- Por que preciso ser forte? - perguntei encarando Ed, Lou e tia Jay do topo da escada.
- Harry, sua mãe teve uma gravidez muito delicada - tia Jay começou à explicar enquanto me encaminhava de volta ao meu quarto. - Ela passou mal para ter o seu irmãozinho, mas infelizmente ela tinha eclampsia, a pressão dela estava muito elevada e Anne não resistiu Harry. Eu odeio ser a pessoa que traz essa notícia.
Jay terminou e me abraçou, e foi quando eu soube que nunca mais veria minha mãe. Eu quis chorar muito, eu juro que estava quebrado, mas por algum motivo nada aconteceu.
A mãe de Louis me abraçou esperando o caos, mas tudo o que eu fazia era fitar o nada e tremer. Tremer muito, feito um filhote com frio.
Quando finalmente parei de aparentar ser um epiléptico Jay se levantou e falou que iria buscar algo para eu comer. No momento em que a mulher abriu a porta do meu quarto Louis e Ed caíram para dentro. Eu até teria sorrido com a cena em outras circunstâncias.
Ed estava boquiaberto e seus olhos um pouco marejados e Louis estava notavelmente aos prantos. Ele correu e se agarrou à mim, me enlaçando com seus braços e pernas feito um coala. Afagando meus cachos e murmurando o quanto sentia. Não sei por quanto tempo ele ficou ali em meu colo até que eu conseguisse retribuir seu abraço de um jeito bem mórbido.
Meus membros pareciam gelatina e os sentidos estavam alertas á tudo e à nada ao mesmo tempo.
Do lado de fora do cômodo, pude ouvir Jay e Ed conversando.
- Por que ele não chora, Sra. Tomlinson? - o ruivo perguntou.
- Ele está em choque, querido. É como se não tivesse assimilado a informação por completo. Ele sabe o que aconteceu, mas o subconsciente ainda está lidando com a ideia. - a mulher mais velha explicou.
- Oh! - foi tudo que ele respondeu antes de entrarem juntos. - Harry amigão, eu preciso ir em casa, mas volto ok? - Sheeran se direcionou à mim. Apenas acenei positivamente.
- Eu vou cuidar dele, não se preocupe. - Louis disse me apertando mais contra si e pude jurar que havia uma ponta de possessividade em seu tom.
- Eu já liguei para o seu pai Harry, ele deve chegar hoje na parte da tarde. - Jay falou e eu automaticamente assenti.
E foi assim conforme os dias passavam. Eu não sabia quanto tempo essa coisa de choque durava, só sabia que parecia infindável.
Eu não fui ao funeral da minha mãe por causa do gesso e talvez um pouco de covardia. Mas depois as pessoas vieram até a minha casa, eles trouxeram comida, eles me abraçavam e repetiam o tempo inteiro: "pobrezinho, perder a mãe tão jovem" como se eu fosse um coitado; ou "eu sinto muito pela sua perda" quando eles não sentiam.
Eu sentia, Gemma sentia, até meu pai, do jeito dele. Nós perdemos a minha mãe e o meu irmão e as pessoas só estavam se importando em comer e conversar.
Eu sei que a morte faz parte da vida, mas gostaria que não fizesse.
No fim do mês de agosto Liam não quis uma festa de aniversário o que me fez sentir culpa, mesmo quando o moreno mentiu que não tinha nada a ver comigo.
Certa noite quando Louis estava por algum milagre na própria casa, Gemma veio dormir comigo, ela disse que estava tudo bem chorar e que eu estava assustador por não conversar e apenas ficar fitando o nada. Apenas assenti e murmurei um "uhum" a deixando brava.
Nossos avós haviam nos convidado para morar com eles, mas eu neguei porque queria me sentir perto da mamãe o máximo que pudesse. Eu sabia que Gems queria ir e só estava ali por mim.
- Por que não vai fazer o que quer? Você não precisa estar aqui. - pronunciei minha primeira frase longa em dias.
- Porque você é meu irmãozinho e eu tenho que cuidar de você.
E foi depois disso que eu decidi.
Aceitaria estudar na escola interna que meu pai tanto quis me mandar. Tanto eu quanto Gemma não suportaríamos viver apenas com ele. Minha irmã poderia morar com nossos avós maternos até ter idade para ir para a faculdade e eu, que me sentia sem lugar no mundo, sem porto seguro, aprenderia a superar.
No inicio da segunda semana de Setembro eu tirei o gesso e Niall disse que me mataria se não fosse à sua festa. Eu concordei porque seria minha despedida, mesmo que ninguém soubesse.
O Sr. e Sra. Horan nos levaram à um parque de diversões e me esforcei para que aquele fosse o melhor dia com meus amigos e foi.
Eu estava terminando de aprontar minha mala e meu pai veio me mandar dormir porque sairíamos cedo no dia seguinte e Louis estava lá na porta do meu quarto olhando tudo com aqueles olhos azuis acusadores sobre mim.
- Você vai viajar Hazz? - perguntou com o lábio tremendo e assenti sem saber muito bem o que fazer.
- Vou deixar vocês se despedirem - meu pai falou e saiu do comodo.
- Você passou o verão inteiro sem falar e agora vai viajar? Para onde está indo e por quê? - Louis quis saber entrando no quarto e se pondo à minha frente com o queixo empinado.
- Lou, eu vou embora. Sinto muito. É um colégio interno em Nova York. - disse de uma vez.
- Por quê Harry? - os olhos azuis já estavam úmidos.
- Porque eu não tenho mais ninguém. Era minha mãe quem me protegia e me amava acima de qualquer defeito. Ela me aceitava e agora se foi e eu me sinto perdido. - despejei.
- Eu estou aqui Hazz, para sempre, lembra? Como vou manter a minha promessa se você for embora?
- A gente pode se escrever. - sugeri.
- Não! Eu quero que fique aqui comigo! - Louis gritou e me empurrou para sair do quarto, mas o puxei pelo braço.
- Lou, por favor, eu não quero te deixar com raiva de mim.
- Com raiva não, só deixar mesmo. - ele esfrega as lágrimas escorrendo em sua bochecha.
- Eu juro de mindinho que nunca vou te deixar, vou escrever todos os dias. Você é uma das poucas coisas boas que vou lembrar daqui. - falo e toco em seu rosto.
Louis se aproxima e me beija com força e quando ele para resmunga ofegando.
- Só para selar a promessa.
Em dias, sorrio verdadeiramente e ele sorri de volta e eu sinto que preciso fazer isso de novo. Poderia beijar Louis para sempre.
Dessa vez o beijo estava mais fervoroso e despertava sensações desconhecidas no meu corpo. Ele começou a usar a lingua e me assustei no inicio com tal ato, mas depois foi ficando melhor e melhor e num reflexo o puxei pela cintura fazendo nossos quadris se chocarem. Não tinha notado o inicio de uma ereção até sentir a do Lou contra a minha. Eu repeti o gesto algumas vezes e a sensação era tão gostosa e então, abruptamente meu pai entrou no quarto com uma carranca de desgosto e falou secamente que era para o Louis sair dali e ir para casa. Nos separamos assustados e eu não tenho certeza exatamente do que meu pai viu, mas numa atitude ousada, antes de cruzar a porta puxando a camisa que vestia para baixo violentamente, Louis me abraçou e disse para que eu não esquecesse de onde vim.
Assim que ele saiu, meu pai meneou a cabeça dizendo que eu não tinha conserto e bateu a porta atrás de si.
-x-
- Você tem certeza disso Harry? - meu pai perguntou e pela primeira vez ele parecia não furioso. Quase pude visualizar um brilho de afeto em seus olhos.
- Nunca estive tão certo de algo antes. - falo seco e encosto a testa no vidro da janela. - Mas antes uma parada. Eu preciso mesmo fazer isso.
Olho para o homem abatido e ele compreende.
O carro para e eu saio dele. Não olho para trás para confirmar se meu pai me acompanha ou não.
Subo a pequena colina e fito a lápide.
Está escrito "Anne Styles, esposa e mãe amada". Abaixo, sua data de nascimento e a data de quase um mês atrás.
Definitivamente, o verão de 1971 foi o pior da minha vida. Relembro.
- Oi mãe. - sussurro como se ela pudesse me ouvir e embora meus olhos queiram derramar as lágrimas pela dor interminável que sinto, eu não choro. Não consigo fazer isso desde o dia em que soube, desde quando ela se foi.- Eu sinto sua falta, e sinto muito por não ter vindo me despedir antes. Mas agora estou aqui. Acho que esse é o nosso adeus.