Capítulo 2 - Inesperado

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Acordei muito pior do que quando tinha ido dormir. Não me importava de ser usada, desde que fosse recíproco! Eu nunca me iludi e sempre fui madura em relação a sexo e pessoas. Faço sexo desde os dezesseis anos. Muitos foram meus professores e coreógrafos. Meu tempo na Rússia foi estendido, inclusive, por conta do meu envolvimento com o diretor da escola. Ele queria me manter por lá mas não tenho vocação para amante. E nem para ser mantida. É, ele era rico. Mas rica eu também sou, então... nunca foi algo que controlei, eu não tinha uma vida social além das paredes das salas de ensaio, convivia com os bailarinos (ou muitos gays ou muito mais novos) e esses homens com idade pra ser meu pai. Mas nunca me iludi ou desenvolvi um sentimento que não fosse carnal, nada além de suprir uma necessidade física e aliviar a pressão. Nunca me apaixonei de verdade. A dança sempre cobrou tudo de mim. Vou mentir se disser que nunca senti falta de alguém mas... Então voltando para o Brasil, eis que reencontro Thomaz na festa de aniversário do meu pai. Tínhamos estudado juntos na escola mas eu era magricela e ele era bonito demais para me notar.

_ Valentina? _ minha Bá bateu na porta do quarto e eu gemi. Ela entrou e até hoje eu não entendo porque que ela bate... ela entra de qualquer jeito. _ Você tem que tomar café, levanta! _ ela abria as cortinas e puxava minhas cobertas.

_ Bá! _ sentei num salto e dei um tapa no colchão, irritada.

_ Você fica o dia inteiro dançando e não come, pensa que não sei? Pelo menos o que eu puder fazer você engolir, você vai! Levanta, anda! _ ela saiu mas deixou a porta aberta e quando eu estava voltando a deitar, escutei seu grito vindo do corredor: _ E seu eu precisar voltar, vai ser com o balde d'água!

Levantei e bati o pé corredor afora, desci as escadas e o dia estava ensolarado, mas não me sentia nem um pouco animada. A mesa estava posta, mas os lugares dos meus pais já estavam desfeitos e com restos de farelos e frutas nos pratos. Sentei e tomei meu achocolatado. A Bá colocou um sanduíche de queijo branco com banana e canela na minha frente e antes dela sair, segurei sua mão e beijei. Minha Bazinha... Não seria nada sem seus cuidados.

_ Sr. Thomaz ligou hoje de manhã. _ agora me dava um pedaço de mamão e sentava de frente para mim.

_ Sr. Thomaz? Você conhece ele desde que vinha fazer trabalho de escola, aqui. _ ela entortou a boca. _ Eu vi isso, hein! Você tem que parar com essa implicância com ele.

_ Por quê? Voltaram a namorar?

_ Deus me livre! _ fiz sinal da cruz e ele suspirou de alívio.

_ Ele não é pra você.

_ Você acha que ninguém é pra mim... Você acha que eu sou uma linda bailarina que precisa ser conquistada por um soldado de chumbo!

_ Você zomba porque não vê o que eu vejo. _ ela se servia de café. Ô mulher de classe. Os trejeitos da Bá eram tão elegantes. Ela tinha sido abandonada pelo marido com a filha pequena, um advogado que prestava serviços aos meus pais e outros atores da mesma companhia teatral, da época. Meus pais, assim como os outros artistas, perderam uma bela quantia para o safado. Minha Bá não tinha como sobreviver e nem sustentar a filha então minha mãe lhe ofereceu um emprego de governanta.

_ E o que você vê? _ suspirei abocanhando meu último pedaço de mamão e levantando.

_ Uma cabeça dura de coração mole. Teu soldado vai ter que perder muita batalha pra ganhar essa guerra.

Doce Vingança, livro 01Where stories live. Discover now