QUINZE

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— Como pode saber disso? – ele sussurrou

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— Como pode saber disso? – ele sussurrou.

— Eu era jovem – prossegui – Não lembro direito minha idade. Tinha dez anos? Treze? Dezessete? Eu sofri na época. Ele era a única pessoa que gostava de mim, de verdade. Ele acreditava em mim. Não importava o que a Corte dizia, se as condessas cochichassem pelos corredores como eu era inadequada para o meu cargo. Ele acreditava em mim. Tinha fé em mim. Foi isso que o deixou fraco, não foi? Por isso ela o matou?

— Não foi sua culpa.

— A culpa foi tão minha quanto de qualquer outro ministro ou lorde. Estavam todos tão focados sobre o quão puro nosso sangue era, que não viram o golpe chegar.

— Esse é um fardo que você carregou por muito tempo – ele suspirou, se apoiando na mesa – Ainda te perturba?

Franzi o cenho. Era tudo muito confuso quando a verdade minha à tona.

— Depois de tudo que passei... essa é a última coisa que me preocupa. O que quer que tenha me acontecido antes só me fez enxergar o que irei fazer adiante. Eu vou derrubá-los um por um.

— E sua mãe? O que você fará em relação a ela?

Me calei por um momento. Meu peito começou a doer. Eu a amava? A maneira como ela me tratava, como me deixou de lado. Fiz o que pude para obedecê-la, dar orgulho ao nosso povo. Coloquei a mão no peito, pigarreando. As imagens, as lembranças de minha mãe, da Ivory, bagunçava a minha mente. Eu tentei seguir uma linha reta de raciocínio, mas não era como as coisas funcionavam para mim. Vários outros caminhos se abriam à minha frente. Ficava cada vez mais difícil decidir o que era certo.

— Ela matou meu pai, Kyle. Como posso perdoá-la?

— Esse é um ponto importante, Angelina – ele se aproximou, segurando meu rosto – Por isso o baile é tão importante. Você deve decidir o que faremos com ela, é claro, mas a situação da fronteira é de extrema importância.

O que faremos a seguir? Por que ele se incluiu nesse plano?

— Mas por favor, preste atenção ao que eu digo: onde ele está? Você se lembra?

Tentei balançar minha cabeça em negativa. No entanto, seu aperto aumentou e me mantive reta.

— Não diga isso. Pense por um momento, Lina, eu lhe suplico. Onde ele está?

Minha cicatriz que parou de doer por tanto tempo, começou a me fisgar. Eu rangi os dentes, tentando evitar a dor e ficar sã no presente. Mas era uma tarefa muito difícil. Toda vez que Kyle me perguntava sobre ele, mesmo que eu não soubesse exatamente de quem ele estava falando, algo dentro de mim, escondido no canto mais sombrio da minha cabeça queria responder por mim. E era aí que o sangue aparecia na frente dos meus olhos. Eu voltava para aquele incidente, onde estava deitada naquela maca fria, as roupas rasgadas, o sangue sujando tudo. Lembrava de olhar nos olhos da Ivory, ver em sua mão toda minha esperança ir embora.

— Eu não sei – arfei – Não pude tocá-lo. Não pude vê-lo. Faz tanto tempo, Kyle. Tanto tempo...

Kyle segurou minha cintura, com medo que eu desabasse no chão. Me senti fria. Vazia. Cheia. Confusa. Não era por que eu não queria enxergar os fatos. Era por que eu havia feito aquilo comigo mesmo. Não suportei deixar a coroa para trás. Não suportei pensar em ver minha família machucada. Mas que família eu tinha? Um pai morto e uma mãe presa? Uma Corte que não acreditava em uma palavra que eu dissesse? A areia rosa da praia que afundava meus pés ao caminhar?

— No que eu podia me agarrar, Kyle? Eu sou fraca – assumi.

— Não, você não é.

— Eu fui fraca – encarei os seus olhos – Onde ele está? Onde ele está? Onde ele está?

Onde ele está?

Kyle me avisou na manhã seguinte que o baile foi adiado por um dia. Ele queria mais tempo comigo antes da festa. Isso não fez com que eu me acalmasse. A ansiedade pelo evento tomou conta de mim de repente e eu me vi roendo as unhas com a espera.

Observei enquanto tomava café da manhã, Kyle ir até o portão do castelo. Ele se embrenhou em meio as árvores secas e depois de muito tempo – com lama da cabeça aos pés – ele voltou com pás e martelos. O repreendi quando ele entrou todo sujo no castelo. Estranhamente, Kyle não tinha nenhum tipo de consideração pelo edifício. Quebrou toda a sala de remédios, as janelas, arrombou portas e agora isso. Ele esperava que fossemos viver na imundice?

Ele me pediu ajuda. Quebrou o chão em algumas salas médicas, arrombou cofres, destruiu quadros, móveis, armários... destruiu o castelo de dentro para fora. Eu o segui durante o dia, sem me atrever a detê-lo. Ele poderia não ser um médico – sugestão que estava começando a aceitar seriamente – mas era alguém que me foi confinado. Eu era a princesa. Não podia ficar na responsabilidade de ninguém. E sabia, no meu íntimo, por mais que parecesse tão irracional quanto ele, que Kyle estava fazendo o certo.

Só queria responder a sua pergunta e eu não o impediria disso.

Á noite, eu o vi sentar no chão e chorar. Eu sentei ao seu lado, limpando com um lenço o suor do seu rosto. As lágrimas não caíram dos meus olhos. Eu compartilhei com ele sua dor, pois a dor dele, a que ele sentia agora, era uma que eu carregava por tempo demais.

Não que eu a tivesse superado; a cicatriz era a maior prova disso. Ela continuava lá, feia, como uma lembrança. Eu o queria. Eu o amei. Ele era parte de mim como um dia eu já fui parte dele. Mas eu me entreguei tão intensamente na dor e me agarrei a qualquer sinal de conforto que me era oferecido que me deixei domesticar. Minha voz foi apagada. Minha vontade foi reprimida.

— Ele não está aqui – Kyle sussurrou.

— Não foi feito aqui – desabafei – Aqui só é uma prisão para a princesa.

Como uma forma de pôr um fim a tudo isso, Kyle fez as estrelas cantarem para mim mais uma vez.

Como uma forma de pôr um fim a tudo isso, Kyle fez as estrelas cantarem para mim mais uma vez

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𝐍𝐨𝐢𝐭𝐞 𝐄𝐬𝐭𝐫𝐞𝐥𝐚𝐝𝐚 - 𝐋𝐢𝐯𝐫𝐨 𝐔𝐦Onde histórias criam vida. Descubra agora