JULGAMENTO 1

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— Tem certeza do que diz?

— Absoluta.

— E o quê você fez após chegar com Hina em seu apartamento? Foi embora?

— Não. — seu belo e irônico sorriso ficou de fato estranho do nada.

Um pouco sádico, eu diria.

— Você ficou com a Hina no apartamento? — sua voz se tornou mais firme e sua postura superior não existia mais. Talvez ele estivesse interiormente tão chocado quanto todos da plateia.

Todos menos eu.

E por que eu não me sinto assim? Não sei.

— Ah não, eu não gosto de garotas. — ela gargalhou, provavelmente não entendendo que o sentido de "ficar" da frase não era afetivo. — Nem assisti quando... Você sabe. Foi... bastante enjoativo.

— Quem matou e estuprou Hina Yoshihara foi uma mulher?

— É você quem está querendo me chamar de homofóbica, não eu.

— Foi Heyoon Jeong? — ele ignorou a sua fala anterior.

— Novamente é você quem está supondo.

— Foi Krystian Wang?

A garota olhou para Krystian por alguns instantes e seu olhar fora retribuído repleto de medo do que a garota falaria sobre si.

— Você continua supondo. — ela respondeu por fim.

— Viu ele no dia de algum dos eventos?

— Krystian? — ela questionou retoricamente e o promotor afirmou. — No da morte de Hina sim. Lamar não.

— Onde?

— Na casa da Sabina. Foi onde eu estava com Hina antes de irmos embora.

— Mais algo?

— Acha mesmo que se houvesse eu contaria? Omitir não é mentir. — ela rebateu e eu tentei conter a careta, mas não consegui.

Ela conseguiu fuder tudo o que disse inocentando ele com uma simples frase.

Agora é ele por ele.

— Finalizo minhas perguntas por aqui. — o promotor disse e recebeu a aprovação do juiz, tornado a se sentar próximo à Krystian.

— Defesa, por favor. — o juiz anunciou e o advogado se levantou, caminhando até o lugar que antes era ocupado pelo promotor.

O homem que será o promotor de Shivani é o advogado de defesa de Krystian, assim como promotor de Krystian é o advogado de defesa de Shivani.

— Como estava perdida no dia em que o carro em que estava Lamar Morris capotou? — ele iniciou.

— Eu estava bêbada. Comprei uma garrafa de uma cidra vagabunda em uma 7-Eleven e tomei tudo aos poucos, a conveniência é perto de onde a Heyoon conversava com o homem.

— Excelentíssimo. — o promotor pediu intervenção e fora aceita. — O que garante que não alucinou devido o álcool?

O promotor sabia da existência da fotografia, é óbvio que sabia, mas Shivani não sabia, logo, poderia de alguma forma lhe arrancar algo.

— Excelentíssimo. — o advogado de defesa pediu para que ela fosse revogada. — Seu tempo para questionamentos diretos à vítima acabou. — e conseguiu. — O que lhe levou até lá?

— As minhas pernas.

— Falo sobre motivações. — ele detalhou e Shivani obviamente já tinha entendido, provavelmente respondeu aquilo para ganhar mais tempo.

Ela ponderou bastante, tentou balbuciar algo, mas lembrara que havia jurado sobre o Vedas. Não poderia mentir sob hipótese alguma.

— Vim recebendo ameaças no meu telefone celular. — ela confessou. — Estava estressada com tudo aquilo. Eu vi quem a matou e eu estive me sentindo pressionada à não falar nada, mas era sempre repreendida pelo número quando extrapolava minimamente os limites. — lembrei-me de sua explosão emocional no refeitório. — Recebi uma mensagem sobre... Foi um tempo estressante, eu aparentemente fazia tudo errado e o número ameaçou estar dentro do meu apartamento. O prédio só tem quatro imóveis e só três estão ocupados, eu resolvi sair e precisava beber ou continuaria paranóica. Eu estava a beira de uma crise de pânico no meio da rua. Sentia-me segura na 7-Eleven, mas não podia beber lá dentro então andei pelas redondezas e vi Heyoon.

— Mais algo? — a pergunta parecia querer encoraja-la.

— Eu peguei meu celular e a fotografei. — Shivani confessou. — Enviei ao número em troca da minha paz. Eu fiquei bem por dias até a polícia decidir investigar, sabia que não havia uma real chance para mim. Essa foto não comprou só a minha paz por algumas boas horas, mas a minha vida.

— Quem está por trás das mensagens?

Shivani riu antes de responder, afastando o clima tenso que sua própria confissão havia causado no local.

— Eu não faço ideia.

— Excelentíssimo. — o promotor pediu intervenção, novamente foi aceita. — Você jurou não mentir.

— Mas eu não estou mentindo.

— Como pode saber quem a matou e não saber quem envia as mensagens?

— Excelentíssimo. — o advogado de defesa interferiu, pedindo novamente a revogação. — Novamente não é mais o tempo dele de questionamentos. — e fora aceita.

— Pode ver o caminho que Heyoon seguiu após ver ela enquanto levava Hina até a sua casa?

— Pude.

— Finalizo as minhas perguntas por aqui. — o advogado de defesa finalizou, não deixando muitas pessoas satisfeitas, afinal ele deixara a última pergunta em aberto.

Parece burro, mas não é.

Sinto muito por Heyoon, mas ela pode ter seguido o caminho que for que essa simples fala será jogada contra ela caso um dia retorne.

— Testemunha de Shivani Paliwal. — assim que Shivani retornou à se sentar em sua banca, Joalin passou a caminhar extremamente apressada para fora do círculo do julgamento, voltando a se acomodar ao nosso lado.

Ela está chorando.

Olhei para Shivani e seu rosto estava rígido, nitidamente forçado para aqueles que a conhecem. Ver Joalin correr da responsabilidade que havia assumido em lhe defender parecia ter a deixado balançada.

— Eu não consigo. — ela passava para Any que limpava as lágrimas que escorriam em seu rosto.

— Você está tremendo. — falei chocado quando vi suas mãos tremelicarem, era pouco, mas tremiam.

Any olhou para onde eu olhava, unindo as mãos de Joalin dentro das suas, numa tentativa de ajuda-la.

— Só piora. — Any sussurrou para mim, parecendo preocupada. Obviamente Joalin deveria estar escutando, mas não havia muito a fazer nessa situação.

— Deve ser ansiedade. — falei, mordendo meu lábio inferior. — Ela não tem, mas pode estar desenvolvendo. O melhor é que ela saia daqui de dentro o mais rápido o possível.

— Ela não pode. — Any ignorou o que eu disse, puxando o rosto de Joalin para que ela lhe olhasse.

Era como se elas conversassem por telepatia, uma língua que eu não tinha o mínimo entendimento.

— Eu vou buscar água para ela. — Any falou do nada, de algum tempo e eu suspirei alto, me sentando na cadeira que a mulher acabara de se levantar para tentar ajudar Joalin de alguma forma.

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