Acordei pouco depois de meio dia com a luz do sol fazendo uma trilha da fresta da cortina até meu rosto. Pulei da cama e me arrastei até o banheiro, onde tomei uma ducha fria. Coloquei um vestido de algodão branco tomara-que-caia e desci. Escutei música e risadas do lado de fora e encontrei meus pais deitados nas espreguiçadeiras da varanda. Minha mãe estava de maiô, roupão , um chapéu que parecia uma barraca e tomava uma caipirinha; meu pai estava de sunga, camisa polo amarela, óculos escuros e bebia uma cerveja.
Olhei para frente e decididamente eu nunca me cansaria daquela vista: o mar se estendendo. Ver extensão do azul onde a água se encontra com o céu, era para se sentir abençoada todos os dias. A varanda aqui do primeiro andar da cobertura rodeava todo apartamento. Acho que nos mudamos para cá quando eu tinha uns quatro anos de idade. Lembro de antes morarmos numa casa e minha mãe não querer me criar presa em um apartamento, mas gostaria muito de me criar na segurança de um. Por isso escolheram essa cobertura que é quatro vezes maior que a casa que morávamos! Peguei uma florzinha de um dos vasos de plantas que minha mãe tinha espalhados por ali e lhe ofereci.
_ Bom dia. _ peguei os óculos escuros da minha mãe na mesinha e coloquei.
_ E olha nossa bela adormecida! Pensei que tinha entrado em coma... _ minha mãe me puxava para sentar entre suas pernas e pegava o protetor solar para passar nas minhas costas.
_ Aprendi com vocês que artista acorda tarde... _minha voz ainda saia grossa e rouca de sono. Peguei um pãozinho tostado que meu pai me oferecia. _ Como foi o aniversário da Lucinha Garrido?
_ Sorrisos, fotos, glamour e puxa-sacos... _ meu pai revirava os olhos. Ele detestava festa de lançamento de novela, coletiva de estreia de peça teatral e tudo que envolvesse a mídia. Minha mãe era um pouco mais paciente e marketeira. Sabia do sucesso que faziam como casal e se aproveitava disso. Não que não se amassem, mas eles vendiam muito bem juntos. Os dois foram o conto de fadas que deu certo. Ah, se soubessem como brigavam por serem tão geniosos. Artistas, né? _ E você? Como foi sua festa junina?
_ Maravilhosa!
_ Hum... Por quê?
_ Não, mãe, não é pelo que você tá pensando. Meus amigos são maravilhosos, só isso.
_ Sei... _ agora ela passava protetor no meu rosto. _ Hoje tem o luau da Beth Nieri.
_ Ah, não... _ meu pai e eu falamos, juntos.
_ Ah, sim... Não estamos em condições de rejeitar convites.
_ Meu amor... estamos em condições de nos aposentar...
_ Nem brinca com isso! _ minha mãe detestava quando meu pai tocava nesse assunto. Ela disse que um artista nunca se aposenta. Assim como nunca dorme, nunca adoece, nunca se cansa!
Passamos o dia ao ar livre e ao final da noite resolvemos não jantar. Quer dizer, minha mãe resolveu não comer e meu pai e eu acabamos ficando, também, sem jantar...
Chegamos ao hotel onde aconteceria o luau. O restaurante, onde o buffet era servido, abria diretamente a uma parte reservada da praia onde estavam instaladas tendas douradas com sofás e puffs . Ao lado do bar, um palco com orquestra. O que eu não entendi muito bem: luau com orquestra?
Muitos garçons musculosos circulavam de calça de linho branca e sem camisa, com um colar de flores coloridas. Todos os convidados estavam muito à vontade com suas roupas brancas e descalços. O bar montado do lado de fora era a réplica de um bangalô e acima das prateleiras de bebidas estava pendurada uma prancha pichada: "ALOHA!". Os barmen usavam os mesmos trajes que os garçons e as barwomen usavam biquínis dourados com colares de flores brancas. Tudo exalava glamour e sensualidade.
No convite havia destacado que era traje branco. Quase não troquei de roupa mas minha mãe me obrigou e optei por um macacão branco frente única e os cabelos soltos, como acessórios só brincos de argolas douradas. Já minha mãe era tão espetaculosa... Colocou um vestido longo branco, de mangas compridas em renda, mas com muitas joias: argolas enormes, anéis dourados em todos os dedos e correntes de ouro que faziam conjunto com suas pulseiras de argolas, contrastando com meu pai que usava uma bermuda branca e camisa lilás. Meus pais e eu fomos cumprimentar a aniversariante que estava ao lado do bar.
_ Angela! Celso! _ Beth surgia de uma rodinha de fotógrafos e repórteres para abraça-los e posar para a imprensa, era muito marketing envolvido por ali e eu resolvi me esgueirar para não participar daquilo. Beth era uma socialite que vivia de ser rica. Sim, essa era sua profissão: ser rica. Mas só era rica por ser muito inteligente. Sabia onde, como e com quem investir seu dinheiro, assim como ter retorno. Sua empresa de cosméticos era uma das maiores patrocinadoras dos espetáculos dos meus pais, amigos fiéis e presença certa em seus eventos, já que uma mão lava a outra. Um garçom passou e eu peguei uma taça de prosecco, virando num só gole. Outra passou e eu troquei minha taça vazia por outra taça cheia, da bandeja. Só com muito álcool para aguentar esses eventos.
