Zombie World - A Evolução (Li...

By saints_bruno

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Improváveis alianças interceptam o progresso de Taylor, quando uma guerra toma diferentes lados. Daisy constr... More

Recapitulando...
Prólogo
Parte 1
Capítulo 1 - Dias de um passado esquecido
Capítulo 2 - A estranha e o monstro
Capítulo 3 - Carpe Diem
Capítulo 4 - Glaube
Capítulo 5 - O cubo
Capítulo 6 - A encruzilhada
Capítulo 7 - Isso não é um zumbi
Capítulo 8 - A incrível, fabulosa e assustadora máquina de destruir zumbis
Capítulo 9 - Inimigo?
Capítulo 10 - Feridas do passado
Capítulo 11 - A casa azul
Capítulo 12 - Filme de terror
Capítulo 13 - Sacrifício
Capítulo 14 - A rainha dos corvos
Capítulo 15 - Espólios de uma guerra
Parte 2
Capítulo 16 - Hurt
Capítulo 17 - Santa Clara
Capítulo 18 - Ann e Alex
Capítulo 19 - A face da morte
Capítulo 20 - A garota misteriosa
Capítulo 21 - Quem é você?
Capítulo 22 - Cicatrizes
Capítulo 23 - Detroit
Capítulo 24 - Kirby Reed
Capítulo 25 - Os estranhos
Capítulo 26 - O bicho-papão
Capítulo 27 - O lobo
Capítulo 28 - O que é justiça?
Capítulo 29 - Darwin
Capítulo 30 - Esperança
Parte 3
Capítulo 31 - O esquadrão suicida
Capítulo 33 - Porcos
Capítulo 34 - Show de horrores
Capítulo 35 - 149
Capítulo 36 - Entre nós
Capítulo 37 - Laços profundos
Capítulo 38 - O agente do caos
Capítulo 39 - A batalha de Daly City
Capítulo 40 - Sem volta para casa
Epílogo I
Epílogo II
Epílogo III
O que vem agora? Terceiro livro, spin off e remake...
Em breve

Capítulo 32 - Autoconsciência

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By saints_bruno

Colônia dos Corvos


Os saltos do scarpin preto de Louise ecoavam pelo vazio corredor da seção restrita da colônia dos Corvos. Seus cabelos ondulados e loiros estavam soltos e ela trajava um longo sobretudo de penas pretas. Seus olhos reluziam sobre a baixa luminosidade, expressando sua superioridade diante seus súditos corvos - os peões do jogo que estava para jogar.

Apenas uma sala estava iluminada dentre as várias portas daquele comprido corredor. Sem precisar de uma permissão, ela adentrou a sala e trancou a porta novamente, ficando a sós com o único corvo ali presente. Era Steve, um jovem Corvo pouco mais velho que Bobby, leal a rainha e responsável por qualquer problema científico que envolvesse tecnologia.

Carregando dois copos de café, Louise deixou um deles sobre o balcão onde Steve trabalhava. Ele continuou concentrado computando várias informações em seu notebook e não arqueou nenhuma exclamação com a chegada dela além de apenas um discreto sorriso. Contente com o empenho dele, Louise sentou-se ao seu lado e inclinou seu corpo para perto do computador dele, tentando entender qualquer informação exposta na tela.

- A guerra vai estourar, Steve. Receio que não tenho mais tempo para aquela pesquisa.

- E não será necessário, L - Steve finalmente desligou-se de seu trabalho quase automático e endireitou sua postura para conversar com Louise. - Finalizei a pesquisa da amostra.

- Formamos uma ótima dupla, meu querido - ela sorriu para ele e roçou com delicadeza o queixo dele. - É muito bom poder contar contigo.

- Fico lisonjeado, L.

- E então, tem algo além do que eu já saiba? - ela apontou para a tela do notebook.

- Na verdade, não é nada do que você sabia - ele respondeu e sentiu-se envergonhado após ela fechar a cara. - Não que você não saiba de nada, não foi nesse sentido, L...

- Ok, ok - apressou Louise impaciente. - O que descobriu?

- O garoto...

- Alex.

- Alex - reafirmou Steve. - Alex não era imune ao vírus.

- O que? Como assim? Eu vi a amostra do sangue dele e... o garoto estava se recuperando da ferida...

- Ele não estava, L. Por isso fomos reportados daquela coloração diferente nas cicatrizes. Não era uma reação típica do sistema imunológico. Você, como cientista, entende disso melhor do que eu.

- Mas o filamento do DNA que encontrei não pertencia ao vírus. Era diferente. Parecia mais um anticorpo em ação. Como eu poderia ter despercebido alguma característica nesse filamento e confundir com um anticorpo?

- Porque é vírus novo e em constante evolução in natura desenvolvido em laboratório. Eu estive estudando cada filamento da estrutura e fiz um comparativo com o primeiro vírus perfeito que coletamos em um corpo recém infectado. É o mesmo vírus, mas com mutações.

- Isso é ruim.

- Isso é péssimo. 

- Mas se o Alex estava infectado, mesmo com mutações, como foi possível ele sobreviver por tanto tempo?

- Ok, ok - Steve respirou fundo e tentou se manter calmo para explicar o que havia descoberto. - Vou tentar explicar da forma mais simples possível. Sabemos que todos nós, não zumbis, também estamos infectados com o vírus. Entretanto, nosso sistema imunológico consegue formar uma espécie de casulo - Steve gesticulou aspas com as mãos. - ao redor do vírus, tornando-o inativo. Quando morremos, sem o nosso sistema imunológico, o vírus reativa e assume o controle do nosso cérebro, como um parasita. Da mesma forma acontece quando uma pessoa não infectada é mordida por um zumbi. Dois tipos diferentes do mesmo vírus entram em atrito e o sistema imunológico não consegue conter a infecção, sendo esse sistema o primeiro afetado no processo de transformação de um humano para um zumbi.

- Certo, isso eu já sei - Louise olhava toda hora para o relógio de seu pulso e fungava.

- Onde quero chegar é que o vírus que infectou Alex, de alguma forma, entrou em fusão com o vírus no casulo, criando um segundo sistema imunológico, este controlado pelo vírus.

- Isso é impossível.

- Eu também achava. E desta forma, Alex estava infectado, em um processo de transformação mais lento, com um grau altamente elevado de mutação, personificando um novo Alex. Isso faz algum sentido para você?

- Não, não faz... - Louise se levantou e caminhou para longe do computador desinquieta e distante, procurando se lembrar de algo que deveria ser importante para aquela ocasião. - Espera, espera! - ela voltou para Steve com os olhos arregalados. - Ann me disse que Alex tinha alguns devaneios, que incluíam... vozes na cabeça.

- Então agora entende o que pode ter ocorrido com o garoto? - era Steve quem estava curioso agora. - Uma mutação, certo?

- Um alto nível de mutação. Um vírus autoconsciente que não somos capazes de enfrentar.

- Como assim autoconsciente?

- Ann disse que uma horda os atacou no parque San Pedro, só que as chances disso ter ocorrido eram mínimas. Isso porque o parque estava fechado temporiamente para reformas, além do fato dele se localizar no meio de um vale distante de todos grandes centros urbanos do condado de San Francisco. Alex já estava infectado durante esse episódio e sofria com os devaneios e as cicatrizes.

- Oh meu Deus - Steve estava incrédulo. - Tá querendo me dizer que foi o Alex quem atraiu aquela horda para lá?

- Exato. A personificação do alto grau de mutação causava esses efeitos colaterais em Alex. Ele atraía as criaturas, para onde estivesse. O que precisamos saber agora é... - Louise fez uma pausa para focar seus pensamentos. - Os zumbis e as criaturas eram atraídas para mata-lo ou...

- Para formar seu exército? - Steve completou o raciocínio de Louise, chocado.

