XXII - Negócios

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"O conhecimento trouxera-lhe, no entanto, outros benefícios: racionalidade, boa educação, poder de escolha. O poder de escolha era, sem dúvida, uma lâmina de dois gumes, mas mesmo assim merecia a pena."

In O Regresso de Jedi, KAHN, James, Publicações Europa-América


Um lugar agradável, civilizado e desimpedido, para variar.

A metrópole estendia-se até ao horizonte em linhas harmoniosas, onde predominavam as transparências, os brancos, os ângulos abruptos de uma arquitetura original. Os telhados envidraçados dos edifícios atarracados refletiam o céu de um pujante tom de azul. As avenidas eram largas, corredores paralelos e perpendiculares que corriam ao longo das construções, que as cortavam em túneis, que voavam em passadiços sobre altas pilastras alvas. Essas vias de comunicação eram divididas entre os tímidos habitantes e cápsulas velozes que serviam de transportadores entre diversos pontos importantes da cidade. Não havia ruído assinalável, apenas um sussurrar de vestes dos caminhantes calados, os sibilos discretos dos veículos.

Depois de se ter fascinado com o céu especial do planeta Ostyu, desde Tatooine que não via um céu tão hipnotizante, Luke obrigou-se a prestar mais atenção naquilo que o rodeava, para prevenir potenciais situações anómalas. Afinal, eles eram estrangeiros ali e os forasteiros não abundavam assim tanto entre os transeuntes, a raça nativa daquele sistema, que se deslocava com uma lentidão irritante, mudos e apáticos, em puro contraste com os rápidos transportadores. Na realidade, não havia mais ninguém diferente a andar por aquelas avenidas higiénicas a não ser o grupo onde se integrava.

A comissão rebelde que viera negociar a aquisição de novos caças de ataque do modelo Airspeeder T-47 era composta por ele e por Han, que viera acompanhado de Chewbacca, por dois oficiais da confiança do general Willard e por uma secretária que tinha sido recrutada entre os locais, chamada M'mba, que trataria do processo administrativo e lhes servia de guia. Juntavam-se a eles Threepio como intérprete, uma decisão que se revelara acertada pois aquelas criaturas, que comunicavam através da língua comum da galáxia, tinham por hábito fazer apartes num dialeto próprio que seria necessário descodificar para não acontecerem surpresas, e Artoo, pois nunca se saberia quando se podia necessitar de um androide tão versátil quanto aquela pequena lata bojuda.

Os alienígenas eram esguios, com uma pigmentação acinzentada, os crânios alongados onde se podiam ver três olhos, três orifícios no lugar do nariz, orelhas formadas por pregas de pele amarrotada e uma boca rasgada sem lábios, com as extremidades descaídas como se estivessem zangados ou tristes. A sua atitude vagarosa, displicente, distante era estranha e exagerada. Um contraste com os transportadores que zuniam em velocidades assombrosas. Mesmo a mulher que os seguia exibia os mesmos traços de personalidade, sem procurar cativá-los.

O corelliano parecia não se incomodar com nada, ou mesmo admirar qualquer coisa. Seguia descontraído como se conhecesse desde sempre aquela cidade retorcida e angulosa, habitada por criaturas introspetivas, mas Luke quase que apostava que Han nunca tinha posto um pé em Ostyu, sistema da Orla Média, durante os seus dias de contrabandista, que tinham acontecido maioritariamente nos mundos esconsos da Orla Exterior. A sua confiança era inspiradora, mas chocara os dois oficiais que tinham vindo supervisionar o negócio.

Provavelmente o problema seria esse. Os tenentes Mathyas, dois irmãos que eram uma cópia inversa um do outro, um moreno, o outro albino, que se recusaram em revelar o primeiro nome de cada um, para dificultar de propósito a distinção, esperavam liderar o negócio. Durante as curtas apresentações, ainda a bordo da Home One, tinham afirmado com uma sobranceria irritante que tinham estudado tudo o que havia para saber sobre os caças Airspeeder T-47. Mas quando, na nave que os levava a Ostyu, os relatórios foram abertos e lidos, para definir as competências de cada um dentro da comissão, os irmãos Mathyas ficaram estarrecidos por não terem sido nomeados como negociadores-chefe, cargo que coubera a Han Solo. O comandante Skywalker não tecera qualquer comentário, pois percebera como o ambiente se alterara.

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