QUATRO

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— Eram fogos de artifício

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— Eram fogos de artifício.

Eu olhei para ele.

— Aquelas luzes que estavam viajando pelo céu. Chamam de fogos de artifício.

Assenti, assustada.

— Não eram estrelas explodindo. Aqui não podemos ver as estrelas de tão perto. A lua só aparece quando ela quer. É estranho.

Alisei mais uma vez o tecido da minha calça. O médico havia me dado um conjunto de roupas novas. Eram de um tecido leve, agradável, de cor verde claro, semelhantes a folhas secas. Uma calça folgada e uma blusa curta. Semelhante as roupas de papai.

Entre nós, repousava sobre a mesa uma escova de cabelo tão brilhante quanto ouro.

— Você não vai me dizer nada? Terei que ficar aqui sentado conversando sozinho?

Abaixei os olhos.

— Você parece ser muito jovem para ser um médico.

— Olha só, as primeiras palavras do dia.

O médico se virou para mim, debruçado na mesa.

— Eu sou mais novo que você.

Sorri.

— Tem vinte e um?

Ele negou. Pensei um pouco.

— Vinte?

Ele negou novamente.

— Não leva tempo para estudar para ser médico?

— Hum... o Hector é bem velho, então diria que sim.

— Eu não entendo o que você fala.

— Você não entende as coisas com facilidade. Pode ser os antigos remédios – ele se inclinou para frente e olhou em meus olhos, sério – Angelina, eu não quero que você tome mais nenhum daqueles remédios. Esqueça deles, por favor.

— O novo tratamento é mais eficaz?

Estreitando os olhos, ele concordou.

— A escova é para você.

Estremeci.

— Mamãe não deixa.

— Por quê?

Balancei a cabaça.

— Ela não deixa. Ela diz que pode me machucar.

— Quem pode te machucar, Angelina? A escova ou sua mãe?

O que aquele médico estava falando? Que coisas absurdas eram aquelas?

— Eu não posso fazer isso.

— Tudo bem – ele se deu por vencido – Mas estamos só eu e você aqui, Angelina. Ninguém virá. E eu vou garantir que ninguém venha nos atrapalhar.

𝐍𝐨𝐢𝐭𝐞 𝐄𝐬𝐭𝐫𝐞𝐥𝐚𝐝𝐚 - 𝐋𝐢𝐯𝐫𝐨 𝐔𝐦Where stories live. Discover now