- Bingo - ela deu um leve soco no ombro dele. - É por isso que precisamos encontrar a merda daquele cubo e extrair todas as informações necessárias da GNOS. Mesmo que Alex tenha sido um caso raro dentre a evolução das mutações do vírus, devemos compreender que não podemos perder mais tempo e precisamos nos preparar para o pior pesadelo de todos. Vamos sair na frente da GNOS e venceremos a porra do Jogo.

- Deveríamos contar isso a Ann? Ela é a irmã dele e... o DNA dela pode ser compatível com o dele, o que pode nos causar uma enorme dor de cabeça se ela também for mordida por aquelas coisas.

- Não, não - negou Louise, autoritária. - Ninguém deve saber disso. Será um segredo nosso. Se chegar aos ouvidos da GNOS que os corvos descobriram algumas mutações do vírus, virão com um exército para cima de nós. Uma guerra por vez. E essa guerra nos leva apenas a um lugar nesse momento.

- Daly City.

- Daly City - repetiu Louise com ambição nos olhos. - Acione o alarme da colônia, Steve. Nesta noite, vamos à guerra!

***

Bobby encontrava-se descansando em um quarto bastante espaçoso, depois de um dia cheio de absolutamente nada. Ele jurava que estava fazendo a coisa certa em proteger a sua verdadeira família, mas estava os colocando em uma guerra maior. E ainda tinha o outro problema que o atormentava há meses. A morte de Alex. Ele não conseguia superar aquilo. Sentia-se na obrigação de dizer a verdade para Ann, sabendo que aquilo custaria sua amizade, pois não poderia deixar que Nick carregasse uma culpa que não fosse dele. Era uma tempestade que não podia enfrentar. Não sozinho.

Entediado, ele desembainhou a adaga que Maggie havia lhe entregue na colônia e deslizou seus dedos pela lâmina, sentindo o relevo das letras minuciosamente escritas. Glaube. Era de fé que ele realmente precisava naquele momento. Não em um deus ou um herói divino. Mas nele mesmo. Talvez ele conseguisse superar os fortes ventos daquela tempestade. Talvez houvesse um arco-íris no final, em uma esplendorosa paisagem. Talvez existisse um final feliz para aquela história. Ou talvez fosse apenas o início de um pesadelo sem fim.

Toc toc... Bobby embainhou a adaga rapidamente e aprumou-se para sentar na borda da cama, antes que a porta fosse aberta. Era Ann, acompanhada de Ryan, o amigo-namorado dela. Ela espiou envergonhada o quarto e finalmente entrou quando percebeu que Bobby estava vestido e acordado.

- Espero que não esteja atrapalhando - ela disse caminhando ligeira pelo quarto. - Ryan e eu estávamos combinando de treinar tiro e achei que gostaria de ir conosco. Nosso reencontro foi inesperado e não tivemos um tempo livre para conversar sobre... nós.

- É... - Bobby procurava as palavras, olhando para além de Ann e encontrando os olhos de Ryan. - Acho que preciso de mais um tempo sozinho. Tenho uma reunião com a minha mãe daqui a pouco. Podemos marcar outra hora se puder.

Ann percebeu que ele não olhava diretamente para ela e então tomou uma atitude para tentar uma conversa mais aberta com ele. Bobby temia que isso fosse acontecer, não estava pronto.

- Ryan - ela o chamou. - Pode me esperar lá fora. Esqueci de contar algo importante para ele - Ann piscou para Ryan e ele pareceu a entender, os deixando a sós.

- Não... era... necessário isso - Bobby estava envergonhado.

Ann certificou-se da porta estar fechada e seguiu para perto de Bobby, sentando-se ao lado dele.

- Eu te conheço, Bobby. Reconheço esses seus olhos profundos e sua voz trêmula. Pode confiar em mim, se abrir comigo. Me diga o que tanto lhe incomoda. Lhe dou a minha palavra que não direi nada para a sua mãe. É sobre ela, não é? 

Bobby desviou os olhos de Ann e levantou-se da cama desconfortável. Sem que percebesse, estava unhando seus braços e caminhando de um lado para o outro no quarto. Ann parecia entende-lo, ainda que não soubesse o real motivo. 

