TRÊS

74 16 7
                                    

— Vamos, saia – o médico repetiu

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

— Vamos, saia – o médico repetiu.

Eu não olhei para fora. Concentrei-me em sua mão flexionada no vidro da porta. O doce vento frio refrescava minha pele, arrepiando-me. Ao longe, uma cigarra cantava fervorosamente. Dentro do castelo, eu me mantinha relutante.

Minha saída era proibida. Nunca, nos anos de vida que passei aqui, pus meus pés no gramado do jardim, na água translucida do chafariz ou na terra fresca além dos portões de ferro. O máximo que tinha da vista lá fora era quando eu tomava chá com minha mãe no jardim de inverno. Olhávamos para a enorme extensão verde e macia que nos cercava e nunca, em hipótese alguma, fui autorizada ir.

— Mamãe diz que os remédios não me fariam bem se eu tomasse o ar fresco de fora e poderia passar mal.

— O quê? – o médico perguntou, erguendo as sobrancelhas – Angelina, olhe para as paredes. As luzinhas vermelhas estão desligadas.

Dei um passo para trás e olhei para os cantos onde as paredes encontravam o teto. As caixinhas pretas estavam em completa escuridão. Como dito, os anéis de luzes vermelhas que cercavam aqueles globos negros estavam apagados. Mas isso não fazia com que a ordem que me foi passada desaparecesse.

— Tudo bem. Você sempre foi teimosa mesmo – ele suspirou e se aproximou – Vamos vê-los daqui mesmo.

Não entendia como desobedecer minha mãe faria bem a minha saúde. O que aquele médico planejava fazer?

— É só esperar um pouco – ele disse, parando ao meu lado – Já vai acontecer.

Atrevi-me a olhar o seu rosto. O médico pigarreou, colocando os cabelos para trás da orelha. Sua atenção focava-se no céu, não ciente da próxima que nós estávamos. Os outros não chegavam tão perto. Se não fosse por alguma consulta ou medicação, eles mantinham uma distância de mim. Normalmente, eu ficava encolhida na cama e eles só conversam entre si. Até quando nos encontrávamos pelos corredores, eu parecia ser invisível. Em resumo, a única atenção que eu recebia era de mamãe e papai que, no momento, não estavam mais aqui.

Entrelacei minhas mãos atrás das costas.

— Se eu melhorar... ajudarei mamãe a ter sucesso?

— Como? – ele questionou, virando-se para mim.

— Eu estou atrasando a todos nós ficando tão doente. Se eu melhorar... se você me curar, tudo ficaria melhor? Mamãe sorriria mais vezes?

O médico ficou em silêncio. Seu olhar fixou-se no chão por um tempo, para voltar-se para mim com um azul profundo, suas pupilas dilatadas.

— Angelina, do que exatamente eu deveria curar você?

Não tive tempo de responder, pois um enorme estrondo eclodiu no jardim. Gritei e pulei para trás, aflita, enquanto cada vez mais o barulho se aproximava. O médico olhou para, assustado, mas não fez nada.

𝐍𝐨𝐢𝐭𝐞 𝐄𝐬𝐭𝐫𝐞𝐥𝐚𝐝𝐚 - 𝐋𝐢𝐯𝐫𝐨 𝐔𝐦Where stories live. Discover now