Capítulo 13

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"Amor não é coisa que se possa pedir a alguém" (Anne Frank)

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Não ouso ir para a pracinha essa noite e meu celular apitando com novas mensagens me diz que Ezra pode estar esperando por mim o que me faz ficar, estou andando descalça entre a sala abrindo e fechando as mãos, estou transpirando, meu corpo inteiro treme e imagens se sobressaem na minha cabeça, tapas, palavras, socos, risos, mais tapas, uma faca, tento engolir o medo, o terror, os olhos azuis apagados por anos de tristeza.

Me sento no chão e oscilo para frente e para trás, as paredes parecem me engolir, estou puxando os cabelos, estou tampando os ouvidos, estou chorando. Implorando, pedindo socorro, o tic tac do relógio prossegue, pego a pecinha de xadrez de cima da estante e o aperto, com força suficiente para machucar, o frio da pecinha me faz sentir.

"Você não passa de lixo"

Soluço mais alto com a voz dele em minha cabeça, me deito de lado no chão e fico em posição fetal, tudo em mim doí, tudo em mim grita por socorro, mas não é como se alguém fosse escutar.

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Acordar no chão frio, com o corpo dolorido e logo em seguida ir para a escola foi pior do que imaginei, dar aulas e prestar atenção ao que eu falo ou a que os outros falam é insuportável, Tabatha pergunta se estou bem e eu respondo que sim, é mais fácil, menos doloroso.

Quando estou saindo lembro de última hora e volto para a sala, Erick já está me esperando batucando os pés no chão. Hoje deixo que ele fale, sobre história e filosofia e dou graças a deus que consiga discutir e o corrigir e só quando já estou saindo que me lembro do livro.

Uma cópia de O Pequeno Príncipe passa da minha mão para a dele.

- Nenhuma crítica?

- Não, da última vez me arrependi – Dando um sorriso ele se afasta e vai embora. E eu fico lá esperando, cogitando ir para casa, mas no último instante vou para a casa de Ezra.

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Fico esperando do lado de fora até que Nicole abre a porta, ela está vestindo uma roupa de fadinha e quando me vê me abraça, vejo Antônia vindo da cozinha com a respiração ofegante.

- Essa menina ainda vai me matar, tão rápida quanto o papa léguas – Rindo me abaixo e a pego no braço, confiro ela e vejo que está com a aparência saudável, mas não sou medica então pergunto.

- Como você está fadinha?

- Bem, vem brincar comigo – Tiro o cabelo dos seus olhos e dou um sorriso, acho que depois de cantar ela me fez sua amiga, fico feliz com isso

- Não posso, vim aqui só para ver se você estava melhor – Ela faz biquinho enquanto eu confiro Antônia, que nos olha

- Ela está bem melhor, Ezra quase teve um ataque quando viu a temperatura dela. Mas porque você não entra? Eu tenho que fazer o jantar, você poderia ficar com a Nicole por mim, iria ajudar e muito.

Estreito os olhos para Nicole que está praticamente pulando no meu colo, dando de ombros entro e tiro o casaco e a bolsa, colocando-os no sofá.

- Ezra foi trabalhar hoje?

- Foi sim, ele viu que ela estava melhor. Mas ele mandou várias mensagens para você hoje, você não viu? – Ainda bem que estava de costas a ela.

- Meu celular deu um pequeno pane no sistema, por isso eu não vi

- Bom, se divirtam, mas por favor Nicole tente não deixar exausta Lyra tá bem? E não quebre nada.

Nicole acena solenemente e me pego rindo quando ela tenta dá uma piscadinha secreta para mim, não preciso dizer que a avó dela viu, revirando os olhos ela vai para a cozinha enquanto eu e Nicole ficamos na sala avaliando o que fazer. Mas não preciso dar nenhuma opinião porque ela já está me tocando e gritando

10 MinutosWhere stories live. Discover now