NOVE

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A tiara pesava um pouco na minha cabeça

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A tiara pesava um pouco na minha cabeça. Eu me mantinha erguida, andando à passos leves pelo corredor. Feliz, minha mente retornava aqueles tempos dos bailes. O salão cheio, as pessoas dançando, as estrelas brilhando no céu. Podia ouvir, se fechasse os olhos, a música tocar. Ela se espalhava pelo salão, ecoando até mesmo pelos andares acima do castelo.

As conversas sobre política me pareceram mais familiares agora. As fronteiras precisam ser fechadas, dizia um velho homem vestido de preto. Os puros devem ser preservados, comentava outro. Eles precisam ser afastados dos demais, uma mulher resmungava. Sorri ao reconhecer quem eram. Ministros. Eles viviam para me perturbar.

— Os fogos de artificio e o vestido provocaram sua cicatriz?

Bufei. Ele era insistente.

— Sim.

— Mas a tiara não?

— Não.

— E o que você se lembra quando sua cicatriz dói?

— O ataque.

Ele ergueu as sobrancelhas.

— De quando fomos saqueados.

— E onde você se lembra de estar? Quem mais está com você?

— Sabe o que é engraçado, doutor? O senhor tem esses óculos, mas não o vejo usá-los.

Me estiquei e o peguei de seu bolso. A armação parecia nova, só que era bem frágil, maleável.

— É por precaução.

— Como? – questionei.

Ele parou e o tomou de minha mão. Levantou-o em direção a janela, deixando que os raios solares o iluminasse.

— Está vendo? É um assessório muito importante. Ele serve para que eu não fique cego. Então, quando estou com sono, pois leio muito, eu o coloco e meus olhos param de coçar.

Pisquei sem entender.

— O quê?

O médico se voltou para mim.

— Agora responda a minha pergunta. Você sempre faz rodeios.

— Não acho que os óculos sirvam exatamente para isso. Nunca ouvi nada parecido.

— Só por que não você tem conhecimento sobre algo, não quer dizer que não seja verdade.

Cruzei os braços, assentindo, como se aquilo fizesse sentido. Papai usava óculos, mas tenho certeza que não era para isso.

Ele abriu a boca, provavelmente para fazer aquelas perguntas de novo, então mudei de assunto.

— Onde achou a tiara? E por que foi um médico a coloca-la na minha cabeça? Não quero parecer ingrata, mas essa não é uma joia comum.

O médico guardou os óculos. Se aproximou de mim, as mãos escondidas atrás das costas. Dessa forma, com seu peito estufado e andando até mim, ele parecia intimidador.

— Então, só pessoas especiais podem tocar nas suas coisas.

— Não é como se atualmente eu tivesse muito, mas minhas coisas são preciosas. Eu espero um pouco de decoro vindo dos demais.

— Você ouve o que diz? Presta atenção a sua volta? Acha que é realmente uma princesa se deixa que eles pisem em você como se fosse um ratinho assustado?

Dei um passo para trás.

— Não tenho muitas opções. Estou... doente, confusa e preciso me recuperar logo. Os médicos estão me ajudando.

— Entendo – ele sussurrou, se aproximando cada vez mais – E você acha que eu poderia ajudar você?

Umedeci os lábios.

— Não é a sua função?

Ele sorriu com o canto da boca. O encarei por um momento. Ele era bonito. Fato. Era um homem que a cada vez mais se mostrava atraente, Não me lembrava, nem na época dos bailes, de ver alguém tão bonito quanto ele. A covinha em seu queixo, o cabelo brilhoso, o olhar malicioso... a maneira que se preocupava comigo. Que me tocava. Era tudo tão revigorante. Uma doce fantasia.

— Vamos deixar os títulos de lado, por enquanto.

— Certo – sussurrei.

— Vamos conversa com sinceridade dessa vez.

— Conversa com sinceridade? Deve estar falando de si mesmo.

— O quê? Acha que eu mentiria para você? Uma princesa deve ter assuntos importantes que não dividiria com qualquer um,

Assenti.

— Já que não quer me contar nada e não temos muito a fazer presos aqui, poderíamos fazer um baile.

Parei de andar e o encarei.

— Um baile?

— Sim. Vejamos, você já tem um vestido e sua coroa. E não podemos sair, mas não há nada que impeça pessoas de entrar.

— Mamãe e papai estarão aqui também?

Ele me ignorou.

— Não vamos nos apressar. Você ainda está fraca, precisa se alimentar melhor e descansar bem.

Eu o segurei pelos ombros. Meu coração parecia que ia explodir.

— Foi ideia da mamãe e do papai?

— Por que você sempre os trai à tona? Eles já fizeram algo por você além de larga-la aqui?

— Então isso é ideia sua?

O médico se aproximou de mim. Eu não recuei.

— Mereço ter créditos pelo o que faço por você. Por finge não ver meu esforço?

Pisquei, sem entender que rumo ele estava dando a nossa conversa. Antes de balbuciar algo, o ruído no fim do corredor chamou nossa atenção. O médico me empresou na parede. Ficamos quietos, observando o senhor Barbora trancar a porta.

— Sim, a antiga medicação não está sendo mais fabricada. O novo médico traz tudo com ele do laboratório de quinze em quinze dias.

Ele falava ao celular, que nem mamãe fazia quando vinha aqui.

— Os exames? Na verdade, não há nenhum exame agendado.

O senhor Barbora começou a andar para mais longe e não conseguimos ouvi-lo. Meu médico agarrou meu pulso e sussurrou baixinho que eu tentasse fazer o menor barulho possível. Fiquei apreensiva. Propositalmente, eu nunca tinha espionado ninguém. Não era minha culpa se todos achassem que eu era inofensiva ao ponto de falar coisas confidencias na minha frente. Mas seguir alguém? O que aquele médico queria descobrir que já não soubesse?

 Mas seguir alguém? O que aquele médico queria descobrir que já não soubesse?

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𝐍𝐨𝐢𝐭𝐞 𝐄𝐬𝐭𝐫𝐞𝐥𝐚𝐝𝐚 - 𝐋𝐢𝐯𝐫𝐨 𝐔𝐦Where stories live. Discover now