Zombie World - A Evolução (Li...

Od saints_bruno

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Improváveis alianças interceptam o progresso de Taylor, quando uma guerra toma diferentes lados. Daisy constr... Více

Recapitulando...
Prólogo
Parte 1
Capítulo 1 - Dias de um passado esquecido
Capítulo 2 - A estranha e o monstro
Capítulo 3 - Carpe Diem
Capítulo 4 - Glaube
Capítulo 5 - O cubo
Capítulo 6 - A encruzilhada
Capítulo 7 - Isso não é um zumbi
Capítulo 8 - A incrível, fabulosa e assustadora máquina de destruir zumbis
Capítulo 9 - Inimigo?
Capítulo 10 - Feridas do passado
Capítulo 11 - A casa azul
Capítulo 12 - Filme de terror
Capítulo 13 - Sacrifício
Capítulo 14 - A rainha dos corvos
Capítulo 15 - Espólios de uma guerra
Parte 2
Capítulo 16 - Hurt
Capítulo 17 - Santa Clara
Capítulo 18 - Ann e Alex
Capítulo 19 - A face da morte
Capítulo 20 - A garota misteriosa
Capítulo 21 - Quem é você?
Capítulo 22 - Cicatrizes
Capítulo 23 - Detroit
Capítulo 24 - Kirby Reed
Capítulo 25 - Os estranhos
Capítulo 26 - O bicho-papão
Capítulo 27 - O lobo
Capítulo 28 - O que é justiça?
Capítulo 29 - Darwin
Capítulo 30 - Esperança
Parte 3
Capítulo 31 - O esquadrão suicida
Capítulo 32 - Autoconsciência
Capítulo 33 - Porcos
Capítulo 34 - Show de horrores
Capítulo 35 - 149
Capítulo 37 - Laços profundos
Capítulo 38 - O agente do caos
Capítulo 39 - A batalha de Daly City
Capítulo 40 - Sem volta para casa
Epílogo I
Epílogo II
Epílogo III
O que vem agora? Terceiro livro, spin off e remake...
Em breve

Capítulo 36 - Entre nós

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Od saints_bruno

Daly City


Aquela tarde havia sido um total tédio. Limitada a participar das atividades por instrução da doutora Evanna, Kitty passou aquelas últimas horas bisbilhotando a colônia. Tentou preocupar-se menos com Nick, sabia do que ele era capaz e que logo estaria de volta, trazendo todos os seus amigos de volta são e salvos. O que ainda aborrecia ela era de estar impossibilitada de ajudar e de estar presente onde a sua mente lhe obrigava a estar. Kitty era uma jovem de coração gigante e ávido, que a movia para diferentes direções que necessitavam dessa sua virtude.

Após horas de uma caminhada sem algum fim, Kitty decidiu retornar para o seu quarto e tomar um banho. Lavou seu cabelo, hidratou seu corpo, cantou no chuveiro, agiu como se fosse um dia normal em um mundo normal. E de certo modo, aquilo havia sido bom para ela. Seu amado companheiro do apocalipse ficou em segundo plano e ela conseguiu controlar sua ansiedade e ser mais ela, uma simples garota jovem e vaidosa.

De banho tomado, trajou algo mais confortável. Vestiu uma calça de moletom preta e um blusa cropped bege. Secou seus cabelos com um secador emprestado pela Naomi e um lenço azul para amarra-los. De frente ao espelho, contraiu a barriga e se admirou. Feridas eram suas marcas de sobrevivência, mas ainda era uma linda mulher. Uma força inabalável era percebível sobre isso, herança de sua mãe. Foi nesse instante que Kitty percebeu que não havia visto sua mãe em nenhum momento daquela tarde. Por onde anda a dona Zoe?

O lugar mais lógico para começar a procurar sua mãe era o quarto dela, que ficava bem ao lado do seu. Kitty bateu na porta e ninguém se manifestou. Ela, então, girou a maçaneta e abriu a porta. O quarto estava vazio e organizado do mesmo jeito de quando conversou com sua mãe naquela manhã. Poderia procurar por ela também na sala de controle ou de reuniões, mas sabia que ela não estaria ali quando nem mesmo participou da última reunião com Ador. O último lugar naquela colônia que Kitty poderia procurar era o escritório do Ador. Com o líder fora, Zoe poderia passar a tarde livre executando as tarefas que tivesse para fazer, longe de qualquer incômodo.

Toc toc. Kitty bateu na porta do escritório e nem esperou que alguém permitisse sua entrada. As luzes estavam acesas e se Ador não estava na colônia, apenas Zoe ou Lue poderiam entrar ali.

- Mãe? - chamou Kitty ao adentrar.

- Kitty, meu bem - respondeu Zoe, bastante concentrada no que fazia sentada à mesa do escritório. - Como está se sentindo?

- Eu estou bem - Kitty revirou os olhos. - Um pouco preocupada com o Nick e... também te estranhando. Não participou da reunião do conselho, não foi à sala de controle... o que tá acontecendo, mãe?

Kitty caminhou para perto da mesa e observou a extensa camada de papéis com que Zoe escrevia. Eram umas palavras desconexas do inglês e diferentes de qualquer idioma que Kitty conhecesse.

- Estive ocupada trabalhando... com algumas coisas - Zoe a respondeu, sem deixar de olhar para aqueles papéis.

- Ocupada criando um novo idioma? - ironizou Kitty, erguendo as sobrancelhas. - O que tanto escreve nesses papéis?

- É-é... - Zoe se agitou menos sobre a cadeira e olhou diretamente para a sua filha. - Não é nada demais, apenas me servindo pela segurança da nossa colônia.

- Mãe, olhe para a senhora. Está exausta, cheia de olheiras e descabelada. Precisa descansar ou vai acabar enlouquecendo. E temos outras coisas a se preocupar nesse momento, não acha?

- Certo - concordou Zoe finalmente, empurrando a pilha de papéis e se levantando da cadeira. - Você está certa, minha filha. Vamos falar de você então. - ela parou em frente a sua filha e segurou as mãos delas, a olhando nos olhos. - E eu te conheço muito bem, Kitty. Pode disfarçar por fora, mas está passando uma tempestade aí dentro. O que te aborrece?

Kitty se segurou, mas não conseguiu evitar e precisou desabafar. Era um sentimento relutante quando aos seus pensamentos a respeito de Nick em Santa Clara.

- Eles não deram notícias - Kitty começou a chorar e repousou sua cabeça no ombro de sua mãe. - E se tiver acontecido alguma coisa? Mãe, estou com medo de perder o Nick.

- Oh, minha filha. - Zoe alisou o rosto dela. - Você está apaixonada. É normal sentir medo às vezes. E Nick é um garoto forte e valente. Ele vai voltar e você sabe disso.

- Mas e se for uma armadilha? Quem garante que aquela soldada metida de nariz em pé não vai causar algum mal a ele?

- Tá preocupada mesmo ou com ciúmes?

- Mãe - Kitty deu um cutucão na costela de sua mãe e ela começou a rir.

- É claro - Zoe continuou rindo enquanto a consolava. - Nick não transou com ela e...

- MÃE - ela deu outro cutucão e Zoe segurou o riso dessa vez. - Para.

- Me desculpa. É que eu não sou muito boa em consolo.

- Aham... Debochar da filha é mais a sua praia.

- Ah, seja sincera. Você nunca reclamou de eu ser assim.

- É impressão minha ou a senhora está se esforçando em parecer uma mãe mais... descolada, se assim posso chamar.

- Para eu ser descolada, falta apenas ir nas baladas com você e pegar os carinhas mais bonitinhos enquanto você segura minha bolsa.

- Isso é vergonhoso! - exclamou Kitty, limpando as lágrimas do rosto.

- E me deparar com a minha filha transando no meu quarto, não é? Poderiam ter feito isso no quarto dele.

- Agora você está me envergonhando - e Kitty realmente estava com as bochechas vermelhas.

- Mas me diz. Como ele é de cama? Foi bom?

- Mãe...

- Usaram preservativo?

- MÃE...

- Você deve ter dado trabalho, porque ele parecia estar com tanta dor nas costas aquele dia.

- Já deu, dona Zoe - Kitty colocou a mão no rosto. - Virei uma piada.

- Ah filha, venha cá - Zoe a puxou. - Eu sei como te agradar...

Em um momento de mãe e filha, Zoe começou a fazer muitas cócegas em Kitty, que não sabia se gargalhava ou reclamava de dor. As duas continuaram se divertindo até que alguém bateu na porta, freando aquele instante necessário na vida das duas. Antes de abrir a porta, Kitty puxou sua mãe para perto de si e arrumou o cabelo dela, que parecia ter sido eletrocutada.

- Espero não estar as incomodando - disse Maggie, ao espiar o escritório. Ela não estava usando as muletas, mas mancava um pouco ainda.

- Claro que não, Maggie - respondeu Zoe, a acomodando para dentro do cômodo. - Só estávamos... - Zoe e Kitty se entreolharam e as duas seguraram a risada. - Tendo uma conversa séria de mãe e filha.

- Isso é um gatilho para mim - Maggie comprimiu aos lábios, relembrando de sua mãe.

- Sinto muito - Zoe puxou a cadeira para que ela se sentasse. - E então, Maggie? No que posso te ajudar?

- É sobre a segurança da colônia, Zoe - Maggie estava séria. - Acho que tem um impostor entre nós.

***

Fortes trovões retumbavam no horizonte. A tempestade havia dissipado para longe, mas ventos gelados ainda cruzavam para dentro da colônia, junto de uma densa névoa. Mais tochas haviam sido dispostas ao longo da muralha e algumas luzes de natal foram reaproveitadas para iluminar a praça principal. Com o frio, muitas pessoas recuaram para os edifícios e as poucas que ainda ficaram de vigia no portão, precisaram redobrar sua atenção. A guerra estava por perto.

Callum, com o apoio de uma bengala, se dispôs a ficar na vigia pela primeira vez. Havia um preconceito muito evidente quanto ao fato dele ser um Corvo, ainda que jurasse não os apoiar e Maggie reforçar ter sido salva por ele. Por onde andava, sempre haviam olhos o perseguindo e insultos sendo balbuciados. Robusto, ele manteve sua postura e não deixou-se abalar por mais infelizes fossem os comentários acerca dele. Caminhou sobre a muralha e encostou-se na pilastra de madeira, observando o escuro e nefasto silêncio que tomava a larga rua. Um vapor condensado se formava perto de seu rosto com a sua pesada respiração.

- Por que tenho a sensação de que irá nevar quando já estamos no fim do inverno e em território californiano? - questionou um homem alto, de barbas negras compridas e a cabeça coberta por uma boina verde-musgo.

Callum o fitou, surpreso por se aproximar dele. Conforme Maggie havia apresentado alguns nomes para ele de manhã, Callum imaginava que aquele homem seria o Trevor Spines, um simpático canadense que liderava a vigília noturna. A julgar pela primeira impressão, Maggie parecia estar certa ao falar de sua simpatia.

- Considerando que estamos no fim do mundo, não seria estranho - Callum respondeu, com um modesto sorriso.

O velho Trevor soltou uma risada estranha e alta. Seu hálito tinha cheiro de rum, mas ele não parecia estar bêbado. Ele grunhiu alguma coisa que Callum não conseguiu entender, o que parecia ter pensado alto apenas. Após um tempo fitando a rua adiante, Trevor voltou a dizer.

- Eu morei aqui quase a vida toda e não considero nada mais familiar no que vejo. É como se eu tivesse acordado em um lugar totalmente desconhecido, com vizinhos estranhos e sem um família. Quando ouço dizerem Daly City, me sinto saudoso com o nome, mas apenas isso. Mais de noventa dias e ainda não me acostumei com essa realidade. Talvez eu esteja velho demais para isso.

- Ou talvez seja humano demais para entender, senhor Spines - completou Callum, apoiando a mão no ombro dele. - Esse mundo não é para qualquer um. Não há pureza, nem sensibilidade. Somos como peças em um tabuleiro, prestes a sermos descartados quando nos recusamos a jogar.

- Minha esposa dizia que já vivíamos a vida pós a morte, e que esse era o inferno, onde estávamos condenados a pagar nossos pecados. Ela estava certa. Estamos no inferno.

- Seríamos nós sobreviventes, os últimos pecadores desse inferno? - indagou Callum, reflexivo. - Ou estaríamos para passar pelo Juízo Final, após a ressurreição dos mortos?

- Aff - reclamou Trevor dando um tapa nas costas de Trevor. - É muita baboseira para falar estando sóbrio. Precisamos beber, meu amigo.

- Álcool eu não... não bebo, obrigado.

- Sei onde conseguir maconha se quiser - Trevor comentou, discreto. - E da boa.

- Também dispenso, obrigado - Callum respondeu, gargalhando.

- Você quem sabe, meu amigo. Mas lembre de aproveitar o fim do mundo. Não há regras patéticas aqui.

