23. Seu único voo de volta é o que vai pro meu coração

996 133 671
                                    




Autora falando:

OLHA SÓ OLHA SÓ!

Sei lá, eu não posso comentar muita coisa, só que é POV Adora

boa leitura <3


fim da autora falando

***


Será que agora já era hora de acordar?

Pela quinta vez Adora olhou para o relógio até se tocar que realmente não conseguiria descansar além das 4 horas frequentemente interrompidas dessa noite. Foram pesadelos em looping, nos quais Catra dizia que não ficaria, ou em que ela embarcava e não dava tempo de fazer a ansiada proposta.

Num dia normal, e sem crises de ansiedade, presumiria que 5 da manhã era muito cedo. Sempre gostou de dormir e sentia que não aproveitar a oportunidade de estender o sono até mais tarde era um desperdício. Não hoje. Hoje era um dia excepcional.

Levantou, escovou os dentes e foi para o chuveiro. Nele, deixou que a água morna passasse longos minutos massageando seus tensos ombros, descendo pelas costas e depois pelas laterais dos braços. Muito mais que um banho, aquilo era quase uma terapia de choque para que seu maldito corpo parasse de tremer por tamanha tensão. Também se concentrou na respiração. Vagamente notou que desde que Catra chegara na cidade, ela passou a necessitar mais e mais tomar as rédeas de seu próprio ar, já que até isso ela não conseguia estabilizar com sua ex frequentemente por perto.

Existiam duas versões de Adora fora do Brasil. A que não tinha Catra, a que colocava à frente suas conquistas profissionais e abafava toda e qualquer saudade de um relacionamento mal terminado em outras atividades, em outros hobbies. Tudo era prioridade, desde que não a fizesse questionar se realmente era feliz sem sua ex do lado.

E a versão com Catra. Essa era uma bagunça. Foi o verdadeiro caos, tudo o que não queria misturado com tudo o que tentava esquecer. Ela provocou os dias de maior fúria, de maior frustração. Também tirou seu chão, fez repensar cada tijolo do muro errado e precipitado que construiu com a exclusiva função de afastar sua ex para sempre.

Esse muro caiu totalmente. Não existia uma poeira sequer dele. Esse muro estava atrapalhando sua visão para algo maior. O seu amor nunca mudou, o seu desejo de estar sempre com essa mulher nunca foi embora. E durante todo esse tempo que ela reapareceu, o vazio que sempre teimou em aparecer nos seus dias desde que se mudara foi morrendo, foi dando lugar a novas memórias com ela, a novos desejos ao lado dela.

Dessas duas versões, a Adora atual sabia de uma coisa: naquela sem Catra tudo era uma mentira, uma zona de conforto ilusória. E é por isso que não podia deixá-la ir. Não importa se o relacionamento delas está eternamente fadado à amizade, apesar de algo dentro de si falar constantemente que é uma questão de tempo.

Uma onda de determinação afogou de vez a aflição. E mesmo que durasse apenas algumas horas, iria tirar proveito disso. Saiu do banho, vestiu-se, passou pelo corredor do quarto à cozinha infestado daqueles post-its que a assombraram nas últimas semanas e preparou o café da manhã. O tempo que ganhara ao acordar cedo serviu para que revisasse pela centésima vez todos os documentos que reunira numa pasta transparente. Checou se todas as cópias, todas as fichas, todas as assinaturas estavam em ordem. Ali dentro só faltava mais um papel e ela iria buscá-lo hoje. A maldita oficialização da inscrição, a que só ia sair no final da manhã, fazendo-a ter que correr contra o tempo para encontrar Scorpia e Lonnie em um restaurante para onde levariam Catra como uma desculpa de um último almoço entre colegas de quarto. Dali partiriam direto para o embarque, no carro que Lonnie pegou emprestado de um dos namorados.

O que te faria ficar?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora