Almoçamos em um refeitório privativo da clínica de reabilitação e Cara contou-me toda a rotina dela naquele lugar. É óbvio que como um bom irmão, já estava ciente até do seu cronograma anual, mas fiquei bem quieto e escutei sua empolgação ao falar do lugar.
Ela realmente gosta daqui. E de todas as pessoas que estão aqui também, mas essa é uma característica típica dela.
Me contou que alguns pacientes a reconheceram, isso pensei que seria um problema, mas ela jurou que ninguém ia falar nada sobre pois apreciavam muito o trabalho dela.
Eu confio em pouquíssimas pessoas, por esse motivo eu estimulei para que minha irmã falasse mais sobre e acabou por deixar escapar o nome de todos os que notaram-na. Farei uma pesquisa sobre eles depois e se precisar contratar um investigador particular o farei com muito prazer.
Após uma atualizada geral de todas as fofocas que rolam a solta sobre os funcionários daqui, descobri que um enfermeiro casado vai ter gêmeos com a irmã da esposa, a avó da recepcionista faleceu, o novo instrutor da academia é realmente muito sarado - palavras de Cara que declarou isso com um brilho nos olhos, o que me fez trincar os dentes -, o filho de uma médica aqui de oito anos está namorando uma garotinha da mesma idade e uma jovem enfermeira saiu do emprego - este, no caso - e vai se dedicar ao sonho de ser atriz.
Para essa última informação, Cara piscou os olhinhos de uma maneira estranha e virou a cabeça para o lado.
— Certo, qual é o nome dela?
— Felicity Murphy. — Ela falou com um sorriso gigantesco no rosto. — Você sabe que você é o melhor irmão do mundo, não sabe.
— Imagino que sou sim, sua bajuladora. — Eu replico sorrindo. — Vou ver no que posso ajudar.
— Ela vai tentar papéis em Londres. — Vejo um lampejo de dor em seus olhos, mas some rapidamente. — Se puder ajudar, ajude lá.
— Certo, vou falar com algumas pessoas.
— Já pensou em fixar sua residência lá? — Percebo que a pergunta dela tem boas intenções, mas examino-a bem. — Acho que fica mais lá.
— Gosto de morar aqui em Dublin.
— Eu sei que gosta, mas lá é mais próximo da ULTRA, você descansa poucos meses aqui e depois precisa se hospedar lá para se preparar para as novas temporadas.
— Eu sei. — Concordo.
— Você deve pagar uma fortuna em hotéis londrinos. — E minha irmãzinha acerta mais uma vez.
— Eu sei.
— Por que você não...
— Quero ficar perto de você. — Olho no fundo dos seus olhos e completo. — E da vovó.
Ela dá um risinho.
— Ela é doida, mas não vivemos sem ela, né? — Diz Cara.
— Não.
— Mas acho que você deva pensar a respeito, Liam, você ainda teria sua casa aqui. — Completa — E eu já estou grandinha o suficiente para morar sozinha. Eu estou bem.
— Eu sei que está, ruivinha. — Aproximo e dou um beijinho em sua têmpora. — Prometo que vou pensar, tudo bem?
Ela assente.
— Aceita perder em uma partida de Uno? — Pergunta atrevida.
— Eu aceito jogar, mas eu nunca entro em uma partida para perder, sabe disso, né ruivinha? — Estreito meus olhos na direção dela.
— Veremos, ruivinho. — Cara diz fazendo uma careta. — Isso ainda fica estranho.
Dou uma gargalhada sem conseguir me segurar.
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Chego na minha casa no fim da tarde e recebo uma mensagem do meu melhor amigo.
E aí?
Que tal passar no Champions para encontrar a galera?
Naquele mesmo esquema?
Só falar que aceita que reservo o salão só para nós.
Você sabe que está nas suas férias, né Regan?
Não quero ser processado.
Você sabe que nunca faria isso, não sabe?
Talvez, mas topo sim, irmão.
Vou reservar, então.
Não preciso dessa merda.
Quero a experiência completa.
Nem todas as experiências naquele lugar são recomendadas.
Exatamente.
Boa sorte, então irmão.
Te espero às nove, na melhor mesa da casa.
Como vou saber qual é a melhor mesa?
Você saberá.
Com essa mensagem o "misterioso" do Regan Gallagher não diz mais nada, mas estou com muita vontade de encontrar meus amigos. Éramos um grupo muito unido durante o ensino médio e apesar das escassas mensagens trocadas, ainda somos muito leais uns aos outros. Fui padrinho do casamento de um deles, inclusive.
Me troco colocando uma calça mais chique para me adequar ao ambiente e adiciono um blazer. Estou mais formal do que estava antes, entretanto menos formal do que me vestiria para eventos sociais.
Sobretudo, Champions é um clube reservado e bastante elitista de Dublin, apesar de ser condenado por sua natureza mais sensual do que se encontraria em uma boate normal.
Chamo meu motorista particular para me levar e me trazer de volta. Pretendo beber essa noite.
Quando meu relógio de pulso marcou nove e vinte, o carro passou pela entrada principal da boate. O curioso é que até a entrada é reservada, o que garante a pessoas conhecidas frequentarem o lugar com mínimas chances de serem fotografados.
Agradeço ao meu motorista e passo pelas portas douradas, que são a marca do local.
