Capítulo 7 - Novo Mundo

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Nos dias que se seguiram, todas as noites eu tinha pesadelos; assustadoramente vívidos e reais vívidos e reais. E todos eram o mesmo: aqueles olhos vermelhos me queriam, até mesmo no mundo real eles queriam me ver morta... eu ainda não tinha certeza se o que eu via era parcialmente real ou se eu estava ficando completamente louca mesmo. A maioria dos sonhos era eu em um beco escuro e sem fim, correndo para salvar minha vida de uma legião de monstros de olhos vermelhos atrás de mim. Desde então, eu evitava olhar para os olhos das pessoas, com medo de que a qualquer momento eles pudessem mudar de cor.

Ninguém passou a frequentar meu quarto no horário de visita, exceto Nathan. Ele me trazia flores, e até mesmo chocolates. Nathan fazia tudo parecer bom novamente, mesmo que por um breve momento.

Fiz o retrato falado do garoto que assassinou Tyler Etchison, que também era o garoto que salvara minha vida. Será que eu estava sendo uma mal-agradecida? Era doloroso demais ver o desenho incrivelmente perfeito dele e me lembrar daquela noite, da cena da adaga sendo cravada nas costas de Tyler. Tudo o que eu mais queria era esquecer aquilo, retomar a minha vida, me recuperar o mais rápido possível e ir para casa.

Eu estava com medo de algo que eu não sabia exatamente o que era. Eu estava com medo do desconhecido, estava até com medo de dormir, pois se eu dormisse teria pesadelos com o tal desconhecido.

Eles estavam em todos os lugares.

Aos meus olhos, o mundo havia mudado. Os demônios e o véu entre realidade, sanidade e pesadelo esgarçavam-se a cada dia. Eu precisava continuar tentando entender o que estava acontecendo comigo para eu ter uma chance de impedir que a loucura tomasse conta de mim. Eu não queria passar o resto da minha vida internada em uma clínica psiquiátrica sendo dopada por remédios. Eu não queria ser Helen.

Uma espécie de reminiscência fantasma provocava meu cérebro minuciosamente, convencendo-me de que a imaginação era a loucura e que a realidade estava muito distante de mim agora. Tão distante que eu mal conseguiria vê-la. Mas seria possível que ambas se mesclassem? Talvez essa pudesse ser a resposta pela qual estive procurando esse tempo todo.

A realidade e a imaginação se consumiam, criando um só mundo, e era a este novo mundo que agora eu pertencia.

Não existia mais volta.

• • •

Uma sensação de medo e desespero abriu caminho até minha barriga, depois pelos meus braços até chegarem à minha garganta. Então eu abri os olhos e gritei, trêmula e ofegante. Olhei rapidamente para o relógio na parede do quarto e vi que eram 7h52. O meu colega de quarto gemeu alto atrás da cortina ao lado e eu tomei outro susto que fez meu coração palpitar ainda mais. Eu sentei e tentei me acalmar. Toquei minha testa, estava fria, mas cheia de suor. Inspirei e expirei, tentando não ficar mais assustada pela tortura causada por mais um pesadelo, no qual eu estava novamente sendo perseguida pelo desconhecido, o monstro, o demônio, os olhos vermelhos e... Tyler morto.

Balancei a cabeça, tentado me livrar desses pensamentos. O meu café da manhã já estava pronto em cima da mesa ao lado da minha cama: dois sanduíches de legumes e um suco sem graça que eu não fazia a mínima ideia do que era. Nunca pensei que eu pudesse sentir falta dos sanduíches de Helen.

Enquanto eu dava várias mordidas no sanduíche, um barulho estranho e incessante vindo da janela do quarto não parava de martelar em meu ouvido. Parecia o grito de uma escalada forçada, com movimentos que se a assemelhavam a mistura de centenas de árvores sendo derrubadas umas às outras com seus membros. Boom-boom-boom.

Aquilo fez minha orelha arder.

Tentei ignorar o barulho, mas obviamente não deu muito certo.

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