O Gêmeo Maligno - Pausado

By Vivo_Enquanto_Posso

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Em algum lugar, escondido por entre as montanhas da Colômbia, uma pequena vila chamada Encanto vive feliz e t... More

Capítulo 1 - Uma nova manhã, dez anos depois
Capítulo 2 - Um encontro na praça
Capítulo 3 - Carlos, Mirabel e as Crianças
Capítulo 4 - A Madrigal mais chata
Capítulo 5 - Um momento entre irmãos
Capítulo 6 - A melhor cerimônia de todas - Parte 1
Capítulo 7 - A melhor cerimônia de todas - Parte 2
Capítulo 8 - Um papo entre primos
Capítulo 9 - Mesmo problema, soluções diferentes
Capítulo 10 - Gêmeos, arepas, café e Tia Julieta
Capítulo 11 - O caco que brilha em vermelho
Capítulo 12 - Um plano é um plano
Capítulo 13 - Madrugada no telhado
Capítulo 14 - Operação Madrigal
Isso é importante. Leia, por favor.

Prólogo - A pior cerimônia de todas

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By Vivo_Enquanto_Posso

- Narrador -

Em uma manhã ensolarada na pequena vila de Encanto, os raios do Sol brilharam fortes e iluminaram a casa Madrigal, dando vivacidade para toda a Casita, mas um Madrigal em específico parecia incomodado com aquilo: um pequeno garotinho com pele castanho-dourada clara, cabelo castanho-avermelhado escuro e cacheado e algumas sardas no nariz e nas bochechas.

Quando os raios solares ofuscantes atingiram o rosto do jovem Madrigal, ele foi forçado a abrir os olhos para aquela manhã quente deverão. Claro, ter seu sono interrompido, principalmente por uma luz tão forte e ofuscante como a luz do Sol, deixou o pequeno garoto aborrecido e mal-humorado, mas ele tentou manter o seu bom-humor hoje, pois hoje era um dia especial. Vinte e oito de dezembro, seu aniversário de cinco anos e, consequentemente, de seu irmão gêmeo, Camilo. O motivo pelo o qual o dia de hoje é um dia especial é muito mais do que óbvio, pois todo mundo sabe o que acontece na casa Madrigal quando uma criança completa cinco anos: ela recebe um Dom mágico.

A tentativa de se manter bem-humorado de Carlos falhou miseravelmente quando a luz do Sol atacou seus olhos ainda cansados, o fazendo gemer de aborrecimento antes que ele, numa tentativa de se esconder da luz forte da manhã, decidisse enterrar sua cabeça debaixo do próprio travesseiro, na esperança de que pudesse permanecer deitado ao menos mais 10minutos, mas seus planos rapidamente foram por água abaixo quando seu irmão mais velho acordou.

Assim que Camilo acordou, ele esfregou seus olhos e soltou um bocejo alto, ainda um pouco grogue por ter acabado de acordar, mas logo todo seu cansaço desapareceu e foi rapidamente substituído por uma animação incontrolável que fez o gêmeo mais velho pular da sua cama e correr freneticamente até a cama do gêmeo mais novo, sacudindo-o o mais forte que podia enquanto uma expressão exageradamente alegre para quem acabou de acordar, pelo menos na opinião de Carlos, decorava o seu rosto.

- ¡Hermano!¡Hermano! ¡Vamos, despierta! Como é que você consegue dormir num dia como esse?! ¡Vamos, levántate! -

Camilo chamou alegre por Carlos enquanto quase gritava no ouvido do irmão, que já não tinha mais o travesseiro cobrindo sua cabeça, já que foi derrubado enquanto Camilo o sacudia, e nem conseguia mais manter o bom-humor e só pôde gracejar sarcasticamente da alegria exacerbada de Camilo:

- Eu estou pulando de alegria, não está vendo? Mas você está acabando com ela. Agora, déjame dormir en paz! -

Antes que Camilo pudesse responder a grosseria do irmão, Mirabel, a prima mais nova dos dois e praticamente uma terceira gêmea na visão de qualquer estranho desavisado, correu na direção dos meninos, quase tão alegre quanto Camilo ou talvez até mais, para a infelicidade de Carlos.