Prestes a despedir-se de Callum e voltar ao seu posto, Trevor notou um movimento incomum de um dos vigias na torre mais alta. Ansioso pelo o que importunava o vigia, Trevor o inquiriu.

- O que vê, Jonas?

- Um veículo ao norte, Spines - respondeu o vigia. - Tá vindo em nossa direção.

Temeroso, Trevor recuou para a beira da muralha e firmou seus olhos para a rua adiante. Ao longe, um veículo com os faróis acesos se aproximava, em uma velocidade consideravelmente alta. Ele pegou o binóculos e tentou observar mais de perto, mas não conseguia identificar algo muito suspeito.

- Estranho, muito estranho - ponderou Trevor, observando pelo binóculo. - Ador não retornaria com sua caravana pelo norte. O que traria um veículo desconhecido para os nossos portões ao cair da noite?

- Posso? - Callum pediu que Trevor lhe entregasse o binóculo. 

Trevor lhe jogou a ferramenta sem se manifestar. Diferente dele, Callum percebeu detalhes importantes sobre o veículo suspeito.

- Corvos - afirmou Callum, friamente. 

Trevor arregalou os olhos e olhou para o horizonte assustado.

- Tem certeza disso?

- Fui um Corvo - respondeu Callum. - Posso reconhecer outros.

- Merda, merda - Trevor saiu correndo pela muralha reclamando. - Preparem o míssil guiado - ordenou aos gritos. - É um maldito Corvo.

Uma agitação se denotou por toda a base da colônia. Para se reorganizarem, Trevor voltou a gritar com eles e os vigias na torre central se moveram para o lançador de mísseis guiados. Era uma arma grande, improvisada por Lue e nunca testada. Eram necessários dois vigias para acionarem a arma, um para mirar e o outro para disparar.

- Veículo sobre a mira - gritou o vigia, sentado atrás do lançador.

Antes de uma ordem definitiva, Trevor olhou rapidamente para Callum, ainda um pouco descrente quanto a aproximação de Corvos na colônia. Callum acenou para ele em confirmação, confiante do que havia visto.

- ATIREM - ordenou Trevor.

Em um solavanco, o míssil disparou-se da arma e dirigiu-se em uma curva parabólica sobre a rua adiante. O veículo que se aproximava manteve-se em linha reta até, aparentemente, notar o míssil guiado. Mesmo tentando desviar, o míssil atingiu o solo sob o veículo, arremessando-o há metros de distância com a explosão. Capotado, o veículo calhou em uma vala à beira do rio. Uma nuvem de fumaça preta cobriu toda a pista ao norte.

Em silêncio, Trevor e todos os vigias aguardaram novos movimentos suspeitos. Callum estava inquieto e caminhava de um lado para o outro, coçando a cabeça. Ele havia notado algo a mais que os outros, algo que apenas um Corvo poderia reconhecer.

- Tem algo estranho - finalmente Callum manifestou sua inquietação para Trevor. - Corvos não atacam sozinhos.

***

- Um impostor - repetiu Zoe não tão surpresa com a acusação de Maggie. - E o que de suspeito teria notado para chegar nessa conspiração?

- Podem não confiar em mim por estar há pouco tempo na colônia, mas já fui agente do FBI e meu sentido investigativo não se engana - respondeu Maggie, aparentemente preocupada. - O estopim para a minha desconfiança foi nessa tarde, quando estive na sala de reuniões. Encontrei todos os walkie-talkies que deveriam estar nas mochilas do grupo de Ador, guardados em uma caixa, escondida dentro de um dos armários.

Kitty saltou em um pulo e moveu-se, angustiada para perto delas.

- Eu te disse, mãe. Alguma coisa realmente havia acontecido para que eles não entrassem em contato conosco. Precisamos nos reunir novamente. Há um impostor entre nós e devemos encontrá-lo e tomar as medidas de imediato.

- Suspeito de Margot - apontou Zoe, pensativa.

- Não acho que seja ela - respondeu Maggie, também pensativa. - Não apenas ela. O impostor está há mais tempo entre nós, mais tempo do que eu estive nessa colônia.

- Por que acha isso? - indagou Zoe.

- Porque encontrei algo suspeito em meu quarto - Maggie retirou algo do bolso de seu sobretudo e colocou sobre a mesa.

- O cubo de informações que a Lue procurava - analisou Kitty ao observar aquele objeto geométrico oco. - Mas ele está... vazio. Onde o encontrou?

