Doce Vingança, livro 01

By PriscilaMariaLima

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*OBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL, OBRA REGISTRADA EM CARTÓRIO* Gustavo é acostumado a ter as coisas do... More

Apresentação e esclarecimentos
Capítulo 1 - parte 1
Capítulo 1- parte 2
Capítulo 2 - Inesperado
Capítulo 3 - Dois pra lá dois pra cá.
Capítulo 04 - (não) me toque!
Capítulo 05 (parte 01)
Capítulo 05 (parte02)
Capítulo 06 - Labirinto
Capítulo 08
Capítulo 08 (parte 02)
Capítulo 08 (parte 03)
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15 (parte 01)
Capítulo 15 (parte 02)
Capítulo 15 (parte 03)
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19 (parte 01)
Capítulo 19 (parte 02)
Capítulo 19 (parte 03)
Capítulo 19 (parte 04)
Página!
Capa
Aviso sobre a publicação
Capítulo 38 - Final
Doce Surpresa saiu do forno!
Doces contos pra esquentar!
Livro 02!

Capítulo 07 - Doce Despedida

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By PriscilaMariaLima


Acordei, mais cedo do que tinha planejado, com a boca muito seca e levantei para beber água. Meu domingo costumava ser preguiçoso e eu havia perdido o sono. Estava cansada e com uma leve ressaca. Nem me dei ao trabalho de tirar minha calça de pijama e blusão do Maroon5 . Provavelmente, passaria o dia vestida desse jeito. Fui até a cozinha e peguei uma laranja da fruteira, descasquei e comecei a chupar quando escutei uma risadinha vindo da lavanderia. Olhei pela divisória da cozinha e vi Gina em cima de um banco estendendo roupa no varal com Robson enfiando a mão debaixo da saia de seu uniforme.

_ Robson... para, vai... _ela dizia entre gemidos enquanto se contorcia. _ Alguém pode pegar a gente.

_ Só um pouquinho. Só um beijinho e eu paro. _ eu não esperava o que estava por vir: o beijinho não era só um beijinho. Robson levantou a saia de Gina, puxou sua calcinha para o lado, abriu sua boceta com o indicador e o polegar expondo sua entrada, toda molhada e lhe deu uma bela chupada, enfiando a língua. Uau! Ao mesmo tempo, eu abocanhava minha fruta.

Aquilo era demais para minha sanidade... logo pela manhã? Virei e fui para a sala onde encontrei a Bá chegando da feira.

_ Caiu da cama?

_ Não... eu só... só...

_ Só o quê, menina? Ficou gaga? _ ri e nesse momento Gina entrou com as travessas de pães e geleias para pôr a mesa, nos dando um sorriso. Robson passou por nós logo em seguida, nos cumprimentando e avisando que estaria na garagem caso precisassem dele. Vi quando as bochechas de Gina ficaram vermelhas e ela baixou o olhar. Bá nem reparou e seguiu para a cozinha nos deixando sozinhas. _ Toma seu café e depois vai tirar esse... esse pijama.

_ Você e o Robson são namorados? _ sentei, pegando um paõzinho e Gina arregalou os olhos e a boca sem conseguir me responder. _ Não é um interrogatório e você não precisa me responder se você não quiser.

_ Ele e eu... é... sim, ele me pediu em namoro. _ ela suspirou e eu sorri. _ Como você sabe?

_ Eu vi... _travei. O que eu ia falar? Que vi os dois fodendo na garagem e há poucos minutos quando ele lhe deu uma "senhora chupada" enquanto ela estendia roupa? _ ...uma conexão entre vocês, acho. Isso acontece quando duas pessoas se apaixonam, né?

_ Acho que sim. _ela tinha uma expressão sonhadora. _ Ele é bom pra mim. Ele me trata bem.

_ Eu não imagino alguém que possa te tratar mal, Gina. _ ela era uma coisinha minúscula e angelical. Parecia um bibelô de voz calma. Vi quando seu olhar foi se transfigurando numa dor triste. _ Que foi?

_ É que nem todo mundo é tão bom... Principalmente os homens.

_ Hum... entendo. Você já sofreu por amor, é? _ agora ela se encostava ao batente da porta enquanto eu bebia meu café e pegava mais um pão.

_ Já.