Notando que ele não iria dizer nada enquanto não acalma-se, Ann se levantou e o puxou pelo braço, deixando-o cara a cara com ela. Ele continuou evitando a olhar nos olhos e abaixou a cabeça, ainda mais desconfortável.

- Me desculpe, Ann. Eu não consigo.

- Tá tudo bem, eu te entendo. Não forçarei nada. Mas lembre-se. Estou do seu lado - ela sorriu para ele e massageou seus braços.

Bobby deveria se sentir mais aliviado quando ela se afastou para ele e dirigiu-se para fora do quarto, mas não conseguiu. Sentia-se mais atormentado com cada passo distante que Ann dava. Quando ela segurou a maçaneta da porta para sair, Bobby a chamou sem nem mesmo desejar fazer isso.

- Ann - Bobby a chamou com um nó na garganta e ela virou-se calma para o encarar. - Você tá certa. Tem algo que eu preciso dizer para você.

Lhe dando toda a atenção que precisava, Ann caminhou de volta para perto dele, mas ele se afastou como se recusasse estar tão perto dela.

- Tente se acalmar, Bobby. Somos amigos, sempre fomos.

- E-eu sei - ele não sabia. - É que... É que... O Alex.

Ann pareceu compreender o que ele queria dizer e então mudou totalmente a forma como o olhava. Ela deu com os braços e virou as costas para ele, evitando que ele vesse como ela se expressava.

- Já sei onde quer chegar.

- Sabe? - Bobby estava confuso.

- Somos melhores amigos, Bobby. Nunca lhe disse nada porque queria que você tomasse a atitude de me dizer.

- Ann, eu não tô entendendo...

- Quer defender o Nick, se recusa a acreditar que ele foi capaz de matar o Alex. E eu te entendo - Bobby olhava para ela muito confuso, mas Ann continuou. - Você é apaixonado pelo Nick, por isso seus olhos estão fechados para enxergar a crueldade nele.

- Eu o que?

- Não precisa mais esconder isso de mim, Bobby. Deve ter sido bem difícil para você controlar seus sentimentos por todo esse tempo. Ser apaixonado pelo melhor amigo hétero.

Bobby sentiu ser banhado por um balde de água gelada do Polo Norte. Não que Ann estivesse errada, não totalmente. Mas por que ela estava dizendo aquilo para ele agora? E por que aquilo seria motivo dele se reprimir, quando ele sempre foi o mais extrovertido do grupo de amigos? Ainda que Ann pudesse estar certa, não estava sendo ela. Não ali. O luto realmente muda as pessoas, mas ela falava olhando para ele como se tivesse passado por uma lavagem cerebral daquelas que ouvia em fóruns da internet. Bobby não conseguia imaginar que tipo de tratamento psicológico que Ann havia sofrido nas mãos de sua mãe. Ele sabia que Louise era uma mulher totalmente manipuladora e ambiciosa, mas a Ann... ele não conseguia imaginar que sua amiga fosse tão manipulável. Naquele momento, Bobby já considerava a opção de que sua mãe sabia que Nick não era o culpado pela morte de Alex, mas que se aproveitava da oportunidade de manipular Ann ao seu favor, lhe garantindo uma peça importante na guerra que se precipitava. Bobby precisava agir, despir o maquiavélico plano de sua mãe e expor a verdade sobre a morte de Alex.

- Escuta, Ann - finalmente ele quebrou o silêncio em que esteve perplexo. - Me conhecendo desde a nossa infância, acredita mesmo que as minhas últimas ações, em que tenho buscado o isolamento e me prostrado diante vocês, tenha relação com o fato da minha amiga querer matar o meu melhor amigo por quem estou apaixonado? É sério isso? Cada um é responsável por seus atos e cabe a cada um lidar da sua forma com seus sentimentos e consequências.

- E você vai continuar a defende-lo. Vai tentar impedir minha vingança quando for a hora, mas não será capaz. Você é fraco e perdido, Bobby. É uma pena que tenha acabado assim.

- Não seja estúpida, Ann. Eu não preciso defende-lo porque Nick não é o culpado. Não foi ele quem matou o Alex.