- Camilo! Carlos! É hoje, é hoje! ¡Hoy es el gran día! -

Mirabel exclamou com animação extrema, também quase gritando no ouvido de Carlos enquanto pulava sem parar ao lado da cama dele, um sorriso animado decorando seu rosto.

- Olha só, Carlos! Até a Mirabel parece mais animada que usted! Levántate, por favor! -

Camilo implorou com uma voz chorosa enquanto juntava suas mãos na frente de seu rosto e fazia a expressão mais fofa que podia para tentar convencer seu irmão mais novo. Carlos apenas olhou para Camilo de canto de olho, encarando a expressão fofa de seu irmão mais velho comum olhar afiado e mal-humorado que jogava maldições silenciosas para os dois que interrompiam seu precioso sono. Carlos apenas soltou um suspiro pesado e encarou Camilo com um olhar aborrecido e frustrado por causa dos protestos chorosos dele e de Mirabel, que tentava parabenizá-lo a todo custo, e então disse com irritação:

- ¡No me importa! ¡Déjame dormir más! -

Tanto o gêmeo mais velho quanto a prima mais nova trocaram olhares irritados e desapontados, ambos olhando para Carlos com um beicinho irritado e fofo em seus rostos.

- Tá, seu chato! Eu e a Mirabel vamos aproveitar o NOSSO aniversário enquanto você dorme aí, como um idiota! -

- Dijo el tonto que no puede dejar de gritar. -

Com um gemido extremamente irritado pela preguiça de Carlos, Camilo saiu do quarto pisando forte para expressar sua raiva enquanto Mirabel simplesmente dava os ombros e decidia seguir seu primo mais velho e deixar seu primo mais novo dormir em paz.

- Naquela noite | Narrador POV -

O dia passou voando, tão rápido que Carlos mal pôde acompanhar enquanto Camilo e Mirabel brincavam juntos durante todo o dia e Dolores, sua irmã mais velha, ficava ao seu lado o tempo todo, ouvindo suas reclamações calmamente enquanto Luisa e Isabela, suas duas primas mais velhas e irmãs mais velhas de Mirabel, ocasionalmente o parabenizavam e lançavam alguns comentários sobre hoje ser o dia especial de Carlos e Camilo, já que eles iriam receber seus próprios Dons mágicos na cerimônia de hoje à noite. Claro, Carlos não deu ouvidos ao que suas primas disseram, mesmo que gostasse muito delas, e decidiu ignorar quaisquer comentários sobre a cerimônia do Dom mágico, pois isso apenas o deixava mais e mais nervoso e assustado, por mais que ele odiasse admitir.

Agora, com a cerimônia prestes a começar, Carlos e Camilo já estavam vestindo seus respectivos ternos brancos e dourados, por conta da tradição da família, e estavam se preparando para receberem seus poderes. Camilo estava irradiando animação, estando orgulhoso e confiante para mostrar o quão pronto estava para enfrentar qualquer multidão que estivesse lá fora para vê-lo durante a cerimônia. Já Carlos, por outro lado, estava sendo o completo oposto do irmão. Ele estava nervoso e assustado, com medo de andar pelo pátio da Casita e então subir as escadas até sua própria porta enquanto praticamente todos os moradores de Encanto o assistiam e o observavam de cima a baixo, analisando cada pequeno movimento dele. Carlos amaldiçoava sua mente ansiosa e assustada por causa de tudo o que estava sentindo, pois tudo aquilo parecia muito mais fácil quando a Abuela Alma contava histórias sobre as cerimônias de Dolores, Isabela e Luisa, ocasionalmente contando histórias sobre as cerimônias de sua mãe, Pepa, sua tia, Julieta, e seu tio, Bruno. Era tudo muito fácil até chegar a sua vez de fazer o mesmo.

