Capítulo 23- Num Passe De Mágica IV

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25 de agosto, enquanto Berlim era assolada pelos ataques aéreos desferidos pelas forças britânicas, um garoto dormia sonolento no campo de concentração em Auschwitz, Polônia. O que antigamente servia como galpão, naquele tempo de guerra, era usado como dormitório para os prisioneiros do nazismo. Contava com dezenas de beliches desconfortáveis, que só comportavam crianças.

A noite fora dali parecia mais calma que o habitual, disso aquele menino em particular não reclamaria, pois havia tempo que não tinha dormido tão bem desde quando seus globos oculares começaram doer num fatídico dia, no qual perdeu sua visão por completo.

Na cama de baixo, em uma das beliches, a que se encontrava no centro da enorme alcova, o jovem dentre tantos outros sonhava com a liberdade. Seus olhos fechados eram tampados por uma venda feita de panos brancos que escondiam sua deficiência, porém, eles foram retirados sem aviso prévio, despertando-o. Uma mulher reluzente se projetava à frente de sua cama, a qual notou as íris cegas do menino e sentiu por aquilo.

— Me desculpe! — redimiu-se aos sussurros e devolveu a venda. O pequeno pegou-a de volta para recolocá-la sobre os olhos. — Eu me chamo Aurora, qual seu nome, querido? — interrogou se aproximando, mas ele não compreendeu seu idioma.

— Você é bonita. — Apenas elogiou utilizando seu dialeto.

Romani... — Só aí a espectro entendeu que lidava com uma criança cigana, uma das etnias subjugadas pelo nazismo.

— Obrigada. — Um dos quesitos para se tornar uma guardiã era ser fluente em várias linguagens. — Eu sou Aurora, como se chama?

— Meu nome é Abdul — revelou com um sorriso do qual careciam alguns dentes. Sabia que podia confiar naquela amigável figura reluzente e estranha, além de achar que a cena não passava de mais um dos seus sonhos férteis.

— Abdul, eu vim aqui te tirar deste lugar assombroso, o que acha? — perguntou retoricamente e uma felicidade genuína abraçou o jovem, que apenas acenou com a cabeça e desceu da cama. — Então vamos.

Quando a espectro segurou sua mão fria para levá-lo até a porta de saída, sentiu uma relutância e virou-se para ele.

— O que foi, querido?

— Ela, minha amiga — apontou para outra criança que dormia na parte de cima do beliche ao lado do dele. Havia se remexido tanto durante algum de seus pesadelos noturnos que não se encontrava mais coberta pelo lençol —, temos que levá-la com a gente.

Pobre criança judia... — O coração da espectro parou por um instante quando percebeu a braçadeira branca com o símbolo azul de uma estrela de seis pontas no braço da menina. A Estrela de Davi identificava seu povo que também era alvo da guerra.

Os Poderosos | Livro 1- Amor [Concluído]Where stories live. Discover now