nove dias atrás

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James tinha prometido que me levaria em um “encontro épico”.

Estávamos trocando mensagens de manhã e ele decidiu que iríamos ver o Belvedere Museum, porque aquele era um dos lugares favoritos dele em Viena e porque aparentemente “enquanto você não tiver conhecido um museu de verdade, você não terá uma concepção adequada do que o homem é capaz de conquistar”.

— Eu nunca fui em um museu antes então talvez eu não tenha nenhuma concepção mesmo— respondi.

— Então vamos fazer disso algo realmente épico.

Eu estava de pé no salão de entrada do Palácio. O teto era curvo, alto e feito de mármore. Havia afrescos por toda parte. Eu estava no centro do universo da Arte enquanto esperava James comprar nossos ingressos.

Ele estava lindo naquele dia, vestindo uma camisa polo vermelha para dentro da calça, com jeans dobrados na altura do tornozelo. Ele sorriu para mim com aqueles lábios macios.

Quem foi que deu a ele o direito de ser lindo daquele jeito, sabe?
Provavelmente Deus.

Certo.

Uma mulher com óculos retangulares e batom vermelho escuro nos guiou até o lado de fora, para um espaço amplo onde grupos de turistas e famílias pareciam estar recebendo as orientações iniciais. O espaço tinha esculturas gigantescas, que os guias descreviam detalhadamente com muita animação.

Era o dia mais quente desde a minha chegada a Vienna. O sol queimava sem dó. Decidi recostar em uma mureta enquanto James observava as esculturas.

Ele se aproximou, recostando-se ao meu lado.

— Já cansou?

Eu sorri. Muretas pareciam ser uma coisa nossa. Ele me pegou pela cintura e se apoiou ao meu lado.

— Não tem problema a gente ficar assim? — sussurrei, olhando em volta.

James me puxou para mais perto.

— Não deixe os outros decidirem como você deve viver sua vida, Regulus.

— Fico meio envergonhado, só isso.

— O segredo está na sua atitude — James disse, sorrindo para um homem de pochete que estava nos encarando. — Se eu estivesse na frente do Papa e dissesse: “Ah, sinto muito, sr. Papa, mas eu sou gay”, é claro que ele ficaria tipo: “Ah, não. Isso não é legal”. Mas, se eu dissesse: “Oi, eu sou gay”, como se isso fosse apenas a cor dos meus olhos, provavelmente o Papa não estaria nem aí e falaria algo tipo:
“Beleza, viva a sua vida”. — James pulou para fora da mureta e fez uma reverência — É tudo uma questão de como você se expressa.

Sorri.

— Você sempre foi assim?

— Assim como?

— Confiante — eu disse. — Pra falar com os outros. Pra se expor em um lugar onde, você sabe, sua existência não é muito bem-vinda.

James balançou as mãos.

— Isso não é confiança. É mais como — Ele coçou a cabeça. — Como é mesmo o ditado…

— Fingir até conseguir — arrisquei.

— Sim. Esse mesmo.

Várias placas apontavam para as obras. Sempre havia mais uma exposição cintilante. Outra estátua. Um pátio. Uma banheira. Chegamos a um pátio arejado, com a fonte mais linda de todas no centro. Parecia uma piada.

Percebi que havia algumas moedas no fundo da fonte, então joguei uma. James apareceu ao meu lado.

— Então, cadê a sua obra favorita? — perguntei.

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