- "Como é que o Camilo tá tão calmo? Ele não tá assustado? Ele parece tão despreocupado, é quase como se não se importasse com isso. Por que ele tá tão tranquilo e eu tô tão assustado? Isso não é justo. Nem um pouquinho justo." -

Carlos pensou irritado enquanto encarava seu irmão discretamente de canto de olho com um beicinho triste que ele tentava, em vão, disfarçar. Ele sabia que era feio sentir ciúmes dos outros, principalmente de seu irmão, mas ele simplesmente não conseguia não sentir ciúmes de Camilo, invejando a sua tranquilidade aparentemente infinita. Aquele orgulho radiante de Camilo e sua confiança exagerada só aumentavam ainda mais os sentimentos de ciúmes, inveja e raiva de Carlos, que agora estava com a cabeça completamente virada para seu irmão, encarando o seu gêmeo com uma expressão raivosa por causa de sua tranquilidade, mas ele rapidamente virou o rosto e disfarçou sua expressão quando Camilo o percebeu e então virou para encará-lo. Apesar de sua velocidade, Carlos não conseguiu disfarçar sua expressão e desviar o rosto rápido o suficiente e foi pego no pulo por Camilo.

- Por que você tá me olhando assim? -

Ele perguntou com curiosidade, não conseguindo perceber que seu irmão estava lhe lançando um olhar raivoso e ciumento já fazia alguns minutos. Carlos não olhou para Camilo, com medo de que isso o dedurasse, e apenas respondeu com mentiras:

- Eu não tava olhando nada... Eu não sei do que você tá falando... -

- Mentiroso! Eu acabei de ver você olhando pra mim! Oque foi hermano? Por acaso tá com ciúmes por que todo mundo gosta mais de mim do que você? -

Camilo perguntou provocativamente, seu sorriso se tornando maior quando os olhos de Carlos se arregalaram com a provocação acusadora, que aparentava estar certa.

- O- o quê?! Você sabe que isso não é verdade! -

Carlos rosnou para seu irmão, seus punhos fechados com força e uma carranca irritada se formando em seu rosto por causa da acusação. É claro que Carlos não queria admitir isso, mas ele sempre teve essa suspeita desde os quatro anos de idade, que foi quando as pessoas começaram a tratar ele de uma forma "diferente". Hoje em dia, é bastante óbvio para qualquer um que Camilo é o gêmeo favorito, mas Carlos jamais iria admitir isso. Ele não poderia, ou então isso significaria que seu irmão era melhor simplesmente porque sim, e nada o deixava mais irritado do que isso.

- É verdade, sim senhor! E você sabe disso! -

Camilo zombou em resposta, seu sorriso presunçoso apenas deixando Carlos mais irritado a cada segundo. O gêmeo mais novo pronunciou um "ora, seu" raivoso enquanto erguia suas mãos para tentar estrangular o gêmeo mais velho em um ataque de raiva, mas foi interrompido quando a cortina que separava os dois garotos do resto da casa se abriu, revelando os dois gêmeos de pé lado a lado para toda a população de Encanto, e rapidamente todos se viraram para eles e os encararam. As luzes das velas da Casita foram redirecionadas e brilharam intensamente sobre os gêmeos, como holofotes que apenas deixaram Carlos ainda mais nervoso e assustado do que já estava, mas Camilo simplesmente começou a se aventurar bravamente por entre as pessoas no pátio da Casita como se não houvesse ninguém lá, parando quando finalmente percebeu que seu irmão novo não estava junto com ele.

- Ei, Carlos, vem logo! Tá todo mundo olhando. - (sussurrando)

Camilo chamou por seu irmão com um sussurro e uma expressão levemente irritada enquanto acenava com a cabeça para os aldeões, mas Carlos apenas permaneceu no lugar, completamente imóvel e paralisado de medo. Seu coração batia forte como um tambor, ele estava quase perdendo o controle da própria respiração e até mesmo tremia levemente de medo, morrendo de medo de estragar tudo, e o fato da Casita ter levantando dois ladrilhos de baixo de seus pés para fazê-lo andar não ajudou em nada.

- Eu não posso... - (sussurrando)

- E por que não?! - (sussurrando)

- Por que eu tô com medo. - (sussurrando)

A expressão irritada de Camilo por causa da "manha" de seu irmão mais novo se suavizou quando ele finalmente se deu conta da situação horrível em que o gêmeo mais novo estava. Camilo sabia que ele era o favorito, e ele não negava isso, diferente de Carlos, mas ele nunca tinha parado para pensar como isso afeta seu irmão mais novo. Como é para Carlos viver cercado por essas pessoas que preferem o Camilo a ele, que o evitam e o ignoram por aparentemente nada enquanto Camilo recebe toda a atenção e carinho das pessoas. Uma onda súbita de culpa passou por Camilo e ele sentiu uma forte dor no peito, sentindo seu coração se apertar quando ele percebeu algumas lágrimas assustadas se acumularem nos cantos dos olhos de Carlos, que estava olhando impotente para o chão. Querendo ajudar seu irmão mais novo, Camilo correu rapidamente até Carlos e estendeu sua mão direita para ele.

