XXVII - Estou aqui

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"Se ao menos fosse capaz de lhes explicar o que sentia!..."

In O Regresso de Jedi, KAHN, James, Publicações Europa-América


Fazia algum tempo que não tinha uns momentos para si, sozinho com as suas memórias, com os seus silêncios. Precisava de uma pausa depois dos recentes acontecimentos. Outra fuga precipitada para um refúgio que tinha os seus dias contados, antes de ser denunciado. Escapar na raia do impossível, escapar e sobreviver. Fugas sem fim, fugas para sempre...

Não conseguiu sorrir, ciente das suas escolhas, orgulhoso do caminho que trilhava. Funções e apoquentações tão diferentes da pacatez de uma quinta de humidade orientada pelas estações do ano, pelos humores da natureza, pelos caprichos e pelos azares derivados do clima mais ou menos instável. Não estava soturno, nem exultante. Não lhe apetecia manifestar as suas emoções, mascarar as angústias ou as alegrias. Não estava nada naquele estágio existencial. Não se conseguia classificar nem buscava uma definição. Queria somente... estar. Ser. Respirar. Sentir.

Buscava paz, a tranquilidade simples para o seu espírito que era naturalmente impaciente. Precisava dessa contemplação, dessa calmaria artificial para poder recarregar as baterias, perceber os mistérios, tentar agarrar o intangível, descortinar as respostas elusivas que brotavam na sua mente alvoroçada quando se punha assim. Não era uma necessidade ansiosa, apenas uma vontade de se desligar, como um androide no qual, de vez em quando, era necessário mudar as baterias gastas.

Escolhera um dos múltiplos ginásios da nave Home One para se recolher no seu casulo, dentro dessa casca imaginária que tecia com paciência em seu redor para alcançar o turbilhão das suas inquietações. Esses espaços eram largos e solitários o suficiente para o que ele queria fazer, já que não tinha um pátio exterior, um terraço vazio ou uma clareira como acontecia em Yavin Quatro.

Na realidade, não se punha a fazer nada de concreto. No início ficava de pé, a segurar o punho do sabre de luz com as duas mãos, de olhos fechados, simplesmente a respirar. A perceber cada inspiração e cada expiração. Contava-as até se fartar de estar a colecionar uma estatística inútil. A seguir ligava o sabre de luz, deixava que o zumbido deste o transportasse para um sítio vazio, onde só estavam ele e a lâmina azulada, suspensos entre a brancura que predominava no ginásio. Chegava a experimentar uma espécie de leveza, de desapego. Tudo se relativizava e diminuía diante da imensidão da galáxia, do próprio Universo. Ele era um ponto azul num infinito branco.

A cor era sempre essa, branca. Ao fechar os olhos não obscurecia o que o rodeava, pelo contrário, tudo se transformava numa alvura cegante, de um brilho intenso. Era tudo descorado, chão e céu. Tudo luminoso e puro. Havia luz, muita luz e isso acalmava-o.

Gostaria muito de perceber o que estava ali a desenvolver e porque precisava de o fazer. Estar numa solidão que o fechava do mundo externo e que o carregava para lugares desconhecidos, premonições, para um cenário cheio de cintilações mansas. Se tivesse um mestre para orientá-lo provavelmente este guiá-lo-ia nesses momentos e ensiná-lo-ia a meditar como seria exigido, para que extraísse desse exercício a sabedoria que o faria evoluir numa qualquer experiência que se relacionava com o seu destino, que o ligava ao destino do pai que tinha sido um Jedi.

A palavra demorava-se lânguida na sua boca. Je... di. Um Jedi.

Se Ben estivesse ali... O velho eremita seria esse guia. Um mestre. O seu mestre, tal como tinha sido do seu pai, Anakin Skywalker.

O sabre de luz vibrava devagar nas suas mãos, ele dominava-o apelando à Força. A energia da lâmina azul fluía para o seu sistema nervoso e ele unia-se à espada poderosa dos grandes cavaleiros do passado. Ao pensar no nome do pai, ao pronunciá-lo na sua mente, a demorar-se em cada sílaba com a mesma languidez que dispensava à palavra Jedi, o sabre de luz reagia pujante.

Um Horizonte MaiorWhere stories live. Discover now