- Na lixeira do meu quarto. Encontrei-o na primeira noite em que pousei nesta colônia, há exatos doze dias.

- Se havia encontrado o cubo, por que não nos informou quando Lue acusou Bobby de ter o roubado? - perguntou Zoe, desconfiada.

- Porque eu não fazia a menor ideia do que estavam falando, Zoe. Vocês são muito hostis com novas pessoas que chegam aqui e eu não teria nenhuma oportunidade de integrar a colônia se não fosse o Ador. Só me dei conta de tudo o que estava acontecendo aqui quando retornei daquela missão fracassada de procurar o Bobby. E agora, juntando as peças com o fato de que os walkie-talkies foram retirados das mochilas, só me força a acreditar que há um impostor entre nós há muito tempo e ele está enganando a todos.

- Bem, disse que encontrou o cubo na lixeira do seu quarto na primeira noite, o que significa que alguém usava aquele quarto antes de você. Só precisamos descobrir de quem era e encontramos o impostor.

- Não era um quarto - lembrou-se Kitty. - Antes que Ador o liberasse para a Maggie, havia um laboratório improvisado da Lue. Ela fazia suas experiências lá, enquanto as reformas do novo laboratório não terminavam.

- Então voltamos a estaca zero, que merda - reclamou Zoe, apertando os dedos na cabeça.

- Talvez a Lue se lembre de alguém que tenha frequentado aquele laboratório além dela ou qualquer outra situação que possa parecer suspeita - sugeriu Maggie.

- A doida da Lue não se lembra nem do que comeu na noite anterior. Ela tem um vida íntima com aquelas invenções dela que esquece de todo o resto. Eu disse que deveríamos ter câmeras na colônia para o Ador, eu disse.

- O que faremos então? Colocamos todos os suspeitos ao centro de um círculo e fazemos uma votação democrática para expulsar um deles da colônia? - indagou Kitty, impaciente. - Temos um impostor, mãe. Precisamos agir.

- E vamos! - concordou Zoe. - Mas preciso me concentrar na Margot primeiro. Nada me tira a desconfiança que tenho sobre ela. É suspeita demais.

- Desconfiar de novatos é algo muito normal nessa colônia - relembrou Maggie, indigesta.

- Mas dessa vez tenho meus motivos, Maggie. Olhe para isso - Zoe espalhou a pilha de papéis em que escrevia palavras de um vocabulário estranho, sem nenhuma conexão. - Antes de deixar a prisão do Mihowski, ela disse algo em russo para ele, e me garantiu que apenas estava ameaçando ele. Acontece que eu não conheço a língua russa e tentei comparar o que ouvi com algumas palavras do dicionário russo e não há nenhuma paridade.

- Saize vaisesaimanze - Maggie leu, muito confusa. - Seien Sie, was Sie sein müssen?

- Isso - gritou Zoe, contente ao ouvir Maggie pronunciar corretamente o que ela queria escrever. - É isso o que ouvi. Você sabe russo, Maggie?

- Mas isso não é russo - ela respondeu, enfática. - Isso é alemão.

- Alemão? Tem certeza disso?

- Sou alemã, Zoe. É claro que tenho certeza sobre isso.

- E o que isso que disse significa?

- Seja o que você tem que ser.

O semblante de Zoe mudou bruscamente e uma expressão de terror lhe tomou. Com pensamentos lentos, sua preocupação recaiu sobre a colônia.

- Caos - disse Zoe, antes de sair correndo pelo corredor afora.

***

Hailey e Naomi desciam as escadas, caminhando de mãos dadas. Elas haviam jantando há alguns instantes e se dirigiam para a prisão improvisada do agente de Santa Clara. Hailey era quem deveria vigiar o posto naquela noite e Naomi se dispôs a acompanha-la naquela longa noite. Naomi reconhecia que sua namorada estava preocupada com o novo amigo e preferiu ficar com ela, enquanto Warren não retornava à base.

- Então você me trocaria se a Rihanna te pedisse em namoro? - indagou Naomi, com ciúmes.

- É a Rihanna, amor - respondeu Hailey abraçando sua parceira pela cintura. - Ninguém diria um não a Rihanna.

- Pois eu te trocaria pela Ariana Grande.

Hailey ergueu as sobrancelhas, segurando a risada.

- Ariana? Achei que não gostasse dela - argumentou Hailey, surpresa.