- Chega! - gritou Ann, bastante irritada. - Não quero mais te ouvir. Eu vou colocar um ponto final nessa história e ninguém ousará a ficar em meu caminho. Nick já morreu para mim e parece que você também.

Ela o olhou dos pés a cabeça com rancor e deu-lhe as costas. Bobby balançou a cabeça se recusando a acreditar em tudo o que ouviu e lutou para reverter toda aquela história.

- Espera, Ann - pediu ele correndo atrás dela. - Precisa me escutar.

- Já ouvi demais, Bobby. Louise tem razão sobre você. Está cego por seus sentimentos.

Uma estridente sirene disparou por toda a colônia, ecoando até a sala onde eles estavam. Ann parou diante a porta e olhou com desconfiança para Bobby, como se quisesse lhe dizer mais alguma coisa, mas não tivesse tempo. Ryan abriu a porta, apressado, e os orientou antes mesmo que Bobby perguntasse o que estaria acontecendo.

- Louise está convocando todos para o saguão principal da colônia.



Um festim de corvos. O amplo saguão que um dia teria sido a estação metroviária de San Francisco, estava tomado por uma grande multidão de rebeldes trajando roupas jeans e de couro pretas. Reunidos em frente a um palanque improvisado, os Corvos contemplavam a elegante e pujante rainha, acompanhado dos seus mais leais súditos, Steve e Frank.

Se esforçando para não ser derrubado pelos malucos seguidores de sua mãe, Bobby buscou uma melhor posição para que pudesse ouvir as balbúrdias que ela diria por agora. Procurou Ann e Ryan dentre aquela multidão, mas não os viu desde que chegou ali. Do outro lado do saguão, quase escondido por uma pilha de placas de aço, ele notou um homem corpulento, de barbas e cabelos brancos, amoitados sob um boné da Marinha Americana. Ele parecia querer acenar para Bobby, porém o tumulto dificultava para entender qualquer sinal. E sua mãe buscou novamente a sua atenção, com o seu tão inesperado discurso.

- Eis aqui, meus queridos Corvos - começou Louise a discursar com uma entonação alta e firme. - Nossas dias de glória hão de chegar. Daly City declarou uma guerra contra nós e não iremos recuar - Os olhos dela miraram certeiramente sobre Bobby. - Eles roubaram algo de extrema importância para a nossa sobrevivência e precisamos recuperar, antes que os Escorpiões batam em nossas portas e tomem tudo aquilo que conquistamos. Fomos pacientes por muito tempo, nos solidarizamos com colônias vizinhas, mediamos um acordo cooperativo e benéfico para todos, mas isso não foi o suficiente para eles creditar a nós a aliança necessária. Não somos os inimigos, somos a resistência. E se não há um acordo pacífico, será com fogo e sangue. Provaremos para todo o condado que somos a esperança pela reconstrução do mundo, seremos referências para outras resistências, e deixaremos a nossa mensagem de poder para os Escorpiões, a garra de um Corvo perante o veneno de uma sociedade em declive. Sejam valentes, meus Corvos. Ergam suas armas, esbravejem suas forças - uma agitação começou a tomar forma sobre os Corvos. - Hoje vamos derrubar Daly City.

Um grito estrondoso aclamou-se pelo grande saguão e todas as pessoas ergueram seus braços e começaram a ovacionar a rainha, como uma canção de guerra. Sob o palanque, Louise estendeu os braços, ateando seu grande sobretudo de penas pretas como uma bandeira de resistência para os Corvos. Ela sabia do poder que tinha em mãos e parecia gostar disso. Bobby, por sua vez, não.

Frank, o homem alto e musculoso de nariz reto que sempre estava por perto dela, assumiu a frente do palanque, ergueu um rifle para cima e bravejou seu grito de guerra.

- Corvos querem SANGUEEEE...

O clamor foi ainda maior e uma movimentação se agitou, com pessoas correndo na mesma direção, engalfinhando-se entre elas, incluindo crianças e idosos. Bobby continuou parado, fitando os olhos gananciosos de sua mãe. Aquilo não era uma resistência. Era um fascismo disfarçado.

