Capítulo 9 - Anjos da Noite

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— Possuídos. É moleza — disse, totalmente seguro de si. — Vamos, entre logo no carro.

E eu entrei sem hesitar. Priam White deu a ré e rapidamente pegou a rua Emerald Way. As rodovias estavam muito movimentadas para aquele horário, e Priam continuava a dirigir feito um louco pela estrada.

— Anjos também existem? — Perguntei, subitamente.

— É claro que sim — respondeu, ainda com os olhos fixos na estrada. — Se demônios existem, por que anjos não existiriam? Isso é óbvio, Lola. É questão de equilíbrio.

— Entendi. Você já viu um alguma vez? — Indaguei, curiosa.

— Eu não vejo um anjo por aí faz muito tempo — contou Priam. — Os anjos, quando aqui na Terra, parecem pessoas comuns, mas possuem dons que humanos não têm, e suas asas podem ser vistas apenas por outros anjos ou semianjos. Algumas pessoas têm conhecimentos deles, mas a maioria nem ao menos sabe que existem. Geralmente quando são vistos aqui no Mundo Material, é porque foram enviados por Deus em alguma missão, o que não costuma acontecer com muita frequência. Eles também não são do tipo que tem muitos sentimentos, foram criados assim para não cometerem as insanidades que os humanos costumam cometer, ou pelo menos era o que todos acreditavam antes dos desertores aparecerem e darem origem aos semianjos... E, ah, já havia me esquecido, anjos também podem ser vistos em sua verdadeira forma por Entidades, que é como chamamos os demônios chifrudos que te falei.

Tentei captar tudo o que ele disse. Então anjos e demônios eram reais. Caleb era real. Tão real quanto eu e Priam. Nossa, que tremendo clichê, pensei. Lembrava-me de sempre ter gostado de anjos. Quando lia sobre eles eu parecia entendê-los. Esse assunto surgia quando eu estava prestes a dormir e meu pai vinha me contar histórias sobre eles. Quando eu ia para a escola, passava direto na biblioteca para poder ler mais sobre eles. Ainda era estranho imaginá-los como seres de carne e osso e não metafísicos, ou personagens fictícios, apesar de eu já ter visto parcialmente ambos. Eu sabia que estava começando a fazer parte de outro mundo e ele certamente não era ficção e muito menos coisa da minha cabeça.

— Então, diz aí. Onde fica sua casa? — Indagou Priam.

— Rua Torrault — respondi. — Lado leste da Riverdown.

— Tudo bem. Vamos lá, rapidinho.

Olhei para ele, cética.

— É sério?

Ele assentiu com a cabeça e eu estendi um sorriso, contente.

• • •

Priam White estacionou sua caminhonete em frente à minha casa. O céu estava agitado naquela manhã, ventos gélidos sopravam fortemente as folhas das árvores e assim, aos poucos, Riverdown começava a ser encoberta pelas massas escuras e carregadas de chuva.

— Vai lá. Aproveite para pegar algumas roupas e suprimentos. Vai precisar — indicou Priam. — Não demore muito. Esperarei aqui.

Meneei a cabeça positivamente e depois saí do carro. Entrei na varanda de casa e bati na porta. Quem me atendeu foi alguém bem menor que eu. Meu irmão, Nathan.

Ele não pareceu nem um pouco surpreso, como havia imaginado que ficaria. Ele apenas abriu um largo sorriso e exclamou meu nome:

— Lola!

Ele me abraçou fortemente. Colocando seus braços curtos nos arredores de minha cintura. Eu imediatamente retribuí o gesto.

De longe, vi minha mãe Helen se aproximando. Ela estava com os olhos esbugalhados, atordoada em me ver ali.

EntidadesWhere stories live. Discover now