Capítulo XXVII

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Kael chamou Viviana para ficar com Emílio e Lúcia enquanto iam em busca de Aquiles, mas Dionísio insistiu para que não ficassem em casa, afirmou que já não era mais seguro que eles permanecessem ali, já que haviam invadido facilmente, os convidou para ficarem em sua casa, no entanto, Kael comentou que talvez as pessoas não vissem isso de uma maneira boa e as coisas pudessem ficar um pouco complicadas para Dionísio, o jovem apenas não sabia que o fogo já havia sido ateado e as chamas não demorariam a subir, então talvez ir fosse mesmo a melhor opção, mas devido a situação que estavam apenas concordaram em que as crianças fossem temporariamente para sua casa e pediram que Viviana as acompanhassem, até mesmo acertaram para que Vitor fosse busca-los, o que acabou provocando um desconforto na amiga, já que ainda o estava evitando.

Há tempos Dionísio não ia a aquele lugar, mas lembrava nitidamente o caminho, por vezes o pai tinha o levado ali, lembrava de vê-los bebendo por horas, enquanto fumava e jogava bilhar atrás da oficina com Alberto e Renan, que era um garoto da mesma idade deles na época e sobrinho de Geraldo, que ajudava o tio nos negócios.

A pequena e antiga oficina havia dado lugar a um grande galpão de consertos e uma loja de autopeças, mas ficavam no mesmo terreno, então foi fácil para Dionísio achar. Vários carros estavam parados em frente a oficina e parecia estar havendo uma festa no local, o cheiro de churrasco espalhava-se pela rua e gritos de euforia se misturavam a alta batida eletrônica do tecnomelody, alguns bebiam e pulavam em cima das carrocerias das caminhonetes que estava estacionadas na calçada e antes que descesse do carro esperou que Jairo, Arnaldo e mais alguns de seus funcionários chegassem.

– Kael, eu não queria que tu fosse.

– Eu vou...

– As coisas podem ficar difíceis e não te quero no meio disso.

– Eu preciso ir...

Dionísio suspirou em derrota. – Ok. Mas tu vai ficar atrás de mim, entendeu? – Kael se limitou a concordar com um aceno. – Tu pode acabar vendo coisas ruins lá dentro, e se isso envolver o Aquiles, não quero que vá correndo pra ele. Espere, que eu vou resolver!

– Tudo bem. – Kael murmurou, tentando aparentar uma segurança que não tinha, suas mãos estavam suadas e seu coração acelerado.

Dionísio olhou pelo retrovisor e viu os carros de apoio chegando, então recebeu uma mensagem de Arnaldo dizendo "quando quiser chefe", e então olhou novamente para Kael.

– Tá pronto? – Perguntou Dionísio, com um último fio de esperança que Kael desistisse de acompanha-lo, mas o jovem concordou e também se preparou para sair do carro.

Quando Dionísio desceu, todos os seus funcionários fizeram o mesmo, as inúmeras pessoas que se amontoavam em frente a oficina, bêbados como estavam, sequer concederam um segundo olhar ao grande grupo que havia chegado, provavelmente imaginando que seriam apenas mais convidados que se juntariam a aquela balbúrdia, mas quando entraram, os que ali estavam definitivamente pareciam mais sóbrios, não que garrafas de álcool não estivessem espalhadas por todo o lado, mas o principal divertimento estava centrado nas garotas seminuas que se revezavam em dançar no colo de sua pequena plateia, mas a entrada de Dionísio dessa vez não passou despercebida, rostos inebriados pelo show que recebiam, viraram-se para verificar a invasão, alguns se levantaram assustados e procuraram nos cós de suas calças as armas, mas antes mesmo que pudessem toca-las tiveram as do inimigo apontadas em suas cabeças.

– Geraldo. – Foi tudo que Dionísio se limitou a dizer.

Alguns se entreolharam e começaram a gaguejar e pediram por suas vidas, enquanto outros apenas xingavam.

Destinado a vocêWhere stories live. Discover now