Capítulo 06 - Labirinto

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Coloquei o despertador na primeira hora da manhã e fui buscar meu carro. Não entendo o porquê de tanta burocracia, viu? Só agravou meu humor o restante do dia e fui uma bela megera exigente em todas as minhas aulas. Só faltava eu pegar o bastão na aula de baby classes para dar nas pernas das aluninhas que saiam do engatinhar e aprendiam a andar. Marianinha percebendo meu estado de espírito, preferiu não interagir muito e enfiou a cara nos livros, falando comigo só quando cheguei e quando fui embora.

Cheguei em casa e encontrei tudo de pernas pro ar! Uma equipe de cabelo, maquiagem e manicure/pedicure, andavam de um lado a outro, várias araras de roupas espalhadas pela sala... Ai, a festa de hoje! Estava com paciência zero para me arrumar e participar desse circo. Vi minha mãe descendo as escadas com bobs nos cabelos, vestindo um roupão branco e segurando uma taça de champagne. Algumas pessoas a seguiam segurando secador, escova e pincéis de maquiagem. Contrastava comigo que estava suada, vestindo um macacão justo de lycra preta e com os cachos soltos e desgrenhados, ao redor da cara.

_ Até que enfim você chegou! _ ela estalou um beijo na minha bochecha e me ofereceu a sua taça que virei num gole só.

_ E aí, minha diva? Muito trabalho pra ficar bonita? _brinquei

_ Não, só alguns retoques no que a natureza já fez com perfeição! _ mamãe era tão convencida quanto linda. E eu não podia discordar, aquela pele lisa cor de mel que eu tinha herdado era firme e invejada por tanta gente. Minha mãe não escondia a idade de ninguém e sabia envelhecer com sabedoria. Seus cabelos, que no início da carreira balançavam até o quadril, agora emolduravam seu rosto num corte moderno e ondulado, na altura dos ombros. Aqueles olhos de um extremo esverdeado encantavam qualquer um... tanto que meu pai não resistiu. Ai, meu querido pai, tão paciente, descia atrás da minha mãe, só de bermuda e camisa, mexendo no tablet. Esse sim era que nem vinho: mais velho e melhor! Papai era branco e seus cabelos castanhos escuros, agora, estavam levemente cobertos por fios grisalhos. Era muito alto e de porte largo, corria todos os dias na praia e aquele sorriso... aquele sorriso lhe rendeu quatro prêmios consecutivos de melhor ator. Embora eu ache que a categoria deveria ser nomeada "melhor galã". Mas papai sempre dizia: "A beleza pode fazer atenderem a porta mas só algo mais interessante que isso, pode mantê-la aberta". _ Tem uns vestidos pra você, aqui, nessa arara.

_ Mãe...

_ Você vai. _ ela nem me deixou começar a reclamar. Simplesmente pegou uma garrafa de champagne de dentro de uma balde com gelo e voltou para seu quarto, seguida da equipe de beleza. Meu pai suspirou e foi para a varanda porque para ele era muito mais fácil: se enfiaria num terno meia hora antes de sairmos e colocaria um pouco de perfume.

Dei uma olhada na arara de roupas e não achei nada de interessante. Subi e fui direito para o chuveiro. Lavei e sequei os cabelos, fiz uma maquiagem leve nos olhos, esfumaçando levemente e um batom bordô na boca. Como não havia escolhido nada da arara do estilista da mamãe porque eu tinha mais roupas de festas do que o necessário, busquei um vestido que adorava e ainda não tinha tido oportunidade de usar: era de uma seda macia e vermelha, frente única de gola alta, deixava as costas nuas e uma fenda se abria até a coxa esquerda. Puxei os cabelos num rabo de cavalo alto e trancei meus cachos. Um bracelete de ouro fazendo conjunto com brincos discretos e sandálias da mesma cor. Estou pronta!

Quando descemos, Robson já nos esperava ao lado do carro para nos levar até a festa. Olhar para ele, agora, era tão constrangedor. Já vi as partes íntimas do cara, pô! Fiquei lhe encarando tanto tempo dos pés a cabeça quando ele abriu a porta do carro para que eu entrasse, que ele mesmo acabou se olhando para ver se havia algo de errado. Num estalo, acordei, agradeci e entrei.

Doce Vingança, livro 01Where stories live. Discover now