10. Harry

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Durante o jantar eu quis saber com meu pai, por que meninos não podiam se casar uns com os outros. Ele surtou, gritou que era abominável e que Deus odeia esse tipo de seres.

Seres.

Como se não fossem humanos.

—E se fosse eu?— resmunguei um tanto revoltado.

A forma como ele esbravejava e batia na mesa. Me dava medo.

Eu estremecia e apertava os joelhos até os nós de meus dedos ficarem brancos embaixo da mesa.

Gemma chutou minhas canelas e disse que tinha mandado eu ficar quieto sobre o Louis.

Eu não tinha falado nele, não diretamente.

Quando meu pai ouviu a menção de um nome, se levantou da cadeira e ficou me encarando com uma expressão furiosa. Pensei que suas veias fossem saltar da testa.

Eu encolhi. Achei que fosse apanhar. As vezes quando eu era muito bagunceiro isso acontecia.

—Eu quero saber que história é essa Harry!!— ordenou e virou para minha mãe. —Você sabia disso, mulher?

Minha mãe tão amedrontada quanto eu só murmurou que não, não tinha ideia.

—Estou esperando uma resposta Harry. —continuou com o tom duro.

Usando uma coragem que eu não sabia que tinha, falei a verdade.

—Eu amo o Lou e vou me casar com ele um dia.

Minha mãe ofegou espantada e fez uma prece silenciosa. Gemma meneava a cabeça com os olhos marejados enquanto eu abaixava o rosto aguardando o golpe.

—Papai por favor, ele só tem dez anos. Não sabe o que está falando.

Gemma implorou e pelo canto do olho visualizei sua mão estendida.

Desmond respirou fundo e disse que eu não podia mais ser amigo do Louis. Que ele não era uma boa companhia para mim.

Eu não iria fazer isso. Ele não podia me proibir.

Uma semana depois de ter brigado comigo na mesa de jantar, meu pai veio conversar. Era uma manhã de sábado. Ele se desculpou, falando que se excedeu e que eu precisava entender que meninos só podem ser no máximo amigos, que era natural misturar os sentimentos cujos estou começando a desvendar agora.

Ele prometeu que me deixaria ser amigo do Lou se concordasse em parar de falar que casaria com ele.

Eu menti, obviamente, mas por uma coisa boa.

No caso, pessoa.

Minha amizade com Louis parecia estar finalmente, evoluindo. Não totalmente, mas já era algo.

Quando eu aparecia nos lugares, algumas vezes, ele ainda se escondia — como se não fosse vê-lo atrás da caixa de correio ou sob a carteira da sala —quando eu o abraçava, sempre me empurrava e se afastava em qualquer sinal de aproximação. Meu pai ficaria orgulhoso se Lou fosse seu filho, ele fazia exatamente o que eu deveria estar fazendo.

No caso, se distanciando.

Só que sempre que eu considerava essa possibilidade, ocorriam esses momentos...

Essas poucas vezes, em que ele sorria aprovando alguma coisa que eu fazia, quando escalávamos aquela árvore enorme — que eu não sabia o nome até Lou me dizer que era um sicômoro — ou quando estava quente e deitávamos no gramado irrigado olhando para o céu e as formas das nuvens até que a noite caísse. Principalmente quando depois desses momentos, eu atravessava a rua para casa e ele acenava sorrindo com os olhos brilhantes:

—Tchau Hazza, te vejo depois.

E eu sempre fazia alguma observação idiota sobre o tempo, ou qualquer outra coisa ao redor, porque odiava a ideia de me despedir dele, mesmo que só estivesse a alguns passos de distância. E esses momentos faziam tudo valer a pena. Eles costumavam ser preciosos para mim.

Costumavam.

Mas chegou o dia que tudo isso perdeu o valor. Eu percebi o quanto estava sozinho.

Eu achava que Louis gostava de mim. Pelo menos um pouquinho de nada. Um sentimento qualquer, ou ao menos consideração por nunca tê-lo abandonado . Eu me enganei todo esse tempo. Profundamente.

Quando as crianças nos perseguiram aquele dia, ele me abandonou.

Salvou a si mesmo, se escondeu.

E me deixou para trás.

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@oldirectioner e @stylehs eu acho que nunca vou agradecer à vcs duas o suficiente!!! Mt obrigado por tudo <33

All my loving, N.


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