? Meu sexo casual? Não! Nem isso ele era! Era ex dela? Ah, sei lá... a verdade é que eu rezava para ele não falar comigo e acho que os céus atenderam minhas preces porque Gustavo estava se divertindo cada vez mais com a loirinha. Acompanhei com o olhar quando saíram da área VIP e desceram para a pista de dança. Gustavo me lançou um olhar da escada e colocou a mão nas costas da mulher enquanto lhe falava algo no ouvido. Como eu queria que fosse eu... Merda! Claro que não queria! Não queria que fosse eu a sentir o hálito de Gustavo em meu pescoço, seguido de sua língua passeando por minha pele. Não, eu definitivamente não o queria percorrendo o caminho entre o vale dos meus seios, descendo até o umbigo, enquanto suas mãos apertavam minha carne com propriedade. Não estava ansiando por seus lábios sugando minha boca com fome, como meus seios e meu sexo pulsante. E lógico que eu não queria sentir seu pau meu alargando e crescendo enquanto se esfregava nas minhas paredes molhadas até me fazer perder a voz de tanto gritar... fiquei tonta e tive que parar alguns segundos.

Encostei, sutilmente, na grade da varanda buscando apoio e vi Gustavo na pista de dança com a mulher se esfregando a sua frente enquanto ele lhe segurava pelo quadril. Mal vi quando Marianinha se aproximou avisando que iria embora com Anna e Luca, que me ofereceram carona mas eu recusei, avisando que pegaria uma carona com Thomaz. Assim que o encontrasse, é claro.

Vi quando meus amigos desceram e atravessaram a pista lotada, passando por Gustavo que seguia Marianinha com o olhar até a loira o puxar para um beijo, surpreendentemente, escandaloso. Putz! Não aguentei assistir aquilo e trôpega, fui atrás de Thomaz para ir embora. Se ele não pudesse me levar, pegaria um táxi. Tropeçando e esbarrando em todos, fui mal e tortamente ao bar mas Thomaz não estava por ali, fui até o banheiro masculino e gritei seu nome, assustando os homens que me encaravam surpresos. Ninguém respondeu e eu desci para a pista, tentando andar entre aquele mar de gente. Por um lado, se não estivesse tão cheia com certeza já teria caído porque estava me apoiando nas pessoas enquanto caminhava. Ali embaixo seria impossível encontrar Thomaz, então fui em direção a saída.

A porta da boate estava lotada de gente, entreguei meu cartão para a hostess e fui para a calçada tentar chamar um táxi, inutilmente. Todos que passavam estavam lotados e os que paravam, eu não conseguia entrar já que estava tão lenta que sempre entravam na minha frente. Resolvi andar um pouco até a outra esquina, talvez conseguisse pegar um táxi por ali antes que chegassem à boate. Andava apoiando a mão na parede enquanto tentava manter um pé a frente do outro, meus olhos estavam tão pesados e a imagem do Gustavo com aquela mulher não ajudava meu estado. Definitivamente estava muito bêbada. A música da boate ainda era constante mas um pouco mais baixa e distante, a rua ficava um pouco mais vazia e antes de virar a esquina, vi um casalzinho se atracando no portão de uma loja. Ai, ai, que inveja...

Virei a rua que estava deserta, nem carro estava passando mas resolvi ficar ali para esperar e o primeiro táxi que viesse, eu me jogaria na frente. Só queria ir para casa, pensei em ligar para o Robson mas lembrei que o havia dispensado então ele já devia estar dormindo. Suspirei e puxei meus cabelos para enrolar num coque alto. Fui puxada pelo braço e soltei um grito, assustada.

_ Por que você tá aqui, sozinha? _ eu não sabia se me sentia aliviada ou acuada com Gustavo me olhando, irritado.

_ Vim pegar um táxi... A boate não... _minha fala saia um pouco arrastada. _ Não para táxi vazio lá, poxa... naquela merda! E eu vim buscar táxi vazio... vazio, aqui...

_ Você tá muito bêbada.

_ Saiiii! Não é problema seu... _soltei meu braço num puxão e me desequilibrei, quase caindo. Gustavo segurou meu cotovelo mas eu continuei um desabafo. _ Seu problema é aquela loira, aquela gringa... _ disse imitando um sotaque qualquer enquanto comecei a gargalhar. Parece que ele não achava graça porque ainda estava sério. _ Tá sério por quê?

_ Vem! _ fui puxada e quase fui de cara ao chão mas Gustavo passou a mão pela minha cintura.

_ Onde? Meu táxi, Gustavo... _ ele não respondia e eu me sentia uma boneca de pano sendo carregada. Gustavo estava fazendo o caminho de volta em direção a boate e quando viramos a esquina, ele abriu a porta do carona de seu carro me colocando sentada. Tentei protestar mas ele já tinha colocado o cinto e dava a volta, sentando ao volante e dando partida.

Não sei bem quando foi ,só sei que adormeci. Melhor do que vomitar, né? Sentia braços me segurando e um barulho de chave mas não conseguia abrir os olhos. Um calor gostoso me embalava, um cheiro bom onde eu enterrava meu rosto então me deixei levar por aquele sono.

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