_ Mas agora você tá feliz, né? _ ela hesitou em me responder e eu afastei uma cadeira indicando para que ela sentasse ao meu lado.

_ O Robson precisa de alguém melhor. Ele é um homem muito bom. _ ela disse de cabeça baixa depois de se sentar. Eu continuei calada e comendo, esperando que ela continuasse. _ Eu tô tentando ser melhor, também. Desde que comecei a trabalhar aqui, eu pude voltar a estudar e tô quase terminando o ensino médio. _sorri com os planos dela. Ela não era apenas bonita, dava para ver que tinha bom coração e era esforçada.

_ E depois? Você pensa em fazer o quê?

_ Um cursinho de corte e costura. Eu sempre costurei lá no bairro mas não podia fazer o curso porque tudo era pra ajudar lá em casa.

_ Sabe que eu tenho uma amiga igual a você? A Mariana que vem sempre aqui, lembra dela? _ Gina assentiu. _ Depois que ela perdeu o pai teve que se virar porque ela era filha única. Ele a criou como uma princesa e ela só estudava. Ela não desistiu dos sonhos e de tudo que o pai dela deu pra ela; pra terminar a faculdade ela conseguiu uma bolsa estagiando e pra manter livros, xerox, essas coisas que precisam ser pagas, ela trabalha lá no estúdio. Ela vai se formar, agora. Eu morro de orgulho dela! _ e era verdade. Pessoas como Gina e Mariana nos ensinam demais e merecem o melhor da vida. _ Você já namorou? Antes do Robson?

_ Claro que já. Só minha cara é de santa. _ ela riu. Ah, se ela soubesse que eu estava bem ciente daquilo. _ É um dos motivos de só agora poder fazer o que sempre quis. _ ela engoliu em seco e vi lágrimas nos seus olhos. Ela respirou fundo mas não chorou. _ Meu último namorado... ele não era muito paciente...

Aquela revelação me chocou. E eu entendi sem precisar de muitas palavras. Senti um nó na garganta e uma raiva imensa. Segurei sua mão, solidária, e vi um olhar de vergonha.

_ Gina, você não tem culpa. O Robson sabe?

_ Sabe. _ ela segurava forte a minha mão. _ Meu ex mora perto da minha casa e eu tenho medo de encontrar com ele. E se acontecer alguma coisa, eu não quero que o Robson se aborreça ou tome partido, sabe.

_ É claro que ele vai tomar partido! Ele é apaixonado por você, Gina!

_ Ele é, né? _ e vi a expressão sonhadora voltar ao seu olhar. _ Ele quer casar comigo.

_ Ele disse isso? _ gargalhei. Estávamos ali sentadas, trocando confidências como amigas de infância. Gina trabalhava há pouco tempo lá em casa mas parecia que nos conhecíamos desde sempre. São personalidades que se complementam, se unificam. Ficamos conversando por um tempo até meus pais acordarem e descerem, Gina pediu licença para voltar à cozinha. _ Dormiram bem?

_ Quem disse que dormimos? _ minha mãe sentava, altiva, vestindo seu penhoar branco com plumas nos punhos. Tão diferente do meu pai que usava apenas um pijama de calças e mangas compridas.

_ Ai, mãe... promíscua! Jezebel!

_ Como você acha que nasceu? Geração espontânea? Você foi concebida em dia de estreia, no camarim...

_ Mãe... por favor, eu acabei de tomar meu café... _gemi deitando minha cabeça entre os braços apoiados na mesa. Meu pai sorria afagando meus cabelos. _ Não quero saber da noite selvagem de vocês. Por favor...

_ Não sei quando você se tornou tão careta! _ olhei incrédula para minha mãe que descascava uma banana. Ah, merda... uma banana, não! _ Você precisa de um namorado. _ ela apontava um dedo na minha direção.

_ Ela não precisa de um namorado. _ meu pai saía em minha defesa.

_ E você, _ ela agora apontava para ele. _ precisa cortar o cordão umbilical. Essa menina já foi até pra Rússia. E você e Thomaz, ontem? _ agachei a cabeça mais um vez me recusando a responder. _Ok, entendi... Thomaz é um engomadinho. _ olhei rindo para minha mãe, junto com meu pai. _ E aquele filhote de deus grego? Ele ficou olhando pra você. Não me olha assim, Celso! O César não chega aos seus pés, meu galã... _ela soltava um beijo no ar para meu pai enquanto eu pensava em como responder aquela pergunta de maneira indiferente. Falar de Gustavo depois do que tinha acontecido ontem, depois daquele momento de intimidade, depois de ter gozado com as mãos dele em mim, era insuportável. Eu senti um formigamento na parte interna da coxa e já sabia que precisava trocar a calcinha.