Parecendo entender o que ele queria dizer, Louise sussurrou algo aos ouvidos de Frank e desapareceu, seguida por eles, aos fundos da estação. Motivado a impedir àquela guerra, Bobby saltou por entre as pessoas e tentou ganhar o espaço para alcançar sua mãe, numa corrida quase impossível.

- Mãe - gritou ele. - Espera. Me espera.

Mesmo empurrando algumas pessoas, ele movia-se lento demais, ficando longe de reencontra-la em tempo. Continuou gritando por ela, mas sua voz era oprimida pela algazarra da multidão ali. Próximo de uma linha férrea, ele pensou em saltar para o outro lado, e encontrar um caminho, mesmo que mais longe, que o levasse para o escritório de sua mãe, onde acreditava que ela estaria. Entretanto, foi agarrado pelo braço e puxado para um canto, distante de qualquer tentativa de atropelamento. Assustado, Bobby percebeu que era o homem de boné que acenava para ele mais cedo. 

- Me solta - Bobby pediu se sacolejando. - Preciso conversar com a minha mãe.

- Não, você não precisa - respondeu o homem firmemente. - Acha que pode parar a sua mãe? Ninguém pode. Eu conheço o tipo de líder que ela é e sei que o que ela almeja é mais poder. Sua mãe não está liderando-os para uma guerra, mas para uma carnificina. Se ama mesmo seus amigos, precisa avisa-los sobre o que enfrentarão. Daly City precisa de você, Bobby.

- Mas... - Bobby olhou aflito para aquela multidão. - E-eu não sei o que fazer, não tem como chegar antes deles em Daly City.

- Olhe para essas pessoas, Bobby - pediu o homem mais calmo. - Estão cegos por uma luta que nem sabem pela qual lutam. Uma ideologia de opressão, recorrida a um falso deus. Só haverá sangue e caos por onde forem. Isso não é uma resistência. Me escute bem, garoto - o homem lhe trouxe toda a atenção devida. - Siga pela linha do metrô por trezentos metros e chegará ao estacionamento da colônia. Os veículos já estão preparados para a saída. O caminho estará livre para sair na frente desse exército de lunáticos. Não pare por nada.

- E quanto a eles? - Bobby apontou para a multidão outra vez. - Quem garante que não estarão lá também esperando?

- Eles querem armas de fogo nesse momento. Não irão para lugar algum até que sua rainha ordene. Essa é a sua vantagem. Somente você poderá impedir que Daly City amanheça sobre um rio de sangue.

- E quanto você? Por que não vem comigo?

- Eu? - ele deu uma risada abafada. - O velho Jordan aqui está cansado de assistir esse palco de horror. Vou seguir a minha estrada e deixar que o destino me leve à verdadeira resistência. Um dia nos encontraremos ainda, Bobby. E será neste dia que lutaremos lado a lado.

Mais confiante e determinado a ser diferente do que Ann lhe acusara e do que sua mãe se tornara, Bobby sorriu para Jordan e lhe acenou com gratidão. Uma fagulha de esperança inflamou em seu peito, um calor que Bobby não sentia há muito tempo. Motivado, ele saltou sobre a linha do metrô e correu para onde deveria ir. Daly City precisava dele.



Notas do autor:

(Música de suspense)

A guerra está aqui. Com os Corvos marchando para Daly City, será que Bobby conseguirá reverter o jogo depois de sua "traição"? E como será que ele lidará quando Ann confrontar Nick? Um banho de sangue é inevitável, só não sabemos ainda de qual lado.

Detalhes para se localizar dentre esse tanto de personagens: Jordan é o mesmo homem quem salvou Ann, após o Alex morrer.

Sobre o próximo capítulo: Santa Clara (emote de bomba aqui).

Partiu Guerra? #GoSurvivors e #TeamResistência 

P.S.: Cliquem na estrelinha e comentem, pleaseeee. O futuro da saga depende da interação de vocês com o livro. (emote de coração)

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