- Vem comigo. Vamos juntos, nós dois. - (ainda sussurrando)

Carlos ergueu levemente sua cabeça para encarar seu irmão, fungando antes de limpar suas poucas lágrimas e então segurar a mão de Camilo, sendo levado por ele enquanto o gêmeo mais velho liderava a caminhada através da multidão. Quando os gêmeos começaram a subir as escadas que levavam até andar de cima, onde ficavam os quartos, eles inconscientemente se forçaram a olhar para suas respectivas portas, que já explodiam em uma luz dourada mágica e apenas estavam esperando para serem abertas.

De alguma forma, muito provavelmente por magia ou algo do tipo, cada garoto já tinha completa noção de qual porta era a sua, como se suas portas estivessem vivas e sussurrassem seus nomes no fundo de suas mentes, mas isso não assustou e nem intimidou nenhum dos garotos, pois a voz das portas, principalmente a de Carlos, era terna e acolhedora, repleta de amore carinho e até mesmo parecia que iria abraçar os dois e não soltaria. Carlos, com uma imaginação muito mais fértil que a de seu irmão, associou aquela voz ao seu falecido Abuelo Pedro, mas isso parecia loucura até para o próprio Carlos, que afastou esses pensamentos da sua cabeça por ora.

No final da escada, em pé entre as portas, estava a Abuela Alma já com a vela do Milagre, a vela mágica que deu todos os poderes para a família Madrigal, em mãos e apenas aguardando os dois garotos. Camilo tentou correr até ela em uma falta súbita falta de paciência, mas não deu sequer o primeiro passo antes que Carlos apertasse sua mão para impedi-lo, implorando silenciosamente para seu irmão ficar com ele, e assim Camilo fez. Quando os gêmeos terminaram de subir as escadas, eles soltaram as mãos e então andaram calmamente até suas respectivas portas sem hesitação. Logo após isso, Abuela caminhou até Camilo e se curvou até que a vela ficasse ao alcance do garoto, e então começou a falar:

- Camilo, você usará seu Dom para honrar nosso Milagre? Você servirá a essa comunidade e fortalecerá nossa casa? -

Ela perguntou com um sorriso doce no rosto, e então Camilo acenou com a cabeça com entusiasmo enquanto segurava a vela. Abuela então se levantou e se virou para Carlos, começando a caminhar em sua direção e então repetindo o mesmo processo ao se aproximar dele.

- Carlos, você promete que usará o seu Dom para honrar nosso Milagre, para servi as pessoas da nossa comunidade e para fortalecer nossa casa?

Dessa vez não havia sorriso algum, e Carlos percebeu que a vela estava quase fora de seu alcance, como se Abuela estivesse hesitante em permitir que Carlos ganhasse seu Dom mágico. Carlos conteve a vontade de revirar os olhos e suspirar, pois sabia que aquilo era desrespeitoso e deixaria Abuela irritada, e querendo evitar isso, o garoto segurou a vela com toda força, e cuidado, que tinha e respondeu:

- Eu prometo. -

E então Abuela puxou a vela de volta, suprimindo um gemido irritado quando Carlos segurou a vela teimosamente, mas a soltou pouco depois. Logo após isso, os gêmeos se caminharam até suas portas e seguraram nas maçanetas, cada uma com um "C" nelas para representar seus nomes, assim que as alcançaram. No momento em que os meninos tocaram as maçanetas, elas começaram a brilhar intensamente e então esse brilho se espalhou para as portas, que, juntas, brilhavam tão forte que iluminavam toda a Casita Madrigal, mas o brilho logo cessou e então as portas voltaram ao normal. Carlos, sendo jovem e inocente, começou a fazer mil perguntas diferentes em sua mente quando não sentiu nenhuma diferença.

