The explosion of everything

By starmoony28

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Regulus nunca pensou que faria algo do tipo "desaparecer por um tempo", mas quando o desespero bate a porta e... More

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sala de interrogatório 28
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Dez dias atrás

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By starmoony28

Quando eu acordei James havia me enviado dois áudios no WhatsApp. O primeiro foi há 2h atrás.

"Reggie, você não sabe, mas seu irmão tá ameaçando de me matar. Peraí, um segundo.
Tenho que ir. A gente está brincando com a água da fonte na praça, e tem um policial se aproximando. Talvez ele queira brincar também, talvez vá prender a gente… Vai saber.”

Quase cuspi a água que estava bebendo. E então, alguns minutos depois, ele mandou:

“Tudo certo. Estamos bem. Ninguém foi preso. Queria te dizer que me diverti muito com você ontem, espero que tenha sido bom pra você também. E também quero te lembrar que você prometeu ler alguma coisa no Baumarkt hoje à noite. Sem desculpas!”

Certo. Eu tinha prometido.

Aquele seria o último sarau de James no Baumarkt, depois de quase quatro anos organizando o evento; um lembrete amargo de que ele iria embora de Vienna em menos de duas semanas.

Em duas semanas não haveria mais ninguém para nos convencer a beber vinho de tarde, ninguém para espalhar a palavra de Joni Mitchell e ninguém para determinar quais queijos eram gays, héteros ou assexuais.

O que seria de Vienna sem James?

Fui ao Lovegood's tentar escrever alguma coisa para aquela noite. O sr. Lovegood me serviu uma sobremesa de maçã caramelizada que estava deliciosa, mas não ajudou em nada a minha criatividade.

Minha vontade era arrancar meus cabelos. Não havia um pingo de criatividade dentro de mim. Eu preferia me ater aos fatos na Wikipédia – que eram diretos e comprovados.

De repente, uma sombra se formou sobre meu caderno. Olhei para cima. Era uma garota de cabelos longos, quase completamente brancos de tão loiros, e um rosto extremamente angular.

— Ei! Eu te conheço! — eu disse.

Era Pandora Lovegood. Ou melhor, Dora.

Dora jogou sua bolsa na mesa, quase derrubando meu notebook, e se sentou. Ela apoiou os pés sobre a cadeira.

— Você é exatamente como nas fotos — comentei.

Dora cruzou os braços.

— Ah, jura?

— Não foi isso que eu quis dizer — gaguejei. — É só que você é… Você é muito bonita.

— Ah, por favor, continue — ela disse, batendo palmas. — Não há nada que eu ame mais do que ser objetificada, especialmente pelo nerd que fez minha página na Wikipédia.

— Não, não, eu não estou objetificando você. Na verdade, eu…

— Só estou brincando contigo — Dora disse. Seu sotaque era bem leve, mas ela parecia mais americana do que qualquer outra pessoa que eu havia conhecido em Vienna. — Obrigada pela página, não quero soar narcisista e dizer que gostei, mas… Eu gostei. Então, meu pai disse que você está com dificuldade pra escrever um poema. É para a faculdade ou algo do tipo?

— Ele te disse isso?

Ela me mostrou as mensagens, que estavam em alemão mas podiam ser traduzidas para algo mais ou menos como:

GAROTO QUE ESCREVEU SUA PÁGINA NA WIKIPÉDIA ESTÁ TENTANDO ESCREVER UM POEMA, VOCÊ É UMA LINDA ESCRITORA, TALVEZ MINHA LINDA FILHA PUDESSE FAZER UM FAVOR PARA ESSE POBRE AMERICANO.

— Acredite — Dora disse. — As mensagens dele são ainda mais ridículas quando estou na faculdade. Ele fica muito empolgado pelo celular e acredita que eu herdei o jeito dele com as palavras. Pode colocar isso na Wikipédia — ela acrescentou, dando uma piscadinha.

Ai, meu Deus.
Será que ela estava flertando comigo?
Será que Pandora Lovegood queria ficar com o criador da sua página na Wikipédia?

— Ainda bem que ele não tem o número do meu namorado — Dora continuou. — Então ele não foi vítima das mensagens dele. Ainda.

Sorri.

— Não li na internet que você tinha um namorado. Vou ter que adicionar isso na seção de Vida Pessoal. — A expressão de Dora ficou levemente horrorizada. — Brincadeira — acrescentei rapidamente. — Não posso adicionar nada sem uma fonte pra referenciar. Enfim. O poema.

— O poema — ela repetiu.

— Preciso de inspiração.

Dora riu e pegou o garfo ao lado da minha sobremesa. Ela comeu um pedaço e apontou para um prédio.

— Sabe aquele prédio ali? Ele tem uma história macabra que poucas pessoas sabem. Um cara que foi esfolado vivo e decapitado. Fizeram muitas pinturas sobre ele, em muitas delas, ele era retratado em estátuas com o corpo sem nada, só a carne e as veias, enquanto ele segurava a própria pele.

— Ugh! — engasguei, fazendo som de vômito. — Isso não é inspirador! É tortura.

Dora sorriu.

— Te fez sentir alguma coisa, não fez? — Ela balançou a cabeça. — Só escreva algo pessoal. Que venha do seu coração. Não tenha medo de se abrir e de ser vulnerável… vulnerável pra caralho.

Ela estava certa.

— Vulnerável — eu disse. — Entendi.

— Vulnerável pra caralho. Carne viva. Como o homem torturado.

Dessa vez foi Dora quem cobriu a boca com a mão e fez som de vômito. Rimos juntos.

