Aviso: Este capítulo contém cenas fortes de morte, se for um gatilho para você recomendo que se desejar ler o faça com cautela.
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EMBORA O RECEIO de se afastar fosse grande não impediu os Guardiões de tomarem tais decisões cruciais para se adptar ao terreno e localização do Circo, e decidindo correr o risco de se separar os jovens partiram cada um para uma direção com a intenção de achar o circo certo mais rapidamente.
Com o passar do tempo em que cada um se esgueirava por entre as árvores da floresta foram ficando claros os pontos em que as tendas e os materiais de circo estavam localizados. Grandes tendas armadas de cores diferentes, algumas azuis e brancas e outras vermelhas e brancas mostravam uma aparência inocente por fora, o que escondia a putrefata história que lhes sucedia posteriormente.
Com o coração enrijecido a jovem princesa de cabelos dourados planejava adentrar à sua maneira na tenda para ter certeza da posição da criança, algo que não foi muito necessário visto que o choro de uma pequenina ecoou de dentro das lonas do Circo trazendo Arabella de volta a realidade, com seu íntimo abalado e a revolta em seu peito trazendo-lhe uma grande onda de adrenalina a loira esquece do sinal que seu grupo havia combinado momentos antes e arrancando a espada que pertecera a Grace da bainha sai de detrás das árvores com um desejo ardente de salvar a jovem garotinha de quem quer que a fizesse chorar, faria isso por Malia e por Lucinda, como futura rainha não permitiria que seu povo voltasse a sofrer nunca mais.
Era comum para Arabella agir de acordo com suas mais profundas emoções, não lhe era estranho manter sua consciência trancada atrás de grades dentro da sua própria mente, permitindo que seus instintos mais selvagens e adrenalina tomasse conta da situação, claramente a jovem possuía um coração mais forte que a mente e isso lhe causava sempre profundos arrependimentos, traumas e até mesmo feridas terríveis, mas nesse momento estava disposta a manter as postas da gaiola aberta, apenas para ter certeza de que no momento certo garantiria a segurança da pequena criança, ainda que sua própria vida entrasse em perigo nesse meio.
Atravessando a clareira com a leveza e graça de um tigre de bengala Arabella mostraria com cautela que até mesmo ela conseguiria ser irracionalmente razoável, com o rosto coberto por seu tecido amarelo, os cabelos encimados pelo capuz do traje escuro que vestia, com uma espada em uma mão e apertando seu punho como garantia de que não escorregaria com o suor em sua palma ela adentra o grande circo por trás, se deparando com uma imagem que certamente não lhe sairia da mente até que não tivesse mais vida em seu corpo.
O cheiro putrido de morte invadindo suas narinas dava boas vindas ao verdadeiro submundo dos Colecionadores de Atrações, pessoas asquerosas que sentiam prazer em comprar Atrações como se fossem objetos, as expunham nos circos como aberrações da natureza, uma extravagância nojenta que mostrava a índole dessas pessoas. Um grande pulsar de realidade vem em ondas para Arabella, ao ver com seus próprios olhos o estado das Atrações que se encontravam ali, lhe causando enjoo e muita dor na consciência tudo que a jovem conseguia pensar era: "como pude deixar que isso acontecesse com meu reino?!"
Os corpos esqueléticos empilhados em uma jaula fediam a morte, e pareciam que estavam ali a algum tempo, o odor ácido e sufocante tomava conta de todo o ar dentro daquela tenda, fazendo Arabella sentir que perderia seus pulmões se permanecesse ali, os barulhos de dor podiam ser ouvidos por todo lugar, gemidos e lamentação, pessoas choravam, presas a gaiolas pequenas, abraçadas as suas pernas essas pessoas demonstravam medo ao ver a imagem de Arabella adentrar ainda mais por ali, o peito de Arabella afundando de dor não poderia ser simplesmente explicado, e nem sequer a dor de ter uma estaca perfurando seu peito passaria a que a garota sentia agora.
Engolindo em seco, com uma expressão de angústia e pavor congelada em seu rosto Arabella caminhava a passos lentos observando as uma, duas, três... vinte pessoas que pareciam ainda estar vivas, porém tão debilitadas que a própria morte poderia vir ao seu encontro para lhes visitar a qualquer momento, haviam jovens, adultos e idosos em meio à todas as pessoas, sendo os idosos a maior parte dos falecidos que amontoavam a grande jaula. Pondo a mão sobre a boca Arabella não conseguia pensar em mais nada que apenas queimar esse circo até vê-lo se esfarelar em cinzas com seus donos dentro.