- "Deu certo? Eu ganhei o meu Dom? Qual é ele? Qual Dom as pessoas vão gostar mais?" -

A última pergunta em específico era a que deixava Carlos mais ansioso, pois ele sabia que seu Dom poderia fazê-lo ser amado porto dos, e então ninguém nunca mais o trataria como um incômodo, ou então só tornaria as coisas piores. Todos se entreolharam, um silêncio ensurdecedor tomando de conta da Casita antes que ele fosse quebrado por um suspiro agudo vindo de Camilo, que em seguida soltou um espirro alto, mas isso fez com que sua aparência começasse a mudar entre várias pessoas de Encanto, e entre alguns membros de sua família, incontrolavelmente.

Quando ele voltou ao normal, ele ficou parado onde estava e começou a processar tudo o que tinha acontecido naqueles dois curtos segundos, se virando para a multidão e depois para seus pais com um enorme sorriso radiante e alegre no rosto. Logo em seguida, antes mesmo que alguém tivesse a oportunidade de falar alguma coisa, a luz dourada da porta de Camilo e dissipou rapidamente, mostrando então um entalhe com a imagem de Camilo um pouco mais velho com um sorriso alegre no rosto enquanto três silhuetas pairavam acima dele, representando seu novo poder de mudar de aparência.

- Temos um novo Dom! -

Abuela exclamou animadamente, todos se juntado a ela em sua animação para aplaudir e comemorar pelo novo Dom de Camilo, que estava mais orgulhoso de si mesmo do que jamais poderia estar em sua vida, e jamais vai estar em muitos anos daqui para frente.

- "E quanto ao meu Dom?" -

Carlos pensou com tristeza, mas ninguém parecia se importar com isso, pois estavam ocupados demais parabenizando Camilo. Dolores, percebendo a solidão de seu irmão mais novo, tentou chamar a atenção para ele, mas ela foi interrompida por Abuela:

- Vamos! Vamos abrir o seu quarto! -

Ela disse enquanto sorria alegremente para Camilo, e Carlos pôde apenas ficar ali, sentindo-se completamente invisível e desamparado diante de toda a atenção que Camilo estava recebendo. Ele se perguntava se todos realmente tinham esquecido que ele estava bem ali, pronto para também receber seu Dom. Com um gemido irritado, Carlos finalmente decidiu falar alguma coisa:

- EI! E a minha porta...? -

A primeira parte saiu forte e confiante, Carlos até mesmo se impressionou por um segundo, mas a segunda saiu bem mais fraca e tímida por conta dos inúmeros olhares direcionados para ele de uma única vez, fazendo um pequeno rubor quase imperceptível surgir em seu rosto por causa da súbita atenção. Abuela suspirou levemente, mas seu escárnio era tão óbvio que até irritava Carlos.

- Sim, sim, você pode abrir sua porta depois do Camilo. -

Ela disse com um desdém muito bem disfarçado, mas parece que quatro dos Madrigal, Carlos incluso, conseguiram perceber aquilo. Parecia que Carlos tinha sido deixado de lado, como se fosse indesejado na própria casa. Ele estava lá, mas era tão irrelevante que parecia o exato oposto.

Logo após isso, Camilo mais uma vez colocou a mão na maçaneta da porta e a abriu para revelar seu quarto, uma sala verdadeiramente magnífica: enormes cortinas vermelhas abertas que revelavam um enorme palco brilhante. O quarto de Camilo era um gigantesco teatro, repleto de mesas e cadeiras, cada mesa com retratos completos de todos os moradores de Encanto, para todos se sentarem e até mesmo várias arquibancadas e galerias altas, também repleto de espelhos de todos os tamanhos e formatos espalhados por todos os lados. No topo do teatro, havia candelabros de ouro pendurados no teto que iluminavam o teatro, as chamas dos candelabros cintilando como estrelas no céu. Os olhos de Camilo brilharam enquanto todos os convidadas arfavam impressionados, admirando o quarto de Camilo o máximo que podiam. Carlos, diferente de todos, estava odiando profundamente cada momento, cada passo para dentro do quarto de Camilo só o deixava cada vez mais e mais irritado. Ele nem sequer havia aberto a sua porta e visto o seu quarto, mas já sentia que o de Camilo era superior em todos os sentidos, e o isso o fez se sentir completamente injustiçado. Aquela também era a cerimônia de Dom dele, mas mesmo assim, toda a atenção só era voltada para Camilo, como sempre.