Examino bem o ambiente, procurando a tal mesa que Regan disse que localizaria. Meu olhar sobe até o segundo andar e vejo um grupo familiar em uma mesa que tem uma ótima vista para a pista e está relativamente perto do bar.
Idiotas, eu dou uma risadinha subindo até eles.
— E aí, galera? — Anuncio minha chegada, percebendo que fui o último a chegar.
— Olha só quem realmente veio. — Diz o loiro se levantando, Finn vem em minha direção para me abraçar.
— Quanto tempo, hein doutor? — Falo e ele me oferece um sorriso como resposta.
— Opa Liam, tá elegante, irmão. — Olho para o dono daquela voz. Connor, o jornalista da turma.
— Sempre! — Abro um sorrisinho convencido depois de cumprimentá-lo.
— E arrogante também. — Ele complementa.
— Sempre! — E dessa vez quem responde é Regan. — Vocês têm sorte de não conviver com ele quase vinte quatro horas por dia.
— E você estava morrendo de saudades. — Provoco-o fazendo um biquinho.
— Cara, não duvido nada que vocês estejam secretamente casados. — Fala Adam, único que eu não tinha falado ainda.
— Bem que ele queria. — Retruca Regan.
— Não liguem não, ele só está assim porque dormiu no sofá ontem a noite. — Comento gerando uma uma onda de risadas, até Regan não aguentou, mas disfarçou bem revirando os olhos.
— Vou pedir mais uma rodada de cerveja para nós. — Meu melhor amigo diz se afastando até o bar.
— Parabéns pela temporada, irmão, aquela ultrapassagem nas últimas voltas foi impecável. — Connor me parabeniza.
— Valeu, irmão, quando é que você vai mudar de nicho e começar a noticiar a f1?
— Meu nome é Connor Lynch e estou aqui no circuito de Silverstone — Adam finge ser o jornalista e vira-se para Connor — Gostei, hein? E outra imagina, você ainda vai rodar o mundo.
Connor dá um sorriso sonhador.
— Quem sabe?
— E você Finn, tá pensando em aumentar a família? — Pergunto olhando para o loiro que agora está com o mesmo sorriso que Connor estava a segundos atrás.
— Esse é o plano. — Diz apaixonado — Estou tentando convencer a patroa.
— Quem tá grávido? — Pergunta Regan, voltando com as nossas cervejas, precisou chamar um funcionário do Champions para trazer todas as bebidas.
— Byrne. — Responde Adam piscando o olho para mim.
— Ah! Esse daí não engravidou ninguém, não.
— Quanta confiança — Zomba Connor levantando uma sobrancelha. — Por que, Regan?
— Pelo que eu sei meus amigos, Liam Byrne, tá na seca.
Que audácia.
Regan vira para mim e quando o resto dos nossos amigos se distraem, sussurra.
— Não foi por causa disso que você disse que queria ter a experiência completa? — Menciona o terceiro andar.
O terceiro andar da Champions é restrito e funciona como um hotel, ou um motel, depende do que você preferir chamar.
É para aqueles que provavelmente não aguentariam esperar para chegar nas próprias residências ou nos próprios hotéis.
Definitivamente, não.
Não foi essa experiência completa que me referi.
Queria ter um pouco de normalidade, sem precisar me esconder em um estabelecimento e só curtindo com meus amigos, sei que no fundo Regan sabe e só está me provocando, mas minha mente viaja para o lugar que eu estava me esquivando.
Para uma pessoa em específico, que merda eu estava pensando.
O único motivo para eu ter dormido com ela era eu estar bêbado, evito os Ferraz e recomendo isso a qualquer pessoa sensata.
Mas a minha mente não tem nada contra ela, nem meu pau que se anima bem rapidinho sempre que eu penso no nome dela.
Isso é um saco. Isso e as lembranças.
— O que você acha que é rendição? — A morena me pergunta com um sorriso meio estranho.
Estamos os dois em sua cama no hotel, suados.
— Hã? Tipo a definição?
— Sim, qual é a definição de rendição? — Pergunta novamente.
— Você é bem aleatória, sabia disso?
— Você ainda não viu nada, Irlandês. — Me garante e eu acredito. — E aí?
— Ok, ok, rendição é quando uma tropa se entrega ao inimigo — Respondo e seu sorriso cresce.
Ela me puxa para fora da cama, deixando-nos de pé. Lisa se aproxima tanto de mim que consigo sentir sua respiração em meu peito. Abaixo a cabeça para observá-la.
— Gostei do conceito militar, isso me faz pensar nos inimigos implorando por suas vidas aos inimigos.
— Nada honrado.
— Que bom que você pensa assim, Liam. — Estranho um pouco o quanto gosto do meu nome quando saí pelos lábios dela.
— Certo e por que isso é bom, Lisa? — Meus olhos se arregalaram quando vejo ela se ajoelhando aos poucos.
— Porque por mais que eu esteja de joelhos, — Ela olha bem para mim, me encarando e completa — é você que vai implorar, Liam. Essa é a sua rendição.
E então eu me rendo.
Esse foi o nosso nono capítulo, espero que estejam gostando!
Alguém aqui tem teorias? Fique à vontade para dividi-las conosco!
O que estão achando do Liam até agora?
Beijinhos, vejo vocês no próximo capítulo.