Capítulo 26

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"Dizem por aí, mas não tenho certeza, que meu sorriso fica mais feliz quando te vejo, dizem também que meus olhos brilham, dizem também que é amor, mas isso sim é certeza" (Machado de Assis).

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 Ezra não gostou muito da ideia, principalmente quando o apartamento que encontramos consistiu em um apartamento em frente ao meu, isso fez com que ele usasse ainda mais a voz de doutor sexy, o que eu não reclamei de forma nenhuma, mas ele insistia dizendo que não era sexy, eu nunca o escuto.

Daniel e eu estamos aos poucos convivendo, ele no apartamento novo e eu seguindo a minha vida, ele também está aos poucos se adaptando, conseguiu uma vaga em um curso de pintura e está voltando a pintar, as vezes sinto o cheiro de tinta invadir o meu apartamento de noite, mas não reclamo, me faz ver o quanto ele é ainda Danny, o jovem que vivia pintando enquanto o mundo caia a sua volta.

Ele trabalha na oficina de Murilo, eu sei, me surpreendi também, mas aí descobri que ele só fez isso para ficar de olho, não me importei, e muito menos Daniel que aceitou o emprego de bom grado, já que ele podia pintar alguns carros, então sim, ele está se adaptando e eu também.

Todos os dias tomamos café juntos, ele contando momentos da sua vida e eu os da minha, ele conta seus medos e eu o escuto, eu conto sobre meus pesadelos e ele escuta, funcionamos assim, um move e o outro segue da sua maneira, tem dias que eu vejo o quão perdido ele parece, mas aí eu o puxo de volta, levo ele para dar uma volta e de manhã quando estou cansada de um noite insone, é a vez dele de me puxar.

Não vou dizer que é fácil esquecer tudo o que passou, mas com o tempo se torna mais fácil ainda enxergar o que temos agora, e aquilo que passamos se torna somente um resquício de nós, um fragmento perdido em algum espaço em branco, então sim, trazer Daniel para perto de mim foi a melhor decisão que eu já tomei.

Semanas e meses se passam e piscas piscas invadem as ruas, o mês de dezembro chega e com ele traz neve, muita neve, ao ponto de as ruas ficarem brancas e cobertas dela. Sempre comemoramos o natal na casa de Enzo então é o que fazemos, com convidados extras, por que dessa vez Daniel, Ezra, Nicole e Antônia estão conosco e o jantar não poderia ser mais perfeito.

- Estou louco para saber o que Lyra comprou pra mim esse ano – Murilo diz do outro lado da sala, com Beca no colo. Estamos todos espalhados pela sala, Naty e Enzo estão perto da lareira na poltrona, Daniel e as crianças estão sentados no chão assim como eu e Ezra, enquanto Antônia está sentada no sofá nos observando.

- Não crie muita expectativa, não gastei quase nada com o seu

- Não funciona assim

- Problema é seu – Ele revira os olhos

- Vamos começar – Naty se levanta e pega alguns presentes debaixo da arvore – Primeiro os gêmeos – Ela entrega os dois pacotes e eles rasgam em questão de minutos, para Tomi uma coleção de carrinhos com pinturas radicais, e para Lis acessórios de jardim que ela tanto queria e tão rosas que tenho pena das minhocas.

Cada um começa a entregar os seus presentes, eu ganho uma bolsa delicada de Murilo que tenho certeza que foi Beca quem o escolheu, ela me dá um conjunto de lingerie que prefiro esconder atrás de mim, Naty e Enzo me entregam uma grande caixa e quando abro vejo que tem um quadro de vidro com a constelação de Lyra estampando e cintilando de leve, sorrio para os dois e agradeço.

Daniel me dá dois pacotes pequenos, abro o primeiro e encontro um lindo filtro dos sonhos, com pequenas estrelas penduradas, abro o segundo pacote e vejo um livro, mas não qualquer um mas uma versão antiga de O conde de Monte Cristo, olho para ele e ele dá de ombros.

10 MinutosOnde histórias criam vida. Descubra agora