Without U

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AVISO: O capítulo pode apresentar um conteúdo sensível.

Eu odiava quando agia como uma covarde.

Mas era o que eu estava sendo no momento.

O silêncio que se estabelecia naquele carro parecia querer me engolir viva e eu, simplesmente, não sabia como reagir. Ethan estava com a faca e o queijo na mão e eu não sabia se aguentaria mais uma tentativa de mentira.

Parecia que o curto caminho até os dormitórios se tornaram uma viagem para o outro lado do país e eu ainda não havia encontrado uma maneira de contar aquilo. Uma parte minúscula do meu cérebro imaginou ele me jogando do carro assim que eu dissesse que estava grávida, mas pelo menos isso eu sabia que ele não faria. Eu acho. E uma outra partezinha imaginava nós dois como uma família com um final feliz. Mas eu também sabia que, talvez, a primeira opção era mais provável de acontecer que a segunda.

Eu não sabia como ele reagiria e esse era o meu medo. Era isso que eu estava tentando evitar desde o começo. Por mais que fosse difícil, não contar para ele tornava as coisas um pouco mais fáceis por um lado. Só não imaginei que ele prestava tanta atenção em mim para perceber e ligar os pontos.

— Descobri no final de semana. — disse, finalmente e logo senti seu breve olhar sobre mim. — Talvez eu soubesse desde quando meu jeans começou a não vestir mais em mim ou quando vomitei meu almoço inteiro, só não queria acreditar, não poderia acreditar, ainda mais quando minha menstruação estava vindo. Até que depois de um sétimo enjoo em um só dia me deixou extremamente assustada e eu fiz um teste de farmácia e...

— Deu positivo. — ele completou

— Sim.

— E a menstruação? Achei que grávida não menstruava.

— E não menstrua, o sangramento é confundido com menstruação pela maioria, mas na verdade e um episódio que é causado por vários fatores, como o desenvolvimento do feto e outras coisas.

Uns segundos breves de silêncio ate ele ser quebrado novamente.

— Ivy, por que não me contou?

— Não é óbvio? Ethan, estamos na faculdade, no início de uma vida realmente nossa. Nesse momento era para estarmos transando ou em alguma festa de fraternidade ou estudando para alguma prova, e não discutindo sobre gravidez. — metralho com a voz já embargada — Como eu contaria isso para você? Era de duas a uma, ou você simplesmente me largava ou teria de largar tudo pra criar um filho e eu ficaria na merda em qualquer uma das opções.

Sempre pensei em ser mãe um dia, casar, ter filhos e todo o clichê que a maioria das meninas pensam em viver, mas eu não queria assim, não queria agora. Eu queria poder curtir a minha juventude sem precisar me preocupar com um mini eu que dependeria de mim. Não queria uma criança agora. E eu me conhecia muito para saber que não teria coragem de entregar a um orfanato. Era muito mais do que ter a criança, era a gravidez em si, eu não queria estar grávida, não queria me sentir grávida, não queria passar pelo longo processo de nove meses que era a gravidez.

Ethan parecia não saber o que dizer, na verdade, nem eu sabia. Ele se concentrava na estrada à frente, com uma expressão pensativa e ao mesmo tempo com um quê de preocupação. Era muita pressão para dois jovens adultos, mas precisávamos tomar uma decisão.

Quando chegamos no meu dormitório, no campus, a chuva ainda descia com tudo. Nem parecia que horas atrás o sol estava quase escaldante. Ethan saiu do veículo assim que estacionamos vindo na direção da minha porta abrindo-a e, com o suéter que ele vestia segundos atrás, me cobriu com o mesmo e corremos até a porta do prédio.

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