_ Você realmente é uma esponja... _ virei e deparei com...
_ Gustavo?! _ engasguei com a bebida. Que surpresa, nunca imaginei encontrar com ele num evento desses. _ O que... O que você veio fazer aqui?
_ A mesma coisa que você. _ ele me encarou um sorriso divertido que se estendia até os olhos. Usava uma camisa branca aberta e calça de linho, verde. Dei uma conferida da cabeça aos pés e ele estava me encarando com uma sobrancelha erguida. _ Gostou?
Bufei e revirei os olhos. Realmente era um babaca.
_ Você ainda não me respondeu.
_ E o que eu não te respondi, Valentina? _ ele pegou a taça da minha mão e tomou um gole. Quando quis me devolver, rejeitei. Eu que não ia beber do mesmo copo que esse imbecil... que nojo! _ Beth é uma amiga da família.
_ Aham. Entendi. _ fui me afastando em direção à praia e peguei mais um taça da bandeja de um dos garçons que passava. Atravessei por algumas tendas senti a brisa salgada nos meus lábios. A mistura da maresia com o gosto do prosecco parecia me embebedar, mas era só o efeito calmante que o mar tem sobre mim. Infelizmente esse efeito era logo cortado com o mala que me seguia.
_ E você?
_ Aqueles ali, ó... meus pais. _ apontei para os fotógrafos enlouquecidos em torno do casal. Ele se surpreendeu e me olhou com uma cara de "você é filha deles?" _ Que foi? Quer um autografo?
_ Não... Quero outra coisa. _ passou a mão no meu rosto e eu me afastei.
_ Ei!
_ Que é? Tá arredia...
_ Não gosto que me toquem sem permissão.
_ Que pena... Mas quando eu tiver permissão é você quem vai me pedir pra não parar de te tocar! _ caramba! Mas que papo de cafajeste. Comecei a passar por ele para voltar ao bar quando o senti me segurando pelo braço. _ Já disse pra você não encostar em mim!
_ Eu quero saber o porquê da irritação.
_ Eu não gosto de você.
_ Não parecia que você não gostava de mim na festa junina.
_ Porque eu bebi demais. E com álcool todo mundo vira meu melhor amigo. _ sorri sarcasticamente. Ele se aproximou e senti seu hálito quente com cheiro de álcool no meu ouvido enviando pequenos choques a minha corrente sanguínea.
_ Então vamos te dar um porre...
Graças a Deus o meu celular tocou. Era o Thomaz me ligando. Revirei os olhos ignorando a chamada mas a ideia veio como um flash e sorri. Thomaz, enfim, não possuía um papel completamente inútil na minha vida. Afinal, eu havia aprendido algumas lições com ele: a primeira e básica era como usar alguém. Lógico que eu não pensava em ir tão longe e transar com o Gustavo. Esse cara não entra em mim nem morta! Ignorei a chamada e dei um passo atrás para encará-lo.
_ Quer dançar? _ ele piscou incrédulo com a minha súbita mudança de comportamento e depois foi abrindo um sorriso enquanto me seguia até a pista de dança.
A orquestra foi substituída por um DJ que remixava MPB com batidas de eletrofunk. Eu rebolava enquanto levantava meus cabelos, olhando os olhos e a boca perfeitamente desenhada de Gustavo. Ele se aproximava, me segurando pela cintura e eu sorria, maliciosamente, tentando encostar seu quadril em mim. As vezes eu passava os braços pela sua nuca e quando ele correspondia ao toque, eu me afastava. Admito que sua respiração deixava todo meu corpo arrepiado. Mas provavelmente o nome disso era carência ou falta de uma bela foda! Ficamos um bom tempo nessa brincadeira de gato e rato, as luzes estavam baixas e os fotógrafos estavam próximos ao mar, onde estávamos antes, perto da aniversariante. Quer dizer que esse meu showzinho não sairia amanhã nas primeiras páginas.
_ Você é maravilhosa, cara... _ ele gritava acima da música perto de mim e sorri, em resposta. Quero esse cara rendido, quero esse cara vulnerável e iludido achando que vamos além disso aqui. Quando ele tentou me beijar, eu virei o rosto e saí em direção ao bar. Pedi uma água porque nem pensar que ficaria bêbada perto dele. Ficamos um de frente para o outro sem falar nada. Suados e ofegantes. Aquele estado era muito sugestivo. Vi uma gota de suor escorrendo do seu pescoço até o tórax definido. Seus cabelos estavam ensopados. Ele passou a língua pelos lábios. Mas aquele charme todo não funcionaria comigo, eu estava bem focada._ Quer ir pra outro lugar? _ virei a garrafa d'água em generosas goladas, suspirei e sorri mais uma vez.
