Capítulo 11

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"Quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que já mudei muitas vezes desde então" (Lewis Carroll)

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Na sexta feira Erick já está na sala de aula, batucando os pés no chão, estreito os olhos e vou para mais perto da mesa

- Está tudo bem? – Coloco minha bolsa na mesa e me sento, seus olhos praticamente voam de um canto a outro enquanto começa a falar de forma animada, e relaxo ao ver que não tinha nada relacionado com o pai.

- "O difícil não é ter que viver com as pessoas, o difícil é compreende-las" – Ele cita como se fosse apenas palavras suas e não de outra pessoa, sorrio e me recosto na cadeira.

- Devo supor que você gostou do livro?

- Eu adorei o livro, e eu fiquei animado para escrever sobre ele e fiz a redação ontem de noite – Antes que eu abra a boca para repreendê-lo ele fala – Eu sei, mas não iria conseguir dormir sem ter escrito primeiro, então daria no mesmo não acha?

- Não quero que escreva no calor da emoção, por isso falei que daria o final de semana para você ter tempo de pensar sobre a escolha de palavras ou o julgamento final do livro.

- Eu sei disso, mas terminei ele ontem de manhã e passei o dia pensando e minha opinião não mudou, achei completamente fantástico – Ele pega uma folha dentro do caderno e me entrega, é totalmente escrito a mão, com sua caligrafia inclinada e precisa – Meu pai não achou necessário consertar a impressora então tive que escrever.

- Não se preocupe com o modo como você me entrega, não estou avaliando isso, e nem o seu julgamento somente vou avaliar sua forma de escrita e como coloca os pensamentos na folha, tudo bem?

- Tudo bem. E qual vai ser o próximo livro?

- Antes de irmos para esse ponto Erick, queria saber o que te chamou atenção na frase que você citou a pouco tempo.

- Porque é verdade, mesmo que passássemos anos convivendo com outra pessoa, não conseguiríamos entende-la.

- Concordo. Você me disse porque acha verdade e somente isso?

- Fiquei pensando em meu pai, sabe? – Ele faz uma pausa e considera – Posso ser seu filho mas por mais que eu tente entender ele eu não consigo, acho que nem minha mãe o entendia e quando eu li essa frase percebi que não é preciso estar cego para não enxergar, na verdade é muito fácil não ver o que está a sua volta.

Penso por um instante e me inclino na cadeira ficando mais próxima dele.

- "Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos" – Ele franze as sobrancelhas em dúvida – Talvez para você enxergar o outro você precise enxergar a si mesmo primeiro.

- Não é egoísmo?

- Não é egoísmo, é autoconhecimento. Você está temporariamente dando um tempo e olhando para si mesmo, se conhecendo, estipulando seus limites e até os expandindo, vendo do que gosta e do que não gosta.

- Vai importar o que eu penso ou gosto? – Sua voz diminui algumas oitavas

- Isso vai depender de você, suas prioridades. Lembre-se Erick, não vão ser os obstáculos que aparecem na sua vida que vão o impedir de ser o que você já é, mas aqueles obstáculos que você cria.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, cada um absorto em seus pensamentos, mas suspirando voltei a falar, sobre filosofia e história e ficamos assim por uma hora até que o som já comum das últimas pessoas indo embora nos coloca em movimento para arrumarmos tudo.

10 MinutosWhere stories live. Discover now