— Quer ir ao sarau hoje à noite? — convidei. — É nesse bar chamado Baumarkt. É do meu irmão

— Eu vou amar — Dora disse. — Será se posso levar uns amigos?

— Claro — respondi.

— Ótimo — ela disse— Te vejo a noite, americano.

******

Assim que cheguei ao Baumarkt, meu nervosismo bateu com tudo.

Passei espremido pela multidão, cercado por um falatório em inglês e alemão e francês, e encontrei James exatamente onde eu esperava encontrá-lo, no bar.

— Gostei do visual — eu disse depois de conseguir abrir espaço entre duas pessoas.

James vestia uma túnica com pequenas flores douradas e videiras estampadas.

— Claro que gostou — James disse, abrindo uma coqueteleira de metal— Isso é tão barro.

Eu estendi a mão para ele bater, porque ele havia se lembrado de algo que eu o ensinei.

+20: Doutrinar James e seus amigos com referências da cultura pop e outros ensinamentos da geração millennial.

James decorou o drinque que estava preparando com uma fatia de limão e o entregou para uma mulher na outra ponta do bar.

— Então, já sabe o que você vai ler esta noite?

Puxei um pedaço de papel dobrado do meu bolso. No fim das contas, não consegui escrever nada, mas encontrei um poema de Rumimuito lindo em um livro que James havia me dado outro dia.

— É surpresa — eu disse. — Mas acho que você vai gostar.

Pontualmente às onze e meia – um fato inédito na história do Baumarkt pelo que pude perceber sobre esses eventos semanais–, James subiu no palco e deu início ao sarau.

— Obrigado a todos por estarem aqui esta noite. Vou tentar não chorar. Não porque sou homem, foda-se isso, mas porque não quero arruinar esta fabulosa túnica persa que estou vestindo hoje. — James balançou a túnica, deu uma voltinha, e todo mundo aplaudiu e comemorou. — Bom, eu decidi vestir esta túnica porque queria honrar a tradição persa da contação de histórias. Eles, os persas, não conseguiam apenas escrever histórias como todo mundo. Precisavam contá-las em voz alta, de forma épica e dramática, bem do jeito como tenho feito nessa cidade durante os últimos anos. Obrigado por aturarem minha tradição. Vou sentir falta disso.

E a noite começou. As pessoas leram suas histórias. Leram poesias.
Inventaram sotaques falsos, galoparam feito cavalos e fizeram todo mundo gargalhar. Era uma noite dedicada aos livros. O bar inteiro flutuava e James estava nas alturas.

Ele se contorcia todas as vezes que um dos participantes o agradecia pela amizade. Pelo presente que era ter suas piadas, aquelas noites de sarau, sua presença.

Algumas pessoas leram poesias para James: Sirius, um soneto de Shakespeare, Remus, um poema autoral. Lily, um quarteto de Rumi.

Então outra pessoa leu Rumi. E depois outra. James até fez graça:

— Todo mundo decidiu ler Rumi hoje? A bicha aqui adora uma poesia bem mística, mas gente… Esqueceram do Novalis ou do Saadi, foi?

Engoli em seco.

Do palco chamaram o próximo participante. Era eu.

Senti meu coração acelerar. Empolgação? Nervosismo? Levantei lentamente enquanto James me apresentava.

— Nosso próximo participante apareceu nas nossas vidas há apenas algumas semanas, mas parece que a gente se conhece desde sempre.

O ambiente reluzia como ouro. Era amarelo como mel brilhante e laranja como nectarina, as cores mais quentes e convidativas. Tive a sensação de derreter em meio a tudo aquilo. O olhar de todos era tão acolhedor que me senti em casa.

— Olá. Meu nome é Regulus — peguei o pedaço de papel no bolso e o desdobrei lentamente. — Muitos de vocês não me conhecem. De certa forma, vim parar em Vienn por acidente e acabei fazendo amizade com James, Remus e reencontrando meu irmão Sirius depois de anos. Eles têm sido as pessoas mais legais do mundo comigo. Sou muito grato por isso.

Minhas mãos tremiam. Não dava para acreditar na quantidade de pessoas que estavam amontoadas naquele bar me escutando.

— A presença de todo mundo aqui esta noite — continuei — é uma homenagem à pessoa incrível que o James é. Estamos juntos, afinal. Poderíamos ser completos estranhos uns para os outros, sabe? Poderíamos estar enfileirados no ponto de ônibus. Ou em um avião, preenchendo todos os assentos, vendo algum daqueles filmes que exibem no voo por cima dos ombros de quem estivesse nossa frente. A gente podia nunca ter se conhecido. Mas, esta noite, podemos aproveitar a companhia um do outro. Por causa do James.

Meus dedos suados amassavam o poema que eu deveria ler.

— Sabe, acabei de perceber uma coisa — eu disse. — Acho que, no futuro, vou acabar romantizando este momento em que estou aqui, na frente de todos vocês. Não vou me lembrar do suor escorrendo pelo meu pescoço. Não vou me lembrar de como eu ficava nervoso toda vez que James chamava outro participante, achando que o próximo seria eu. Não vou dar pontos pra essas coisas pequenas, mesmo que elas tenham alguma importância agora, porque não quero que elas definam este momento tão lindo. A vida não é um placar para a gente ficar contando essas coisas. Não é e pronto. Viver é encontrar pessoas que te enxerguem, porque, no momento em que você se sente visto, todo o restante desaparece. Tudo vale a pena.

De repente, os aplausos encheram o ambiente. Olhei para James, que assentiu para mim. Eu ainda segurava o poema de Rumi em minhas mãos. Dobrei o papel, guardei no bolso e voltei para o meu lugar.

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