Ouvindo um assobio característico ao de um canário Arabella nota que este era o sinal de seus amigos, provavelmente estavam procurando por ela, porém sem ter forças de responder ela apenas é tomada pela súbita fúria que a leva a quebrar as trancas das pequenas gaiolas uma por uma com sua espada, a ação da pessoa desconhecida que entrara ali empunhando uma espada acabou deixando as Atrações aterrorizadas, as vozes e gritos deles ecoando alto pela floresta terminam por chamar a atenção do grupo que procurava pela princesa, e prevendo que um desastre chamado "Arabella" estava prestes a acontecer Viktor sai em disparada em direção ao som sendo seguido por seus amigos, extremamente preocupados e ansiosos.
— O que está havendo?! O quê são esses gritos?! – pergunta a jovem negra que corria com os cabelos cacheados balançando volumosos em sua cabeça esquecendo de cobrir-se com seu lenço e capuz.
— Eu não sei o que é! Mas precisamos chegar log- – diz Viktor com a voz falha, correndo a plenos pulmões – A-Arabella deve estar em perig- – sem conseguir completar suas frases direito o ruivo tira as adagas de sua roupa adentrando a clareira em que se encontrava um circo de aparência comum, vindo dele os gritos aumentavam como se uma chacina estivesse ocorrendo ali, mas antes que pudessem avançar mais para verificar o ocorrido pessoas surgem de dentro da floresta e da entrada do Circo, parecendo furiosas e surpresas ao se verem encurraladas pelo grupo de Guardiões.
— Q-QUEM SÃO VOCÊS?! – Pergunta um homem alto de aparência comum, um fridiano de cabelos castanhos e olhos pretos, com uma longa barba preta em seu rosto que parecia um ninho de periquitos – Estão saqueando meus produtos?! SAIAM JÁ DAQUI! VOU MANDAR CHAMAR A GUARDA DE FRID! – completamente desequilibrado com o grupo encapuzado, notando que eram acompanhado por uma Atração de aparência distinta o homem começa a rir alto – O que é isso?! Veio salvar seus amiguinhos seu inseto?! Quando a guarda de Frid chegar aqui vou separar um lugar especial para você no meu circo! – com o comentário asqueroso do homem não levou muito tempo até perceber que havia sido lançado para dentro do Circo, com as costas batendo no chão o homem grasna de dor. Olhando para o próprio punho, Lisianto faz uma cara de nojo ao o observar pingando o sangue asqueroso do homem repulsivo.
O ato do albino iniciando uma revolta nos trabalhadores do Circo que ao ver seu chefe voar para longe simplesmente avançam em direção ao grupo com fúria e sede de sangue, não permitiriam que Atrações, tão inferiores ao seu chefe o humilhassem assim, era o que pensavam os tais funcionários. Não tendo muito tempo de reação haviam se metido em uma briga que não podiam vencer, Lisianto com seus punhos poderosos derrubava homens com tanta facilidade que parecia que lhe foi conferindo realmente um poder anormal como Guardião, Marjorie que era ágil não se permitia ser tocada por qualquer um daqueles homens e se pendurando em um galho forte e erguendo seu corpo com a força dos seus braços se jogou em cima de um jovem que tentava apanhá-la, o atingindo no pescoço com seu cotovelo e o desmaiando, Malia que era mantida atrás de Math e Viktor queria ajudar, mas sempre que escapava de detrás deles era puxada novamente, aquilo lhe causava muita frustração, ela não tinha uma força especial, uma grande agilidade, habilidades de luta ou até mesmo de facas, o que poderia fazer para ajudar?! Olhando ao redor e notando um grande alvo vermelho e branco, que continha uma aljava ao lado, a negra vê uma oportunidade de finalmente ser útil em batalha, ao tocar a aljava e pô-la nas suas costas, sente sua visão ficar turva por um segundo, sendo seguida de uma dor de cabeça, mas esta ignorando as sensações estranhas que a tomavam encaixa a flecha no arco e vendo um homem alto e extremamente furioso vindo com furor em sua direção...
— MALIA CUIDADO...! – a voz de Viktor sendo cortada pelo zumbido da flecha que corta o ar com maestria e acertando o coração, com a precisão de um profissional, do grande homem que cai para trás, sem vida – ... com ele... – continua Viktor boquiaberto com o que acabara de acontecer, ainda não podendo nem sequer raciocinar sobre o ocorrido um homem logo atrás de si é atingido por outra flecha em meio à testa com exatidão, virando-se rapidamente ao perceber que aquele homem pretendia apunhalá-lo Viktor se surpreende com a incrível habilidade de Malia com o arco e flecha – a quanto tempo você sabe fazer isso?! – questiona o ruivo chutando a barriga e seguindo direto para um soco no maxilar de um jovem que cai estatelado no chão.
