VIII - As luzes imperiais

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"Vader atravessou o brilhante chão de aço puro, passou os gigantescos mas pouco ruidosos motores de conversão e subiu um lance de degraus, atingindo o nível da plataforma onde o trono do imperador se encontrava."

In O Regresso de Jedi,KAHN, James, Publicações Europa-América


Chegou à capital do Império Galáctico sem uma sensação particular de alegria. Aliás, não havia nada naquela galáxia que o surpreendesse ao ponto de lhe causar um transtorno acentuado nas suas emoções, que se mantinham controladas, num nível obrigatoriamente estoico, pelo processador central do fato robótico que permitia que continuasse vivo.

Os brilhos que se refletiam no seu elmo negro e polido não chegavam a penetrar na dura liga de durasteel, no espaço inventado mesmo abaixo da testa para acomodar o seu sentido de visão, para que os seus olhos continuassem a perceber o mundo ainda que tudo tivesse um filtro escuro e fosse processado para o seu cérebro ainda ciente protegido pelo aparato. Ele observava as milhentas luzes dos enormes edifícios com uma indiferença que não era totalmente voluntária, a expressão facial da sua máscara negra simplesmente era constante. Conveniente e perfeito. Dentro da armadura cibernética ele era imutável e nada lhe provocava uma reação menos maquinal.

Na realidade, se aturasse naquele pensamento mais do que deveria, pois ele não dispensava o seu precioso tempo em detalhes desprezíveis, Coruscant cansava-o e preferia manter-se longe da capital. Naquele lugar frenético tudo era artificial, mundano, exagerado, fútil. Não sentia uma partícula de genuinidade em nenhuma das imagens que se lhe apresentavam, uma cidade buliçosa que se apelidava de centro universal, onde o magno poder em exercício estendia os seus tentáculos invisíveis pelos cantos da galáxia. Ele, alguém encastoado num fato postiço emulado a partir de antigas e poderosas armaduras dos Sith, circuitos tecnologicamente avançados de suporte de vida misturados com segredos alquímicos e outros expedientes obscuros que mantinham o seu corpo dilacerado com uma postura ameaçadora e intimidante, vivo para terror dos seus inimigos e adversários, conseguia ser mais verdadeiro do que Coruscant.

Por outro lado, existiam ali memórias antigas que o assombravam e ele evitava-as com uma barreira mental construída com o apoio do lado sombrio da Força que, admitia relutante e furioso consigo mesmo, parecia estar cada vez mais permeável e enfraquecida. Como se essas memórias lutassem para derrubar a muralha imponente da sua indiferença e escárnio, perfurando em pontos-chave, expondo a vulnerabilidade da proteção, criando buracos por onde escoava uma luz branca mais ofuscante que todas as luzes daquela cidade impura.

Tanta iniquidade que existia ali, tantos mistérios escabrosos, sangue, ossos e morte, formando os alicerces podres dos seus arranha-céus cintilantes. Tanto que ele conhecia e que mais ninguém podia imaginar... Tanto que ele provocou e construiu. Outro tanto que ele tinha destruído e sepultado. O imenso poderio do Império Galáctico tinha sido gerado a partir das suas ações, dos seus sacrifícios, escolhas e desejos.

Os seus punhos negros e enluvados estavam fechados, pousados sobre as suas coxas. Uma posição neutra que o ajudava a superar o asco de percorrer aquelas avenidas elevadas da cidade.

Talvez detestasse Coruscant com aquele azedume porque o lugar obrigava-o a abrir o baú esquecido da lembrança enterrada no passado, o rebuscar das emoções que ele não tinha na programação computorizada inserida no seu ser desde que se tinha voluntariamente transformado naquele homem mecanizado. Tentava, com algum esforço que o irritava mais do que o consolava, substituir esse apelo a recordações antigas e perfeitamente desprezíveis com o sentimento pragmático de que a sua glória começara ali e que não havia arrependimentos, mágoas ou pressentimentos que coubessem no espaço ainda humano que subsistia sob a sua armadura negra. Devia a sua lealdade ao Imperador que ali morava na maior parte do tempo e a homenagem abnegada que dispensava a Palpatine fazia-o obediente, subserviente, insensível ao ponto de regressar a Coruscant, aos seus incómodos, às suas minúsculas raivas, sem grandes protestos ou penitências pessoais. Uns minutos de meditação na sua câmara particular e conseguia suportar aqueles momentos que, por experiência própria e em abono da verdade, nunca eram demasiado longos. O Imperador queria-o na linha da frente da expansão imperial, nunca o demorava em demasia nos corredores políticos da capital, onde os fantoches se julgavam imprescindíveis.

Um Horizonte MaiorWhere stories live. Discover now