_ Não.
_ Porque você não gosta de mim?!
_ Exatamente. _ levantei os cabelos e prendi num coque no alto da cabeça dando um nó, alguns fios soltos ficaram grudando na minha pele suada. Meu celular vibrou e vi uma mensagem de Thomaz "Estou aqui na festa da Beth Nieri, encontrei seus pais. Cadê você?", olhei em volta e avistei Thomaz na praia como ele tinha dito na mensagem, ao lado dos meus pais posando para fotos. Guardei o celular e fui me despedindo de Gustavo: _ Preciso ir.
_ Mas... por quê? Já? _ ele me seguia. Parei e empurrei seu peito escorregadio com a minha mão para que ele parasse no lugar.
_ Uma emergência. Eu preciso ir. Não me segue... tchau. _ andei e vi que ele continuava me seguindo. _ Eu disse...
_ Dá isso aqui! _ tomou o celular da minha mão! Antes que eu pudesse tentar pegar de volta, ele estava discando e ouvi um som vindo do seu bolso. Ele me devolveu o celular e foi virando. _ Te ligo amanhã pra gente combinar alguma coisa.
Enquanto andava de costas, me deu uma piscadela, revirei os olhos e me apressei até a entrada do hotel. Entrei no primeiro táxi que passou, nem esperei o vallet pedir um carro para me levar. Durante o trajeto mandei uma mensagem aos meus pais alegando uma dor de cabeça. O que não seria uma total mentira caso topasse com Thomaz. Pelo amor de Deus! Desgraça pouca é bobagem! Primeiro ter que aturar o irritante, cheiroso, gostoso... opa! Aturar as canalhices do Gustavo para terminar com investidas do Thomaz?! Eu hein!
Quando cheguei em casa estava tudo escuro e todos os empregados recolhidos, subi direto para o meu quarto. Não estava com muito sono então tirei a roupa, enchi a banheira com alguns sais e liguei o celular na base com uma música instrumental. Fechei os olhos e senti as borbulhas na água, o formigamento dos sais e meus seios apontaram para cima. Levei minhas mãos até eles e comecei a torcer os mamilos. A água deixava tudo mais escorregadio e eu levantei um pouco os seios com as mãos para poder passear minha língua neles.
Eu estava tão elétrica e ofegante, sentia a explosão de prazer por antecipação. Ao mesmo tempo que queria com urgência, queria adiar e prolongar essa sensação. Escorreguei uma mão até minha entrada e encontrei meu botão de prazer tão inchado que quase gozei por apenas raspar o dedo. Eu senti o latejar da minha boceta ressoar nos meus ouvidos. Era uma carga enorme passeando por todo o meu corpo. Enfiei dois dedos de uma vez só e por dentro estava escorregadio e molhado como eu estava por fora. Meus dedos entravam e saiam pressionando meus clitóris e sem perceber comecei a remexer meu quadril indo atrás daquilo que eu tanto desejava. A outra mão espalmava meu seio. Não demoraria a chegar, eu sentia já minha lombar comprimida, a parte interna da minha coxa ficando dormente, boca aberta com a língua procurando algo em círculos pelos meus lábios. Eu sabia que estava vindo e era forte!
Comecei a perder o controle da minha mão e roçar cada vez mais forte, cada vez mais bruto. Eu me castigava para me dar aquele prazer, senti uma dor apaixonante e me encontrei dilacerada. Sentia meu peito se abrindo de dentro para fora quando joguei a cabeça para trás e suspirei quase sem voz "Gustavo!".
Apertei minha mão entre as pernas e com a outra segurei a borda da banheira. Meu peito subia e descia com a respiração descompassada e fui me dando conta do nome na minha boca quando gozei forte, gostoso e descontrolado. Afundei de cabeça na água com aquele sentimento frustrante...
Fiquei na banheira até sentir a água começar a gelar e meus dedos começarem a enrugar. Peguei meu roupão e deitei na cama sem nem enxugar os cabelos. Meu celular apitou e vi uma mensagem de um número desconhecido:
"Almoça comigo, amanhã?"
Será que era ele? Resolvi não arriscar uma resposta engraçadinha:
"Quem é?"
A resposta veio em seguida:
"Não deu tanto tempo assim pra você me esquecer. É o Gustavo!"
Revirei os olhos e me joguei na cama. Estava me sentindo muito chateada comigo mesma pelo que tinha acabado de acontecer na banheira mas ele tinha o dom de me fazer lembrar porquê era tão detestável. Pensei um pouco e respondi:
"Almoço parece ótimo!"
"Onde te pego?"
"Vamos marcar um ponto de encontro. Posto 09? 13 horas?"
Depois de alguns minutos, veio a resposta dele:
"Mal posso esperar"
Olhei mais uma vez a mensagem e sorri repetindo suas palavras:
_ Mal posso esperar... _ meu plano estava até agora andando tranquilamente, se continuasse nesse ritmo, eu daria uma lição nesse babaca daqui algumas horas. E foi com esse sentimento de satisfação que dormi com um sorriso no rosto.