quinze dias atrás

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Mergulhei os dedos na fonte. Eu havia derramando um pouco de vinho na minha camisa antes de os meus pais ligarem, antes de eu me atrapalhar para atender, e achei que deveria tentar tirar a mancha.

— Onde você está? — meu pai perguntou ao telefone. — Por que você continua ignorando nossas ligações?

— Não importa — respondi, molhando a camisa que comprei ontem. A loja se chamava AOM'S; basicamente uma loja de departamento barata.

— Reggie — ele disse, exausto. — Vem logo pra casa.

— Depois daquela última ligação? De jeito nenhum — eu disse, me levantando da borda de mármore da fonte.

De canto de olho, observei James e os outros em um banco no fim do parque, abrindo mais uma garrafa de Vinho. Queria voltar para perto deles.

— Por favor. A gente pode resolver isso juntos — minha mãe disse.

As mesmas palavras que ela havia usado na última ligação, aquela que terminou em barraco.
Quanto tempo já havia se passado?
Quatro dias?
Cinco?

— Resolver? — cuspi a palavra.

— Podemos buscar ajuda — meu pai disse. — Você está confuso, nós entendemos…

— Eu não estou confuso! — gritei. Quase derrubei um garotinho — Eu já disse. Não estou confuso. Eu não poderia estar menos confuso. Não existe nem um único osso no meu corpo que esteja confuso.

— Sim, você está!

— Meu filho querido, me escuta. Sua vida vai ser muito mais difícil. Você não…

— Um segundo — eu disse.

Vi James se aproximando com suas unhas pintadas com esmalte preto e acenando. Ele mexeu os lábios perguntando Tudo bem? e eu respondi com um Sim. Ele confirmou com a cabeça e me deu as costas.

Meu coração, de repente, estava acelerado. James e os outros pareciam desconfiados agora.

— Eu tenho que ir — disse para os meus pais.

Dei um suspiro longo e arrastado, tentando tirar a expressão de raiva do rosto. Eu não deveria ter atendido, não depois da última ligação.

Ótimo. Agora eu estava irritado novamente. Era como se eu tivesse derrubado uma caixa que dizia FRÁGIL: MANUSEIE COM CUIDADO.

Durante todo aquele tempo, eu conseguia imaginar perfeitamente como seria se eu voltasse para casa sem nem precisar do placar mental.
Eu já havia lido histórias o bastante na internet para saber o que “Podemos resolver isso” queria dizer.

A esta altura, eu não iria embora da Áustria por nada. Além do mais, eu tinha uma vida aqui.

Eu passava meus dias com James. Tinha encontrado um apartamento para mim em Landstrasse, a dois quarteirões deste parque onde ele e seus amigos gostavam de beber durante o dia. Eu também estava passando mais tempo no restaurante do Sr. Lovegood, editando páginas da Wikipédia por dinheiro.

Eu estava um pouco nervoso em relação ao dinheiro. Havia terminado o trabalho para aquela empresa de criptomoedas três dias atrás e eles ainda não tinham mandado o dinheiro para minha conta no PayPal.

Mas valia a pena. Ficar até tarde da noite no Baumarkt, passar as tardes com Remus e Sirius. Filmes com James na sala de estar, música dos anos oitenta e vídeos de RuPaul’s Drag Race.

Respirei fundo mais uma vez e marchei de volta em direção ao grupo de amigos no banco. Eu gostava dessa vida. Muito.

Depois do parque, passamos por um mercado popular com barracas pequenas, vendedores corpulentos e muitos turistas. Precisávamos comprar alguns ingredientes para o jantar – macarrão, vegetais, carnes e queijos.

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