Capítulo 2

163 54 158
                                    

O celular tocou. Coloquei a xícara de café na mesinha do lado da cama e agarrei o aparelho que continuava a vibrar.

Fazia exatamente quatorze dias que meu pai havia sido enterrado e quinze que ele tinha partido. Na mesma tarde do dia em que fora enterrado nós voltamos para a fazenda da minha família e, depois disso não havia visto nenhum rosto a não ser da minha tia, da minha mãe e de Max.

— Alteza? — falei, após atender a ligação.

— Clara!

— Desculpe-me, Alteza, mas por que está ligando tão cedo? A uma hora dessas a senhorita costuma estar dormindo. Está tudo bem?

— Novidades! As novidades fizeram meu dia começar mais cedo hoje, Clara! E não se preocupe, estou mais do que bem.

Sorri.

— E poderia eu saber qual o motivo de tamanha euforia?

Um instante de silêncio separou minha pergunta da resposta dela.

— Durante o período que me pediu para passar com sua família, após a... após tudo o que aconteceu com vocês, Clara, os resultados da prova da URF chegaram!

Peguei a xícara de café que continuava na mesinha e tomei mais um gole.

— A senhorita não está concorrendo a uma bolsa, está?

Do outro lado da linha, ela riu.

— Não, não estou, Clara. Mas estou com todos os resultados do país em minhas mãos nesse exato momento.

— Mas os resultados não são enviados diretamente da universidade na França para os endereços dos concorrentes?

— Sim. Mas eu sabia que você havia feito a prova e pedi para mandarem as cartas para o Palácio, pois como você não está em casa e já que as aulas começam em breve, poderia perder a oportunidade. Não se preocupe pois, após retirar a sua, já mandei que enviassem as outras cartas para seus devidos destinatários.

— Deixe-me ver se entendi... a Alteza, fez tudo isso para saber se eu havia conseguido uma bolsa?

— Sim!

Caminhei até a porta da sacada do quarto e quando a abri, o vento frio me pegou desprevenida, fazendo meus cabelos voarem para trás com violência.

— Só um minuto — falei, enquanto procurava por um casaco. Encontrei um sobre a velha poltrona de couro que tinha desde os sete anos e o vesti rapidamente, retornando ao telefone. — Pois bem. E...?

— Você sabe que quero fazer a faculdade de artes. — Assenti, embora soubesse que ela não veria. — E que começaria esse ano, então você ficaria desempregada...

— Por favor, Alteza — interrompi. — Desculpe, mas... mas poderia deixar de lado os rodeios e ir direto ao ponto? Eu passei ou não?

O silêncio dela apenas aumentava minha inquietação.

— Sim! — ela exclamou. — Você conseguiu!

— Tem certeza disso? Eu... eu...

— Claro! Você conhece outra pessoa que se chame Clara Rachel Watson Hooper? Com todas as letras e o mesmo endereço?

— Não. Mas...

— Não tem "mas", Clara, você conseguiu! Você sempre quis entrar nessa universidade, essa é sua chance. Não deixe que os meses de estudo que você teve para fazer essa prova sejam em vão!

Do Outro Lado do AtlânticoWhere stories live. Discover now