_ Quem? _bebi um gole d'água tentando adiar mais um pouco o que dizer.

_ O Gustavo! Filho do César e um dos sócios do Thomaz, Otávio e Regina. Você sabia que foi ele que desenhou aquele hotel? _ minha mãe parecia muito bem informada enquanto meu pai apenas lia seu jornal pelo tablet.

_ Ele quem? Que hotel?

_ Filha, acompanha! _minha mãe estalava os dedos como se quisesse me despertar. _ O Gustavo, filho de César e sócio da empresa Brandollini e Alencar, desenhou o hotel que aconteceu a festa, ontem.

_ Sério? _ eu realmente estava surpresa! Aquele lugar era magnífico e só alguém de uma sensibilidade e visão ampla, conseguiria desempenhar algo tão grandioso. E eu sabia muito bem o milagre que ele conseguia fazer com aquelas mãos... Merda! Merda! Caralho... Precisava apagar aquela lembrança, empurrar para algum canto indiferente da minha memória.

Depois do almoço recebi uma mensagem de Anna:

"Noite da Sula! Cê anima?"

Respondi em seguida:

"Claro! Que horas?"

Anna enviou outra mensagem com o horário e antes de seguir para o hospital, jantei com meus pais, tomei banho e coloquei uma regata branca e saia jeans, com sandálias baixas. Avisei que estava indo ver Sula e não sabia que horas voltava.

Passei na casa de Anna que desceu com uma cesta de piquenique e colocou no banco de trás do carro. Ela sempre estava linda com seus cachinhos no queixo e um vestido longo e sem mangas, de renda verde. Essa beleza vinha de uma força e vontade de viver, emergia todos os dias quando ela acordava e agradecia por receber mais uma vez tudo que ela tinha aprendido a amar e querer. Descobrir que sobreviveu a um câncer, de uma hora para outra, não é para qualquer um.

Anna era apaixonada e apaixonante, não percebia o quanto cativava sempre que explorava afetos em cada um, sempre que se deixava conhecer e gostar. Ela experimentava cada coisa com uma curiosidade de recém-nascido. Ela me deu um beijinho no rosto e sorriu, antes d'eu dar partida.

Fomos o caminho inteiro conversando amenidades e quando chegamos, Luca estava na sala de espera do hospital, com Victor. Ele me abraçou e seguiu para Anna lhe abraçando enquanto beijava. Senti uma pontinha de inveja daquele momento entre os dois. Ultimamente eu andava assim, querendo alguém que me olhasse de um jeito que eu me sentisse gostada, desejada mas não só como mulher. Queria se desejada como pessoa, ser admirada. Mas depois caí em mim analisando se, de fato, eu tinha algo relevante para fazer alguém admirar a ponto de se apaixonar e eu corresponder. Era tão difícil ficar satisfeita. Eu nunca criei expectativas em cima de outra pessoa, talvez porque sempre via a frustração de quem criava expectativas em cima de mim.

Quando chegamos à porta do quarto de Sula, vimos que estava de olhos fechados. Ela parecia tranquila e menor, naquela cama enorme, coberta com uma manta roxa aveludada. Ela respirava com calma. Será que teria tomado algum remédio para dormir? Anna se aproximou e passou a mão em seu rostinho magro e pálido, chamando seu nome bem baixinho. Sula sorriu antes de abrir os olhos e quando olhou em volta e nos viu, seu sorriso se alargou mais ainda.

_ Pronta pra uma aventura? _ o quarto ainda estava escuro, iluminado apenas pela luz do corredor que desenhava uma trilha da porta até o pé da cama. Anna beijou a cabecinha careca de Sula e lhe passou um pouquinho de batom. Luca a pegou no colo e lhe colocou na sua cadeira de rodas. Peguei um lenço de seda com estampa de girassol, numa bolsa que estava na poltrona ao lado da mesa de cabeceira e amarrei em sua cabeça. _Vamos ver o que temos na lista. _ Anna tirava uma lanterna da cesta e desdobrava um papel. _ Você vai adorar isso, aqui!