— Eu não sei! Eu nunca toquei em um arco e flecha ANTES! – Dizendo a última palavra com ênfase após ser erguida pelos braços de Lisianto que a segura pela cintura, a tirando do caminho de uma facada, e chutando a barriga do homem Lisianto solta a negra enquanto rosna raivoso para o velho que caído no chão pedia para que não lhe batesse.
— Seu covarde, tem coragem de atacar uma moça, mas não quer levar uma surra de mim! – rosna mais uma vez o albino, causando uma incontinência urinária no homem apavorado.
— Está tudo bem Lisianto, deixe-o ele já está velho, precisamos respeitar os mais velhos – diz Malia impedindo que Lisianto avançasse, pondo as mãos em seu peito, com a expressão abrandando ao olhar para os olhos brilhantes da negra Lisianto não percebe enquanto o homem se arrasta para dentro da floresta e foge, até que seja tarde demais.
— Mas que droga! Ele fugiu! – exclama o albino socando uma árvore logo atrás de si,
— Não tem problema, já foram todos – Math retira seu casaco que havia ficado manchado de sangue – aliás foi bem mais fácil do que pensei – limpando a testa suada com as costas do braço, Math dobra o casaco e olha ao redor – Arabella ainda não apareceu Viktor! Viktor? – olhando ao redor confuso sem saber onde o ruivo fora parar Math, Lisianto, Malia e Marjorie se dirigem até os fundos do Circo onde encontram a pior cena que já viram em suas vidas, e lá estavam Arabella que cobria uma garotinha franzina, suja e fraca com seu casaco, a pondo em seus braços e Viktor que tão chocado quanto seus amigos tentava digerir toda aquela informação.
— Precisamos ajudá-los! – Exclama Arabella chamando a atenção do grupo – essa não é hora para ficar assustados, precisamos mantê-los em segurança, e tirá-los daqui! Tem 5 idosos, 8 adultos, 6 adolescentes e uma criança, rápido vamos tirar eles daqui antes que a Guarda de Frid apareça! – com o coração a mil Arabella tentava pensar desesperadamente em como ajudariam todas aquelas pessoas, não tinham roupas nem mesmo alimento suficiente para todos.
— Sim! – responderam os Guardiões correndo para ajudar os fracos a andar e carregando os idosos nos braços, não seria fácil mover todos os doentes e debilitados dali para longe, fugir com todos antes da guarda chegar parecia um plano impossível.
— É impossível minha Rainha, eu gostaria de dizer que vamos salvar todos eles mas não podemos levar todas essas pessoas para longe a tempo! – Viktor carregava uma idosa de cabelos grisalhos e olhos verdes nos braços – Vamos ter que tomar uma decisão, eu sinto muito! – franzindo o cenho e se sentindo abatido de não poder ajudar como gostaria Viktor sente seu peito apertar, queria salvar aquelas pessoas, precisava salvar a vida deles, a vida que o seu pai destruiu, precisava concertar tudo que seu pai havia quebrado.
— Não vamos tomar decisão alguma, eu não vou sair daqui até termos salvado todos eles! – Malia diz ajudando um jovem raquítico e em frangalhos a se levantar.
— Ela tem razão, eu não me perdoaria se deixassemos qualquer um deles para trás, antes eram muito mais e morrerem das formas mais cruéis possíveis, eu não vou abandonar eles aqui para morrerem também! – a criança no colo de Arabella chorava apavorada, não fazia ideia do que estava acontecendo, estava com medo, tanto medo... – Calma meu amor, vai ficar tudo bem... – consolando a garotinha pequena, fazendo-lhe carinho na testa Arabella consegue acalmar um pouco a criança que olha para ela com uma expressão muito curiosa – você vai ficar bem, não vou deixar que nada aconteça a você, eu prometo! – com um sorriso gentil Arabella deita a criança em seu peito cobrindo seu rosto com seu casaco, não queria mais que a garotinha visse todo aquele caos novamente.
Do outro lado, um cérebro funcionava com muita intensidade, gastando bastante glicose para elaborar um plano Marjorie faria o possível para salvar todas aquelas pessoas, era uma guardiã afinal.
— Eu tenho uma ideia para salvarmos todos eles – diz Marjorie recebendo a atenção de todos – mas vocês provavelmente não vão gostar...