Sirius

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aos quatro anos eu descobri que as palavras que falávamos tinham significado

aos cinco eu entendi que saudade era a palavra usada para o sentimento sufocante de ausência,

mas foi somente aos 10 anos que eu finalmente entendi.

Os segundos que levaram para que eu pudesse entender o que estava acontecendo, foram os mesmo segundos que levaram James e Remus a mesma compreensão.

Eu ainda estava parado em silêncio, talvez eu estivesse congelado ou algo assim, mesmo que no meu interior morasse chamas de um incêndio já a muito tempo acesso.

- Sirius?- eu achei ter dito, mas som de nenhum saiu da minha boca.

- Sirius? - ouvi James repetir ao meu lado, mas meu irmão continuava com os olhos em mim.

Foi só então que a realidade me atingiu. Demorei cerca de dois minutos para obrigar meu corpo a respirar, porque pela primeira vez em anos, eu senti que poderia fazer isso. Mas quando eu finalmente respirei, fui tomado por lágrimas tão familiares quanto o garoto parado a minha frente.

As lágrimas rapidamente se transformaram em soluços e de repente os braços de Sirius envolveram o meu corpo. Uma de suas mãos deslizou pelas minhas costas em gestos de conforto enquanto a outra me segurava contra ele.

- Oh Reggie- ele disse baixo- Eu tenho tanto... Meu Deus, eu quero te dizer tantas coisas...

Mas ele não disse, por enquanto. Ele me abraçou e ficamos assim por um tempo. Até que meu choro passou e ele se afastou apenas o suficiente para olhar pra mim. Para que eu pudesse olhar para ele.

- Podemos conversar? - Sirius perguntou.

Eu confirmei com a cabeça e ele soltou meu corpo, se virando para encarar um James e Remus completamente confusos.

- Depois eu explico, ok? - foi tudo o que ele disse, depois segurou o meu braço e me guiou em direção à escada.

Dei uma última olhada em James e Remus e seus sorrisos gentis.

Sirius soltou o meu braço enquanto desciamos as escadas, o silêncio entre nós, como se fôssemos dois desconhecidos conversando pela primeira vez.

Chegamos ao andar de baixo e ele me guiou por um corredor quase totalmente escuro, havia uma porta no fim, na qual ele abriu e relevou um apartamento rústico e simples, mas completamente aconchegante e de alguma forma familiar.

- Entra - ele disse.

Eu observei a sala ao meu redor, um sofá azul de três lugares estava bem no canto, uma mesa, plantas e milhares de fotos nas paredes. Sirius tinha uma vida inteira aqui, uma casa, um namorado que seria seu noivo daqui um tempo. Amigos, uma família.

Foi quase impossível não me sentir traído.

- Regulus? - Ouvi a voz dele me chamar e olhei para trás. Sirius estava parado no meio sala, olhando pra mim como se eu fosse um fantasma.

- Você nunca voltou- eu disse antes de conseguir me controlar.- Eu cheguei em casa um dia e você tinha ido embora, desaparecido, e nunca voltou.

- Você não entende Regul..

- Você nunca me deu a chance de entender- eu o cortei, minha voz saindo mais alta do que eu planejava - Então agora me faça entender o porquê de você nunca ter voltado. Meu Deus Sirius, olhe ao seu redor - eu apontei para as fotos nas paredes e Sirius seguiu meu gesto- Você tem uma vida aqui, esse lugar é seu, e aqueles caras lá fora, eles...

De repente eu já não conseguia mais falar, procurei pelo sofá e me sentei na beirada.

Simples assim, eu senti cada parte minha quebrar, camada por camada quando a compreensão me atingiu. Se fosse possível, o meu corpo quebraria ao meio, cada parte caindo sobre o tapete bonito, no meio da sala.

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