- "Por que eu ainda tô aqui...?" -

Carlos se perguntou melancolicamente, fungando levemente e limpando algumas lágrimas de frustração e raiva que se acumularam em seus pequenos olhos. Se sentindo indesejado, ele sequer pensou em abrir sua porta, querendo apenas sair dali o mais rápido possível, mas no momento em que ele se virou para ir embora, ele bateu de cara contra as pernas de seu pai, Félix, e então olhou para cima apenas para encontrar um olhar sério vindo dele.

- Onde você pensa que vai? -

Ele perguntou sério enquanto cruzava os braços sobre o peito. Carlos se sentiu inseguro e levemente assustado, com medo do que seu pai diria se ele dissesse a verdade. No entanto, essa insegurança sumiu completamente quando seu pai lhe deu um sorriso orgulhoso e um polegar positivo.

- Você não pode ir embora ainda, você ainda não abriu a sua porta. -

Ele disse com um tom encorajador, e isso fez com que Carlos se sentisse a pessoa mais confiante do mundo. Ele pode fazer isso, ele vai fazer isso. Ele vai mostrar para todo mundo que ele é tão bom quanto Camilo. Não, ele vai mostrar para todo mundo que ele é melhor do que Camilo, ele vai mostrar para todo mundo que seu Dom e seu quarto são melhores do que os do Camilo. Ele finalmente vai ser o favorito, não o Camilo. Assim que mostrar seu Dom, os convidados vão ficar impacientes para verem seu quarto, e vão arfar ainda mais forte do que quando viram o quarto do Camilo. Carlos vai colocar o Camilo no seu lugar, e então ele finalmente vai saber como é ser a segunda-não. Carlos não é a segunda opção, ele é a última opção, sempre a última opção. Agora, ele vai fazer Camilo se sentir do mesmo jeito.

- Tá bom! -

Carlos exclamou com animação extrema, um grande sorriso alegre, tão grande ou até maior do que o sorriso de Camilo, decorando o seu rosto pela primeira vez no dia. Sem querer perder mais tempo, Carlos correu até sua porta tão rápido quanto podia, sendo seguido por seu pai logo atrás. Quando Carlos tocou na maçaneta da porta pela segunda vez, a porta brilhou tão intensamente que forçou o garoto a fechar os olhos enquanto a luz ofuscava toda a Casita, fazendo toda a casa Madrigal brilhar e ser visível de todos os cantos de Encanto. Obviamente, isso atraiu a atenção de literalmente todo mundo, e logo todos os convidados foram ver o que havia acontecido. Quando a luz diminuiu, havia um entalhe dourado na porta de Carlos, uma versão também mais velha dele correndo com um relógio preso em um colar pendurado em seu pescoço enquanto alguns raios o cercavam e ele deixava um rastro de poeira para trás enquanto corria.

(Imagem ilustrativa que também não me pertence. Se você conhece o criador original, me avise para eu lhe dar os devidos créditos.)

Depois disso, Carlos tentou ver se alguma coisa tinha mudado nele, mas não conseguiu perceber nada. Porém, quando ele olhou para seu pai, ele estava completamente imóvel assim como todos os convidados, todos completamente imóveis e paralisados enquanto Carlos tentava a todo custo fazer eles se moverem, balançando suas mãos na frente dos rostos das pessoas e chamando por elas, mas nada parecia adiantar. Carlos, nem pensando em desistir, tentou novamente, mas acabou dando um passo em falso e acabou tropeçando, e quando ele tentou recuperar o equilíbrio, ele acabou correndo mais rápido do que podia perceber a bateu com a cara numa parede, fazendo um barulho alto e assustando todos com a batida enquanto tudo voltava ao normal. Félix rapidamente correu até seu filho e o ajudou a levantar, mas Carlos estava com um rosto inexpressivo, processando tudo o que tinha acontecido.

