Capítulo 2 - Fragmentos

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Escola é um lugar estranho. Bom, pelo menos a Riverdown High School era. Nem sequer parecia uma escola, ninguém diria que era se não fosse pela placa de identificação. Como a maioria das grandes coisas, ficava no centro da cidade, era feia e sem graça, com muitas árvores grandes e arbustos ao redor, o que certamente impedia muitos de calcular o seu tamanho. Era constituída por dois andares, pintada de um vermelho desbotado e envolvida por janelas de vidro que acobertavam sua lateral.

Andei calmamente pela calçada apinhada de adolescentes cheios de cecê, com a cara escondida pelo capuz, sem chamar qualquer tipo de atenção — e eu era extremamente grata por isso. Hoje era um dia comum como qualquer outro, coisa típica que se via em todo colégio do ensino médio: várias rodinhas de alunos em diferentes cantos dos corredores, fofocando bobagens sobre vidas alheias.

Minha primeira aula era de Biologia, e quando entrei na sala tive a impressão de que interrompi uma explicação importante do professor, principalmente quando o Sr. Hubert me olhou franzindo a testa.

— Desculpe — murmurei.

— Sente-se, Srta. Witt.

Os alunos me encararam estranhamente, como se eu fosse uma novata ou algum forasteiro em seu território particular. Mas eu não dei a mínima para eles, atravessei o interior da sala e sentei-me em uma das últimas carteiras.

O Sr. Hubert estava explicando sobre mitose e meiose; que a mitose é um processo de divisão celular, característica de todas as células somáticas vegetais e animais, e a meiose é um processo de divisão celular em que uma célula diploide formava quatro células haploides. Tirei meu caderno da mochila e comecei a copiar o assunto que o professor estava rabiscando na lousa. Não estava muito a fim de estudar, preferia estar em casa assistindo televisão ou fazendo qualquer outra coisa. Mas já que não tinha muita escolha, resolvi continuar prestando atenção à explicação. O assunto era um tanto complexo, com muitos nomes novos para decorar, mas, mesmo assim, eu acabei conseguindo entender sem muito esforço.

• • •

Quando a professora Charlotte King entrou na sala, deixei escapar um gemido; eu ainda tinha a esperança de que ela faltaria no trabalho hoje. Charlotte disciplinava Matemática, uma das matérias que eu menos gostava, ou melhor, a que eu mais detestava, e que se não fosse uma das obrigatórias, eu já teria dado no pé dali há muito tempo. Mas não era só isso. Acontecia que, por Charlotte ser professora substituta, ela não tinha total domínio sobre seus alunos.

Ela era alta e extremamente magra, seu rosto era coberto por sardas e espinhas, usava óculos sobre seus olhos cinzentos e deixava seus cabelos loiros amarrados em um rabo-de-cavalo. Resumindo, uma típica professora com um visual nerd.

A sala se transformava em uma selva agonizante em suas aulas e os alunos se transformavam em animais selvagens. Charlotte tentava explicar o assunto, mesmo que obviamente não fosse adiantar de nada.

— O Teorema de Tales foi estabelecido por Tales de Mileto. Consiste em uma interseção entre duas retas paralelas e transversais que formam segmentos proporcionais...

Ela bem que tentou, mas...

Os animais irracionais não estavam prestando a devida atenção à Sra. King, e assim continuavam a fazer incessantemente selvageria, e a "professora" Charlotte continuava explicando o novo assunto para fantasmas. Infelizmente, isso sempre acontecia... chegava até dar dor de cabeça. Qual é! Vocês não são mais crianças, parem de fazer isso!

Claramente os fantasmas também não estavam prestando atenção em sua explicação, e foi aí que Charlotte resolveu sentar um pouco na cadeira atrás de sua mesa, pegando sua bolsa e puxando seu celular de dentro, começando a mandar mensagens de texto para sabe-se lá quem.

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