Anna e Victor andavam na frente para certificar que não encontraríamos ninguém pelos corredores enquanto eu empurrava Sula e Luca carregava a cesta de piquenique.

Atravessamos o jardim do hospital que centralizava e dividia as áreas de oncologia e pediatria. Éramos iluminados pela luz da lua que atravessava por pequenas frestas entre as árvores. O jardim era cercado por varandas pouco iluminadas que tinham seus mosaicos refletidos no piso de ladrilhos que pisávamos. Algumas cercas de ferro protegiam as margaridas e casinhas coloridas que serviam de bebedouro aos passarinhos. Precisamos ter o dobro de cuidado com a cadeira de Sula ao atravessar: para que ela não caísse e para que não fizéssemos barulho. Entramos por um corredor estreito entre um muro de tijolinhos e a parede do prédio. Estava repleto de caixas de papelão que Anna jogava para frente, tentando abrir caminho. Chegamos até um portão duplo de ferro que estava trancado por dentro e vi Anna subindo numa caixa de registros para entrar por uma janela que só alguém com o porte dela ou uma das crianças poderia passar. Com certeza eu ficaria presa pela bunda.

Vimos seus pés sumindo, por último, e depois de dois minutos escutamos um" clic" ,para Anna nos abrindo o portão com um sorriso de criança que recebe doce de São Cosme e Damião. Entramos e ela voltou a trancar a porta nos mandando seguir reto e virar, ao fim do corredor. Passamos por salas com grandes janelas que pareciam aquários e descemos uma rampa, com tudo ainda muito escuro, o caminho sendo iluminado pela luz que entrava pelos basculantes quando, de repente, lâmpadas fluorescentes piscaram sobre nós.

Era uma ala como todas as outras do hospital mas deserta, com algumas macas e cadeiras espalhadas. As portas que estavam abertas eram consultórios que só abrigavam cadeiras e biombos.

_ Essa ala está desativada. _ Anna nos explicou enquanto fechava a caixa de força ao lado de um extintor de incêndios. _ Quando eu "morava" aqui, sempre que as enfermeiras dormiam a gente saía escondida pra cá pra... _ ela olhou sorrindo para Sula que completava:

_ Apostar corrida na cadeira de rodas! _ Sula gargalhava, exultante!

Depois de explicadas as regras, cada um pegou uma cadeira de rodas e depois de passar um pano para tirar poeira, se posicionou numa das pontas do corredor. Anna contaria até três e precisávamos chegar até o outro lado e voltar. Claro que Sula e Luca saíram bem antes de terminar a contagem sob protestos e uivos. Quando chegou à outra ponta do corredor e virou para voltar, Luca encontrou Anna parada com a cadeira a sua frente impedindo a passagem. Eu me enrolei toda para virar e voltar, acabei segurando na cadeira de Victor e Sula. Estávamos todos num transito da índia e gargalhamos sem saber como sair dali. Sula, que era a que melhor sabia manusear uma cadeira de rodas, girou empurrando para frente e para trás, seguindo para a ponta inicial do corredor. Quando a vimos saindo, corremos de volta mas ela já havia chegado!

_ Sula, sua ladrinha! _ eu estava suada e cansada de tanto ir.

_ Você sabe de sapatilhas e eu sei de cadeira de rodas. _ ela piscava para mim. Brincamos de pique-esconde, mas é claro que Sula sempre roubava! Usamos um dos biombos e a lanterna para fazermos desenhos com as sombras das mãos: vimos surgindo uma aranha que virava uma pomba, um cachorro que se transformava numa estrela do mar e quando acharam que não estávamos olhando porque nos ocupávamos em ajeitar as coisas para subirmos ao telhado, Victor e Sula deram um inocente e casto beijo. Vimos as sombras daquelas duas figurinhas se aproximando e trocando o mais belo presente que podiam dar um ao outro.

Seguimos para o telhado do prédio, onde Anna tirou duas caixinhas de som da cesta e conectou no seu celular. Ela e Luca começaram a dançar nos mostrando a coreografia que estavam ensaiando. A todo o momento paravam porque Anna pisava no pé do seu namorado ou ele lhe dava um beijo sempre que rodopiavam. A noite estava linda, fresca e as estrelas faziam desenhos no céu. Dali de cima podíamos ver o topo das árvores do jardim do hospital que pareciam bolas de sorvete.

