Capítulo 37

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As férias de verão haviam chegado, assim como o aniversário de Anne. Oito de julho. Quinze anos.

O tempo passava depressa.

Naquele dia a acordei com um beijo na testa, e ao despertar ela abriu um sorriso largo que fez meu dia ganhar mais cor e o coração palpitar. Não havia palavras, um nome ou título para descrever o que Anne era para mim. Sempre fora, desde a primeira vez que a vi, uma relação inominável, duas almas de alguma maneira entrelaçadas.

Então entreguei a ela uma pequena caixinha; havia comprado o presente três dias antes. Anne abriu, receosa, a tampa e encontrou duas pulseiras douradas com um pingente em formato de estrela em cada uma, e as palavras "ATÉ O FIM" cravado em um deles e no outro, "CONTIGO". Eram complementares, independentemente de qual vinha primeiro ou por último.

Juntas elas faziam sentido, tinham forma e significado, contavam uma história. Mas separadas eram apenas duas pulseiras comuns em pessoas comuns.

Anne segurou as joias na mão e me encarou, os olhos brilhando como eu jamais havia visto antes. Então uma lágrima escorreu por sua bochecha.

— Obrigada — sussurrou.

Sorri para ela, secando sua face e a puxando para um abraço que a embalei pacientemente. Não era necessário pressa... Finalmente não precisávamos tentar correr contra o tempo.

Até o fim contigo — sussurrei com uma das bochechas contra seu rosto. — Ou contigo até o fim, você decide como quer que eu fique em sua vida.

Ela riu, se afastando e me olhando nos olhos.

— Com qual parte quer ficar?

— A escolha é sua. O presente é seu.

Então Anne analisou as pulseiras, pegou meu pulso e colocou nele a joia que continha as três palavras da frase cravadas em seu pingente. Eu sorri e coloquei a segunda no dela, a pequena estrela balançando com o movimento do meu braço.

— Feliz aniversário, Anne — balbuciei, apertando suas mãos. — Agora se arrume porque a Zoe está nos esperando.

— Esperando?

— Precisamos comemorar, não é mesmo? Já não tivemos oportunidade para fazer isso quando ganhou alta no hospital, então decidimos que não podemos perder essa chance também — respondi enquanto me levantava da cama, saindo do quarto para deixá-la se arrumar.

Sorri sozinha, ao atravessar o pequeno corredor e me acomodar mais uma vez no sofá de material sintético azul escuro, quase preto.

— Ela está animada? — Zoe perguntou, se sentando ao meu lado enquanto comia uma maçã.

— Ela gostou do presente.

— Se ela gostou do seu presente, não preciso me preocupar com a reação que terá ao ver o meu — provocou, com um sorriso convencido.

Levantei o rosto para o enorme embrulho no sofá vago. Telas, pincéis e tintas. Alguns dias antes Zoe havia conseguido fazer Anne deixar escapar que adorava pintar e, a partir disso, decidiu que daria asas à artista que existia dentro da garota. Se já não tivesse comprado as pulseiras com certeza faria o mesmo, mas ela me garantiu que dava conta do recado e eu não precisava me preocupar.

— Tenho certeza de que ela vai adorar, e de que você não vai deixá-la fazer a bagunça toda sozinha — falei. — Eu te conheço o suficiente para saber que fez tanta questão de comprar esse presente para me fazer enlouquecer também. Sei que esse apartamento vai se tornar um arco-íris em menos de duas semanas.

Do Outro Lado do AtlânticoWhere stories live. Discover now