- Mi hijo, você tá bem?! Você se machucou?! Quebrou algum dente com a pancada?! -

- Félix!! -

- Que foi?! Você não viu como ele bateu com a cara na parede?! -

- Não, eu... Eu não vi. -

- Como não viu?! Ele tava bem na frente da porta dele e então... -

Félix e Pepa pararam de discutir sobre seu filho quando ambos se deram conta que nem sequer viram o que tinha acontecido. Todos olharam curiosos e confusos para Carlos, na esperança de que o garoto soubesse qual poder tinha ganhado ao adquirir seu próprio Dom, mas todos só ficaram ainda mais confusos quando o garoto começou a sorrir estranhamente alegre, mais alegre do que tinha ficado nos últimos meses, e aquilo até mesmo deixou alguns assustados.

- Eu... Eu corri... Só isso, eu corri, mas foi muito, muito, muito rápido! Papá, eu consigo correr rápido! Eu sou super-rápido! -

- Temos um novo-... -

- TEMOS UM NOVO DOM!!! -

Félix interrompeu Abuela extremamente alegre enquanto jogava os braços para cima com animação, e então todos os moradores de Encanto se juntaram a animação dele. Logo em seguida, Félix pegou Carlos e o segurou no ar, girando o garoto enquanto ria quase extasiado, fazendo Carlos rir enquanto todos comemoravam e aplaudiam.

- Papá, e o meu quarto? -

- É claro, mi hijo. Agora mesmo. -

E então Félix colocou seu filho no chão, e antes mesmo que tivesse tempo de notar, Carlos já estava na frente da sua porta e a abrindo. Todos se impressionaram com a velocidade de Carlos, e logo uma tensão feroz tomou de conta de todos enquanto uma luz ofuscante saía de dentro do quarto de Carlos. Quando a luz diminuiu e todos puderam ver o interior do quarto, tudo o que viram foi um pit stop de corrida, mas repleto de coisas comuns de um quarto ao invés de acessórios e equipamento de corrida, e na frente do pit stop havia uma pista, uma pista muito longa que tinha loops e curvas impossíveis de serem realizadas mesmo pelos carros mais rápidos que existiam. Os olhos de Carlos brilharam com aquela visão, o seu quarto é literalmente o local de testes perfeito para seus poderes, e apenas imaginar a adrenalina percorrendo o seu corpo enquanto ele corria pela aquela pista impossível fez o pequeno Madrigal se arrepiar, e logo ele começou a rir alegremente enquanto começava a correr pela pista. Cada loop, cada curva, cada volta, tudo aquilo somado com a Super Velocidade e a adrenalina de seu Dom recém-recebido deixou Carlos extasiado. Era fácil afirmar que ele nunca esteve tão feliz em toda sua vida.

- Isso é incrível! Eu adorei! -

Ele exclamou enquanto finalmente parava de correr e voltava para perto de todos com um sorriso alegre e radiante no rosto, orgulhoso de si mesmo por seu novo Dom incrível e seu novo quarto tão incrível quanto, mas logo esse sorriso desapareceu quando ele viu a expressão de todos os convidados. Expressões amargas e confusas, que encaravam tudo aquilo apenas como uma aberração. Eles odiaram, era completamente inútil para eles e com certeza era inviável para qualquer um deles sequer tentar correr por aquela pista, era algo que apenas Carlos, exclusivamente Carlos, poderia gostar, aproveitar, amar... Todos começaram a sussurrar e a resmungar, reclamando sobre o quarto e até mesmo falando o quão ridículo ele era. A tensão de antes sobre Carlos só havia piorado agora, e isso era exatamente o que ele temia.

Abuela estava completamente pasma e sem palavras, procurando desesperadamente por uma desculpa para mudar os holofotes de volta para Camilo, até mesmo Félix e Pepa, os próprios pais de Carlos, pareciam desconfortáveis por apenas estarem naquele quarto.

- B- bem, tenho certeza que todos prefeririam festejar, uh... Neste quarto! Música, por favor! Venham todos! -

Abuela disse, rindo um pouco para ajudar a aliviar o clima. Rapidamente e sem pensar duas vezes, todos os convidados correram de volta para o quarto de Camilo, o parabenizando novamente por seu Dom e por seu quarto incríveis, apenas para esquecer que o quarto de Carlos existia.

