Capítulo 6

89 27 34
                                    

— Mãe, eu sei... — falei com o celular sobre o ombro, o pressionando com a bochecha para não cair, ao mesmo tempo que tentava fechar o zíper da bolsa. — Eu sei que não estou sendo a melhor filha que mora em outro continente que a senhora poderia ter, mas não está sendo nem um pouco fácil para mim conciliar estudo, trabalho e família. — Segurei o celular outra vez com a mão e atravessei a rua deserta, enquanto ao longe, um carro rompia o silêncio fantasmagórico do alvorecer. — No momento aqui na França são cinco e meia da manhã e eu estou andando em uma rua completamente vazia, procurando um supermercado que funcione vinte e quatro horas por dia. E sabe por que estou fazendo isso a uma hora dessas? Porque é a única hora que não deixo de faltar em algum compromisso.

— Eu sei que não é fácil e também não estou te jugando. Só quero saber se você está conseguindo lidar com tudo isso... tem quase uma semana que saiu daqui e você me ligou apenas três vezes. Eu não telefono por medo de atrapalhar alguma coisa, mas eu sou sua mãe, Clara, eu me preocupo com você!

Respirei fundo, enquanto adentrava o supermercado.

— Desculpa se estou sendo mais ausente do que gostaria, mãe, mas eu realmente não estou tendo muito tempo e a Universidade está tomando praticamente toda a minha disposição de fazer algo além de descansar, quando eu chego em casa — falei, enquanto me guiava em direção à seção de hortifrútis. — Mas agora se a senhora não se importar, eu preciso desligar porque já estou no supermercado e tenho que estar em casa até as seis e meia. Boa noite, pra senhora e Max, aí.

— Fique bem — ela disse, um segundo antes de o celular apitar, denunciando que a ligação fora encerrada.

Guardei o aparelho no bolso e tomei em mãos uma cesta de plástico, enquanto já analisava visualmente a qualidade das frutas disponíveis. Fiz minhas compras e apenas deixei as sacolas de mantimentos no apartamento, antes de passar na cafeteria que frequentava, comprar um café, e me dirigir para a Universidade.

Não encontrei Zoe pelos corredores e já estava prestes a começar a subir as escadas, quando Jason me acompanhou.

— Bom dia!

— Bom dia. Onde está Zoe?

— Na biblioteca. Nos esperando.

— Pra quê?

— Ela está procurando um livro desde ontem e quer nossa ajuda para encontrá-lo — ele respondeu, me guiando até a biblioteca.

Atravessamos as portas do enorme salão com prateleiras altas o suficiente para roçarem o teto, e encontramos Zoe sentada em uma cadeira almofadada, com as pernas cruzadas e folheando um livro.

— Encontrou o livro que queria? — Jason perguntou, enquanto se sentava em uma das cadeiras vagas da mesa.

— Encontrei.

— E de que matéria ele é?

— História da Europa — respondeu, o mostrando a capa do livro que tinha em mãos. — Sempre tive interesse no assunto e algo me diz que precisarei disso no próximo período. — Zoe se virou para mim. — Eu te recomendo também dar uma olhada nele.

— Posso procurar outro exemplar — respondi, me sentando.

— Você parece cansada, Clara. O que aconteceu? — Zoe perguntou, fechando o livro e o colocando em um canto da mesa.

— Resultado de oito horas de estudos e seis de trabalho todos os dias. — Me debrucei sobre a mesa redonda, apoiando a cabeça sobre os braços.

— O que é isso aqui? Você está noiva de alguém, Clara? — Zoe perguntou, cutucando o anel de compromisso no meu dedo. Aquilo foi o bastante para fazer Jason parar de encarar alguém que havia acabado de entrar na biblioteca e se virar para mim novamente.

Do Outro Lado do AtlânticoOù les histoires vivent. Découvrez maintenant