- Quem disse isso? 

- Você mesma me disse que recusou um ingresso para o show da Ariana Grande para ir no show do Travis Scott.

- Prioridades, minha querida. E isso não significa que eu não goste da Ariana. Apenas estou sendo sensata em minhas escolhas.

- Hum! - Hailey zombou. - Sensata em preferir Travis Scott do que Ariana Grande? Por favor!

- Qual é? Eu não...

- Puta merda! - Hailey interrompeu Naomi, aturdida.

- Oh não! - Naomi também se manifestou assustada com o que viu. - Não, não, não...

Ao fim do corredor que adentraram, a porta da prisão do agente Mihowski estava aberta. A corrente que deveria mantê-lo aprisionado estava arrebentada e atirada pelo chão, sob um tapete de sangue do corpo de Liam, um jovem recém-chegado na colônia que estaria vigiando a prisão naquele momento. 

Hailey correu para dentro do cômodo, com cuidado, a fim de observar o interior. Naomi continuou parada no corredor, a olhando de longe, enojada por toda aquela cena do crime.

- Ele tá...

- Morto - Hailey completou, ao apoiar seus dedos no pescoço do rapaz.

- E aquele agente? Algum sinal dele?

- Não, mas alguém o soltou - Hailey observou. - As correntes foram cortadas por algum alicate.

- Temos que avisar a colônia, emitir um sinal de... - dizia Naomi até que sentiu algo lhe atravessar o tórax e pôs a vomitar sangue pela boca.

A cena que Hailey presenciou foi a ápice de todo o terror que ela havia vivido naqueles últimos dias. Há poucos metros de distância, Hailey viu um machete atravessar sua companheira, assassinada pelo fugitivo da colônia, agente Mihowski.

- Nãoooo - ela gritou desesperada ao assistir o assassinato de Naomi.

Retirando o machete ensanguentado, Mihowski empurrou o corpo de Naomi para longe, como uma boneca qualquer. No rosto do agente, escondido pelo sangue respingado, abria-se um sorriso ufano, com um olhar psicopata recaído sobre Hailey, a quem deveria ser a sua próxima vítima de um massacre sem fim.

- Desgraçado! - Hailey proferiu, partindo enraivecida para cima dele.

Com passos mais calmos que ela, o agente girou o machete e desvencilhou um golpe fatal para cima de Hailey. Mais atenta ao ataque, ela se defendeu, desviando do golpe e jogando-se contra ele. O agente cambaleou, mas manteve-se firme para contra-atacar. Agarrou ela pelos cabelos e bateu sua cabeça contra a parede, aturdindo-a. No chão, Hailey se viu ser alvo de um novo ataque. Fugiu do golpe e desferiu um chute com as pernas dele, que não conseguiu evitar a queda.

Aos prantos e movida por raiva, Hailey se arrastou até o machete caído perto dela, mas o agente era mais rápido e hábil. Ele a puxou pela perna, se colocou sobre ela e a afugentou em suas mãos, aproximando seu rosto do dela, para que ouvisse com clareza o que teria a dizer.

- Eu vou matar todos os seus amigos, um por um - disse Mihowski, rangendo os dentes sujos de sangue. - E trarei o caos para o que restar dessa colônia. O mal há de vencer esta noite, pobre criatura condenada.

Fraca por estar sendo asfixiada, Hailey não conseguiu reagir mais em defesa. Mihowski a ergueu do chão e a atirou brutalmente contra a vidraça do corredor. O vidro eclodiu quando o seu corpo atravessou a janela e chocou-se no chão firme há alguns metros abaixo. Ela ainda o assistiu acenar para si da janela, mas apagou-se em seguida, devastada pelo caos dominado.

Da janela, Mihowski mantinha seu sorriso inclemente. Limpou o machete do sangue na manga de sua blusa e retornou para o corredor, que o levaria para o maior massacre que Daly City nunca teria imaginado.



Notas do autor:

Hey survivors! Como estão?

Contagem regressiva para o final do segundo livro. A grande batalha de Daly City já começou com Mihowski fazendo um massacre. Será que Nick chegará a tempo de encontrar alguém ainda vivo? E será que nosso esquadrão de mulheres empoderadas na liderança de Daly City darão conta do recado? Já tivemos algumas baixas nesse capítulo.

Spoilers para o próximo capítulo: melhor não dizer nada 💔

Até lá!

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