- Vem, Carlito, vamos comemorar um pouco no quarto do Camilo. -

Félix chamou enquanto tentava confortar Carlos, mas o jovem Madrigal, agora verdadeiramente a beira das lágrimas, simplesmente se afastou de seu pai usando sua Super Velocidade, o encarando como se ele o tivesse traído. Era tão injusto, Carlos nunca tinha feito nada de errado, sempre tinha obedecido aos seus pais e foi respeitoso com todos, sempre tinha se esforçado para ser o melhor possível, mas, por algum maldito motivo, o Camilo era a criança de ouro, a criança mais adorada por todos (excluindo Isabela), o favorito de todo mundo... O mais amado...

- "Por quê?! Por que o Camilo?! Por que sempre o Camilo?! O que o Camilo tem que eu não tenho?!" -

Carlos se perguntou enquanto lágrimas começavam a cair de seus olhos. Lágrimas de raiva, lágrimas de frustração, lágrimas de tristeza, lágrimas de confusão. Carlos não entendia, ele não entendia por que as pessoas pareciam simplesmente odiá-lo sem motivo, ele simplesmente não conseguia entender. Ele não entendia por que Camilo era tão amado por todo mundo, por que Camilo era tão especial sem fazer nada. Ele só queria ser especial também, ele queria que as pessoas também gostassem dele. Ele só-...

- Carlos? -

Sua mãe chamou por ele, o tirando de seus pensamentos tão sombrios e tristes. O jovem Madrigal, ainda com lágrimas nos olhos, olhou timidamente para sua mãe, que lhe deu um sorriso caloroso.

- Que tal irmos comer alguma coisa, hein? -

Ela ofereceu calmamente, seu sorriso deixando Carlos tranquilo e o fazendo esquecer-se de suas lágrimas.

- Tá bom... -

Ele respondeu lentamente. Pepa sorriu novamente para seu filho e segurou sua pequena mão direita, o guiando para fora do quarto junto com seu pai, que segurou sua mão esquerda e andou junto com os dois até chegarem às escadas, quando Félix teve que ir até o quarto de Camilo para não deixá-lo sem supervisão, e então Pepa e Carlos desceram para a cozinha. Lá, Carlos estava comendo calmamente no colo de sua mãe, que ocasionalmente limpava sua boca suja de farelos de arepas.

- Mamá... -

- Sim, mi hijo? -

- Eu te amo.

- Eu também te amo, Carlito. -

Pepa respondeu com um sorriso gentil e caloroso, seu coração se aquecendo mais e mais com amor enquanto Carlos continuava comendo desajeitadamente e ela era obrigada a limpá-lo. Em algum momento depois disso, Carlos tinha se esquecido completamente de que tinha chorado, tinha se esquecido dos seus sentimentos ruins, tinha se esquecido de todas as coisas ruins do seu dia. Agora, ele estava rindo e sorrindo com sua mãe enquanto comia uma arepa deliciosa feita pela sua tia Julieta. Carlos não estava preocupado, não mais, pelo menos. Ele tinha arepas deliciosas, ele tinha um Dom incrível, um quarto fantástico e ele também tinha uma mãe que sempre o amaria e sempre estaria ao lado dele nos momentos mais difíceis. Carlos só precisava daquilo, e mais nada. Em algum momento depois disso, Carlos adormeceu ainda no colo de sua mãe, e então o seu aniversário deixou de ser mais um dia ruim para se tornar apenas uma memória distante.

Olá. Esta não é só minha primeira fanfic de Encanto, como também é meu primeiro trabalho aqui no Wattpad. Eu espero que você, que está lendo isso, tenha gostado da leitura. Este é apenas o primeiro capítulo da história de Carlos, eu quero adaptar o filme inteiro para essa primeira história. Eu não sei ao certo quantos capítulos essa história vai ter, mas não muitos eu espero. Este primeiro capítulo em especifico foi fortemente baseado nesta história aqui: (https://www.wattpad.com/story/303128921-a-true-menace-to-society-carlos-madrigal-x-reader). Mas não se preocupe, pois essa história não vai ter ship e nem nada do tipo, eu quero mais me focar na relação entre Carlos e Camilo e na sua busca pelo Bruno com a ajuda de Mirabel. Tendo dito isso, passar bem, caro leito, e até a próxima.

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