Capítulo V

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Kael não sabia se o frágil portão iria segurar os sucessivos chutes de Roberto, em sua ingenuidade, pensou que mudar o cadeado e a fechadura da porta seriam um grande empecilho e o suficiente para impedir a entrada de seu padrasto, e frear toda sua fúria, no entanto agora questionava-se, talvez não tenha sido a melhor alternativa, já que parecia ter servido apenas para deixá-lo ainda mais furioso, temia que conseguisse entrar e o mal que poderia lhes fazer, torcia para que estivesse bêbado o bastante para que cessasse por ali seu esforços.

– G-gente... – Amedrontado Kael gaguejou, recriminando-se por tê-lo feito na frente de seus irmãos, ele não podia fraquejar, Aquiles, Emílio e Lúcia precisavam dele, e assim repetia em sua mente como um mantra em busca de acalmar os nervos. Quando olhou na direção dos seis pares de olhos completamente aterrorizados, viu que não poderia permanecer onde estava, não aceitava permanecer indefeso, ele tinha que ser forte, abraçou seus irmãos juntos e suspirou, quando os soltou já havia decidido.

– Preciso que se tranquem no quarto, independente do que ouvirem fiquem lá, entenderam?

Aquiles o olhou contrariado e estava prestes a contesta-lo, mas Lúcia foi mais rápido e gritou. – Não vou sem você! – Para terror de Kael, Aquiles reforçou o que Lúcia dizia correndo para cozinha e voltando a sala com uma pequena faca de mesa em mãos, Emílio o abraçou e Kael pôde sentir as lágrimas molharem sua camisa.

– Aquiles, o que tá pensando? Me dá essa faca!

– Do jeito que está indo ele vai atravessar aquele portão e depois essa porta, então tô fazendo o que é preciso. – Kael via o quão adulto Aquiles parecia, e se lamentava por não ser o que seu irmãozinho precisava, ele só tinha quatorze anos, não deveria está tomando tais atitudes, a situação era desesperadora, mas ainda assim não deveria está considerando cometer qualquer violência, principalmente com Roberto, ele ainda era seu pai, e Kael tinha certeza que se Aquiles fizesse o que pretendia, depois seria consumido por sua consciência.

– Aquiles me dá essa faca! – incisivo, Kael estendeu a mão.

– Não! – Aquiles manteve-se firme.

Kael suspirou e viu que não poderia permanecer ali, seus irmãos estavam expostos e não tinha ideia até quando o portão aguentaria, vendo como seus irmãos estavam decididos em não deixá-lo, percebeu que sua única opção era se unir a eles. – Vamos pro quarto e ficaremos todos juntos. – Kael olhou com súplica em seus olhos para Aquiles, mas a faca continuava em um aperto firme em sua mão.

Todos trancaram-se no quarto onde dormia Aquiles e Emílio, Lúcia correu para cama e se enrolou, e os três puxaram o armário como barreira na porta.

BUM! BUM! BUM! E o barulho continuava, até que um estrondo ainda mais alto se fez ouvir.

– Com certeza arrebentou o portão... e vai levar segundos pra fazer o mesmo com a porta. Que droga! – Aquiles apertava ainda mais a faca, como se estivesse se preparando para usá-la a qualquer momento, então kael se aproximou e tocou sua mão. – Pode esquecer! Não vou me desfazer da faca.

– Não quero que se desfaça, você tá certo, só acho que não deveria ser você.

E como imaginado, Roberto conseguiu passar pela porta. – Vem aqui fadinha! Vem fazer o jantar pra mim, e talvez não te encha de porrada. – Um soco forte acertou a porta e assustou todos no quarto. Kael correu para cômoda e começou a empurra-la para colocar junto ao armário, Aquiles o ajudou e voltaram para a amontoar-se na cama.

– Se não fizer o que tô mandando agora, vai ser muito pior depois!

Roberto continuou a socar e chutar a porta, provocando tremores nas paredes a cada nova batida, inúmeras ofensas eram proferidas, e nem todas foram direcionadas a Kael, dentre elas haviam algumas que eram para seus irmãos, que por meio do temor buscava persuadi-los a abrir, Emílio depois de Kael foi o mais insultado, com jeito meigo parecido com o do irmão mais velho, desagradava o pai, já Aquiles, o que mais lhe enfrentava, parecia provocar sua fúria e também admiração, Lúcia chorava sem cessar, que sequer dava conta do que se passava ao seu redor. Roberto parecia estar se cansando, já murmurava coisas inaudíveis e parecia ofegante, até que deu seu último chute e saiu rumo a sala, e o alívio correu por todos, ainda que momentâneo.

Destinado a vocêWhere stories live. Discover now