Estendi a toalha e coloquei os sanduíches e frutas junto com uma garrafa de suco em cima, sentei e fiquei olhando os quatro gargalhando. Depois de um tempo, Anna desistiu e foi se sentar ao meu lado se apoiando nos cotovelos. Ficamos observando Luca dançando com Sula e Victor.

_ Ela é muito feliz, né? _ sorri, admirando Sula.

_ Apesar de tudo, ela é. _ Anna virou a cabeça para me olhar. _ E o que você tem? Por que tá assim? _ franzi as sobrancelhas tentando entender a pergunta. _ Tá contemplativa, mais quieta...

_ Deve ser falta de sexo. _ suspirei e ela soltou uma gargalhada. Eu não podia falar que sentia inveja do namoro dos meus amigos. E aquela noite se tratava de alegria e sorrisos. Não de desabafo e lamentações. _ É sério. E quando me falta, encontro gente transando por toda parte.

_ Como é que é? _ ela arregalou os olhos.

_ Isso mesmo que eu falei. Hoje vi a copeira sendo chupada pelo motorista, na área de serviço. _ Anna abriu a boca num "o" e eu acabei contando do dia da garagem e da festa do dia anterior. Deixando a parte do Gustavo de fora, é claro.

Por que fui lembrar disso? Agora não conseguia parar de pensar no que tinha acontecido, fiquei distraída o resto da noite e por várias vezes atendia sempre quando me chamavam mais de uma vez.

Já era muito tarde, quase meia noite, quando nos esgueiramos de volta para o quarto de Sula. Estava tudo muito silencioso, apenas o barulho da televisão na recepção, ecoava. Anna passaria a noite no hospital e eu deixaria Luca e Victor em casa. Já tínhamos telefonado para a mãe do garoto. Antes de irmos, fui dar um abraço gostoso na minha amiguinha que já estava deitada.

_ Você merece ser feliz que nem você me faz. _ ela disse passando a mão no meu rosto e eu beijei sua palma. Vi em seus olhos que ela sabia que eu não estava completa e me senti um lixo naquele momento, por arriscar estragar sua noite. Sula merecia tudo por inteiro.

Depois de deixar Luca e Victor, cheguei em casa por volta de uma hora e estava tudo escuro. Todos já deviam estar dormindo e entrei no meu quarto. Fui tirando a roupa fazendo uma trilha até o banheiro. Tomei um banho rápido e me enfiei num pijama de calça e mangas compridas. Não sei quando adormeci mas sei que foi rápido.

Escutei uma batida na porta e não respondi. Mais uma batida e a voz da minha mãe chamando meu nome enquanto abria a porta do meu quarto. Olhei no relógio e eram cinco e cinquenta da manhã. Ela entrou séria seguida por meu pai e pela Bá. Meus olhos ainda tinham dificuldade de abrir quando liguei o abajur. Todos estavam me olhando com receio e eu comecei a ficar preocupada. Já estava sentada no meio da cama e os três ainda me olhavam, calados.

_ O que aconteceu? _ minha voz saiu rouca e pastosa. Tossi enquanto olhava de um para o outro.

_ É... minha filha, Valentina... _ minha mãe suspirou e passou a mão pelos cabelos. Eu já estava engasgada antes de saber o que estava acontecendo. Continuei olhando apreensiva e queria gritar e sacudir para que me falassem porque estavam daquele jeito, mas minha garganta estava fechada. Vendo o desespero no meu olhar, minha mãe tomou coragem. _ A mãe da Anna ligou do hospital. A Sula... A Sula se foi, minha filha.

"A Sula se foi... A Sula se foi... A Sula se foi... A Sula se foi... A Sula se foi...", era tudo que eu conseguia assimilar. Eu não sei quando comecei a soluçar, não sei quando as lágrimas começaram a escorrer e mal conseguia escutar o que falavam para mim. Nem senti o abraço do meu pai, o afago da Bá ou minha mãe segurando meu rosto entre as mãos. Não sei quando tudo começou a desmoronar dentro de mim. Não sei quando o ar começou a me faltar dentro do pranto. Tudo parou no momento que um pedaço meu arrebentou, que eu tinha sido desmembrada porque eu escutei que "A Sula se foi...".

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