Capítulo 6

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" A vida guarda a sabedoria do equilíbrio e nada acontece sem uma razão justa"

(Zíbia Gasparetto)


Lorenzo Miller, mais conhecido como Enzo, tinha 45 anos, era um dos únicos advogados que metia medo em qualquer homem ou mulher que ousasse cometer algum crime, suas viagens para outras cidades eram comuns e durava poucos dias antes que retornasse, ele podia ser considerado famoso na sua área, mas ele não admitia isso, por mais que seus olhos brilhassem quando se referiam a isso.

Ele se casou aos 25 anos com Natália Colton, filha de estrangeiros, e estudante de Administração conheceu Enzo quando pedia encarecidamente um visto permanente ao advogado público, e quando eu digo encarecidamente estou falando de gritar e quase arrancar os poucos fios que restavam ao advogado dela, e foi quando Enzo que trabalhava como estagiário na época chegou e ao invés de pedir que se acalmasse ele decidiu ajuda-la. Foi uma ótima decisão, porque ela conseguiu o visto e meses depois se casou com ele em uma igreja pequena mas muito bonita, eu amava quando ele contava essa história.

Naty foi a salvação de Enzo que naquela época tinha um relacionamento conflituoso com sua mãe, se casar ainda que muito novos ou rápido demais desenvolveu um amor que até hoje se sobressaia de qualquer momento de infelicidade, eles andavam juntos não importa o momento. Mas alguns anos se passaram e o sonho de virarem pais estava longe de se concretizar, eles não poderiam ter filhos foi o que a médica disse e sendo assim procuraram outras soluções.

A solução veio alguns anos depois quando Enzo já com 30 anos conheceu duas crianças que não se largavam, é claro que brigavam e discutiam sempre que podiam, mas se amavam como dois irmãos, mesmo que não de sangue. Eram órfãos ligados pelo abandono com poucos meses de distância, o menino cinco anos mais velho, muito travesso mas muito gentil, de olhos pretos brilhantes e cabelos do mesmo tom, se chamava Murilo e seus avós os únicos parentes tinham morrido em um acidente de carro.

A menina não tinha muito para contar, em suas histórias Enzo dizia que tinha ficado fissurado por uma menina cujo olhos azuis tinham lhe desafiado, tinham lhe instigado a ser a melhor pessoa que poderia ser.

E foi assim, com uma criança de cada lado que Enzo começou uma família com Naty, criando-os e amando-os da forma como deveriam. Murilo dois anos depois os tinham chamado de pai e mãe, ele se sentia confortável em sua nova vida, pois nunca tinha conhecido os pais e por mais que eu também tenha me sentido assim, ainda não me sentia capaz de chama-los assim, toda vez que eu pensava na palavra pai me via a imagem de um homem cuja capacidade de procriar não podia ser chamado de pai, e de jeito nenhum queria invocar essas lembranças, principalmente quando ainda podia escolher, o que não acontecia a noite.

O fato é que ganhei uma família, mesmo não sendo uma das minhas orações constantes, um presente em meio ao caos que se seguiu, e Enzo, foi a melhor coisa que já aconteceu comigo, acima de tudo ele era a lembrança constante de uma boa mudança, de que coisas boas podiam acontecer, um amigo em meio aos monstros debaixo da cama. E exatamente por isso que estou aqui na frente de sua porta, batendo de leve, porque preciso da minha dose de paz.

- Estrelinha! – Enzo me puxa para dentro do seu abraço apertado, beijando em seguida a minha cabeça.

- Oi, espero não estar atrapalhando – Ele me afasta de leve e me puxa para dentro de casa.

- Você nunca atrapalha – Mesmo dizendo isso, noto o notebook e alguns papeis espalhados em torno da mesa do escritório que por sinal está aberta, passamos pela sala e vamos direto para a cozinha, ele não pergunta se quero alguma coisa, ele simplesmente esquenta água e coloca saches de chá nas canecas – Estava mesmo precisando de companhia, Naty ainda não voltou da floricultura.

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