Best Thing You Never Had

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João Alberto Freitas, 40 anos, negro. Foi espancado e asfixiado até a morte por dois seguranças da loja Carrefour em Porto Alegre. João foi brutalmente assassinado, deixando 4 filhos e sua esposa.

Ate quando? Até quantos?

Vidas Negras Importam além da internet.

*capitulo não revisado

Ivy

Não foi possível segurar as lágrimas por muito tempo com a falta que eu sentia deles.

Era treze de agosto, o dia que completaria três meses sem eles aqui e, depois de três meses, tivemos coragem de visitar suas lápides desde o enterro. Aproveitamos para renovar as flores já murchas, pondo novas no lugar, lírios para Colt e petunias para James, suas favoritas.

Cemitérios eram lugares tristes, apesar de alguns terem uma certa beleza. Eu os odiava. Odiava cemitérios, passei a odiá-los desde a morte da minha mãe, foi quando entrei em um pela primeira vez. Não era justo. Às vezes eu entrava em um colapso de realidade, me perguntando se eles realmente se foram, ainda era difícil acreditar.

Trouxemos Tessa, não queria que ela frequentasse um cemitério tão cedo na vida dela mas eram seus pais, e ela só estava em nossas vidas por causa deles. É triste lembrar o quão feliz estavam quando a adotaram e o quão pouco essa felicidade durou. Ethan e eu combinamos de tornar isso tradição, nós três em todos os dias treze de todos os meses de todos os anos.

Seguro Tess em meu colo, deixando-a brincar com a minha correntinha enquanto Ethan trocava as flores, percebo a ponta de seu nariz vermelha e o flagro limpando seus olhos. Ele volta para o nosso lado sem dizer nada e ficamos lá, parados em frente aos seus túmulos em granito cinza. Sem hesitar, entrelaço meu braço livre no seu, um lembrete que eu estava ali para ele. Nós dois passamos por dias conturbados desde a noite em que colocamos as cartas na mesa, as coisas estavam estranhas e ao mesmo tempo não estavam porém, ficávamos tensos toda vez que estávamos juntos. Não era algo que se apagava da noite para o dia.

Mas éramos uma família agora, querendo ou não. E eu ainda tinha apreço à Ethan, não poderia negar, por todo esse tempo eu escondia isso por baixo das implicâncias e remorso mas eu ainda me importava, sempre me importei.
Eu não estava totalmente bem quando o assunto era ele ou ficar perto dele, nossa breve conversa foi significativa e me tirou o sono por dias. Ele queria. Toda vez que eu o olhava eu só conseguia pensar: ele queria. Me pergunto como seria minha vida se soubesse disso, me pergunto se eu faria as coisas diferentes ou não. E que de qualquer maneira, terminamos com um bebê.

Após uma troca de olhares significativa, voltamos para o seu carro, entrego Tessa à ele para que prenda a mesma na cadeirinha. Ele murmura algumas coisas com ela antes de terminar e assumir o banco do motorista. Tínhamos uma entrevista em uma creche e também visitaríamos outra que vimos para a garotinha, Layla voltaria a estudar e uma creche seria mais produtivo para ela. O carro estava em um silêncio ensurdecedor apenas com o som do rádio, eu evitava olhar muito para ele, então resolvi conferir Tessa no banco de trás.

— Ethan! — meu tom é repreendedor.

— O que foi? — olha, brevemente assustado.

— Eu não acredito que você deu as jujubas à ela, eu disse que não era pra dar tudo, que inferno!

Tess se deliciava com as balinhas de ursinho e eu nem sequer havia notado quando Ethan as deu. Sempre levamos um pacote no carro para usar como moeda de troca ou chantagem, como hoje quando ela abriu o berreiro na hora de ficar na sua cadeira e então ela, simplesmente, queria todas as balas. Ethan queria deixar o pacote todo com ela mas, como a pessoa responsável que sou, recusei. Foi a mesma coisa que que falar absolutamente nada.

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