TREZE

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Estava escuro

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Estava escuro. A única fonte de luz era a luz fraca da lua. Observei, o rosto apoiado nos meus joelhos, os raios iluminaram de forma geométrica meus dedinhos dos pés até as pernas de Kyle. Ele estava sentado em uma cadeira mais ao longe da minha. Com as cadeiras voltadas em direção a janela, deixamos o silêncio nos rodear. Não era sufocante ou angustiante como das outras vezes. Parecia mais como uma sensação de serenidade, quietude tanto do lado de fora quanto dentro de mim.

O frio era acolhedor pela primeira vez. Os remédios eram dispensáveis pela primeira vez. Eu precisava deles? Eu precisava dos sedativos? Da força bruta dos médicos, de ficar presa em minha própria armadilha por dias e dias seguidos, no escuro?

Veja, eu estava no escuro agora. Eu estava sem amarras. Sem remédios. Quem determinava o que era perigoso para mim e para os outros? Mamãe? Papai? Meus súditos?

— Theodor – começou Kyle, como se ele já estivesse cansado de falar – Foi a pessoa mais cruel e gananciosa que já existiu antes. Aquele miserável não era satisfeito com a própria infelicidade. Ele preferiu como um canalha arrogante se agarrar a segredos escondidos e ir até o fim.

Kyle estava escondido nas sombras. Apesar disso, eu podia ver seus olhos brilharem com algo muito mais sombrio e profundo do que a raiva que aparentava em sua voz.

— Ele era um charlatão. Morava na rua. Um dia ouviu sobre a lenda de uma terra distante, onde a areia era rosa e as estrelas estavam tão perto do chão que poderiam ser tocadas. Os que viviam lá... eram as coisas mais impressionantes já feitas pelo universo. A harmonia, a justiça, a sabedoria... o mal não existia lá. Dá para acreditar em algo assim, Angelina? Você consegue imaginar um lugar tão incrível realmente exista?

Não respondi. Isso não o incomodou. A conversa que ele estava tendo não era comigo. Mesmo que eu estivesse aqui, presente com ele... era como se ele não percebesse minha presença de fato. Kyle estava falando com a mesma sombra que eu falava todos os dias?

— Obviamente, ele se encantou com a história. Com um verdadeiro dom para lábia, os tolos acreditaram em tudo que ele falava. Mendigos, matemáticos, filósofos, nobres, qualquer um que ouvisse suas palavras fantasiosas sobre uma terra tão pura quanto aquelas que eles viviam, todos caiam. Ele se espalhou como uma praga em muitos países. Suas palavras perpetuaram em todo o lugar. A ideia que o lugar natural dos seres humanos já estavam contaminados pelas maldade, pela ira e pela imoralidade e que a única salvação restante era Panacea.

Suspirei involuntariamente. Eu poderia imaginar um lugar assim. Não era o desejo de todos viver um harmonia, a justiça sendo usada com sabedoria? Minha própria vida poderia ser um exemplo disso. Se a justiça fosse feita, não teríamos sido saqueadas naquele dia. Se os médicos tivessem mais sabedoria, eu não me tornaria a louca que sou hoje. Minha alma viveria em harmonia.

— Quando os reis e aquele homem esquisito com um alto chapéu branco... Você já deve saber quem é ele, não é? É um velho que segue palavras antigas de um livro mais antigo ainda que ele, você sabe, não é? – ele riu, como se lembrasse de algo – Eu teria gostado de conhecer ele. Foi o único que quase impediu Theodor e sua legião de avançar com sua obsessão.

Alisei o tecido do meu vestido. Queria ouvir mais.

— O resto é obvio. Os humanos, esses seres imprestáveis, eles sempre conseguem o que querem. Eles conseguiram, Angelina, ir para essa terra fantástica. Dá para acreditar?

Nesse momento, Kyle esticou as pernas. Desci meu olhar do seu rosto até a pele expostas do seu peito.

— Eles conseguiram o que queriam. E destruíram tudo.

Kyle se inclinou para frente, apoiando os braços nos joelhos. Seu rosto se tornou mais visível. Ele franzia o cenho.

— Olhando de uma maneira mais insensível, sabe, um pouco realista, eles tentaram. O plano inicial não era somente ultrapassar as camadas e teias do universo e se abrigar em Panacea. Eles tinham um plano interessante, era uma ideia que estava popular na época. Veja – ele se virou para mim, ainda que não me olhasse – em suas próprias palavras, eles que eram os seres elevados. O lugar que nasceram não poderia ser o mesmo que consumiriam seus corpos podres após a morte, por que esse lugar não os mereciam. A genialidade, os princípios, suas crenças, eram todas as certas.

Engoli em seco.

— E Panacea era o lugar favorito para eles, Angelina. Eram ali, naquele novo mundo, que eles começariam do zero. Refariam tudo o que a humanidade destruiu. Mas que o aconteceriam a aqueles que moravam em Panacea antes? Para onde iriam?

A história que ele me contava era estranhamente familiar. Era como se alguma vez, num passado distante, eu já a tivesse ouvido. Os nomes, eles eram muito familiares para mim. Esse ideal que essas pessoas procuravam, era tudo o que todo mundo procura. Mas eu poderia responder a pergunta de Kyle? Se esse Theodor saiu a procura de um mundo novo, um novo lugar para habitar, o que seriam daqueles que já moravam lá?

Em um movimento brusco, Kyle esticou as mãos para cima e delas, um raio brilhante explodiu. Como um jato, esse raio subiu cada vez mais alto até se chocar com o teto e milhares de pontos brilhantes caírem lentamente por toda a sala. Eu olhei, confusa, sentindo um turbilhão de sentimentos passarem por mim, como um rio.

Não eram simples pontos brilhantes. Eram estrelas, as mais lindas que eu já vira em toda a minha vida. Elas cintilavam delicadamente.

— Eu queria te mostrar os fogos naquela noite, por que eu iria te salvar naquele exato momento – Kyle começou, caminhando até mim.

As estrelas desviavam dele, mas voltavam ao seu ponto original quando ele saia do caminho. Eu me mantive estática. Apertei minha barriga, mas a dor não veio. Minha visão começou a nublar e as lágrimas rolaram por minhas bochechas. O que eu estava sentindo, de verdade? O que eu deveria sentir?

— Você passou por muita coisa, eu sei – ele se aproximou – Sei que esteve sozinha esse tempo todo. Sei que está confusa também, mas está tudo bem. Veja, veja as estrelas. Veja a noite estrelada que eu fiz para você.

— As estrelas estão explodindo? – sussurrei.

Minha voz arranhava minha garganta. Não tive forças nem para me encolher.

— Não, Lina, as estrelas não explodem. Elas estão aqui, veja, ao nosso redor. Elas estão saudando você, Angelina. Estão saudando você.

Um ruído ecoou pela sala. Pareciam sinos, pequeninos sinos. Kyle girou lentamente, sorrindo para as estrelas, até que se voltou para mim, fazendo uma reverência. O ruído ecoou novamente. E dessa vez eu percebi que não eram sinos soando. Eram suspiros. E eles estavam vindo das estrelas.

— Você não tem que sentir medo – Kyle advertiu.

— Não estou com medo – rebati, por mais que meu peito apertasse e minhas pernas estivessem paralisadas – Eu... eu só vejo as estrelas.

 eu só vejo as estrelas

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𝐍𝐨𝐢𝐭𝐞 𝐄𝐬𝐭𝐫𝐞𝐥𝐚𝐝𝐚 - 𝐋𝐢𝐯𝐫𝐨 𝐔𝐦Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt