Capítulo 9 - Anjos da Noite

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Eram tantos os sentimentos que me envolviam naquele momento que assim ficava difícil escolher apenas um, porém, tão logo eu optei por atordoada. Sim, era exatamente isso! Meu cérebro ainda estava tentando processar todo o ocorrido, pois era tudo tão assustadoramente novo para mim.

Os olhos dele estavam concentrados nos meus. Minhas mãos estavam segurando firme seus braços. Eu não queria que ele me soltasse. Nunca. Suas asas pararam de bater quando ele suspirou. Sim, ele tinha asas. Asas de anjo. Sim, ele era um anjo. Ou tudo aquilo ainda era minha imaginação? Agora eu achava isso pouco provável.

Seu rosto era repleto de detalhes e significados... e seus lábios, senti uma vontade repentina de beijá-los. Meu Deus, o que você está pensando?!

Enquanto isso, o silêncio reinava entre nós. Não dissemos nada, ficamos olhando um para o outro, durante uns três minutos ou mais. Foi então que eu resolvi retirar a coroa do silêncio, fazendo-o perder seu reinado.

— Obrigada por me s-salvar... — balbuciei.

Ele assentiu com a cabeça, parecendo um pouco confuso e assustado também — eu só não sabia com o quê. Afastou-se e subitamente suas asas se encolheram em suas costas, junto com as cicatrizes. O anjo baixou a cabeça, tentando ainda disfarçar a confusão que havia dentro dela, sacudindo-a, e continuando a se distanciar ainda mais de mim. Já eu, não conseguia parar de encará-lo. Parecia que a cada segundo que se passava, ele se tornava cada vez mais lindo. Suas amplas asas brancas pareciam estar afiadas com uma luz amarelada e pulsavam quase imperceptivelmente atrás de suas costas, ao vento áspero. Não era justo. A maneira como ele me fazia sentir quando me tocara — impressionada e extasiada e com um pouco de medo. Eu mal conseguia pensar em outra coisa.

— Espere! — Tentei impedi-lo, segurando seu pulso. — Quem é você? Meu Deus, você tem asas...

Ele afrouxou seu braço, mas mesmo assim eu não o soltei.

— Sou Caleb Langston, ou pelo menos eu costumava ser — ele respondeu, de costas para mim. — Sou seu protetor...

— Meu protetor? — Indaguei, interrompendo-o. — Ah, tipo um anjo da guarda? Mas como... — Eu não consegui terminar de falar, pois fora a vez dele de me interromper.

Não... — ele quase cuspiu a palavra. — Quando possível, anjos protegem os semianjos... — contou ele, se virando para mim, mas sem olhar em meus olhos. — E essa não é a primeira vez que a salvo da morte.

Semianjos? — repeti. — Como assim não é a primeira vez... — Eu parei de tagarelar quando percebi que naquele exato momento ele estava me fitando. Olhando profundamente em meus olhos. Parecia que finalmente havia criado coragem, mas ele acabou não dizendo nada. Apenas continuou me encarando com aqueles olhos estranhos, e eu acabei me perdendo em meio a eles. Por um momento imperceptível, pareceu que o tempo tinha congelado ao meu redor, as imagens ficaram embaçadas e minha mente começou a ser mesclada com a de Caleb.

Em uma realidade diferente da que eu estava minutos atrás, eu observava tudo de cima; uma garota saindo desesperadamente de uma casa. Ela corria em direção à rua, com os olhos cheios d'água. Ela era muito familiar, mas de onde eu a conhecia? Analisei o lugar para ver se eu lembrava de alguma coisa. Notei que aquele era o início de Riverdown, onde começava a cidade, a rua Madison. A casa que a garota havia saído era a casa de Tyler. E a tal garota era na verdade eu.

Lá estava eu vivenciando novamente — só que de um ângulo diferente — meu atropelamento. Não demorou muito para que o caminhão surgisse na estrada, buzinando loucamente, mas antes que ele pudesse me acertar em cheio. Um anjo emergiu da floresta ao lado da estrada, e eu soube quase imediatamente que era Caleb. Aconteceu tudo tão rápido que eu quase perdi tudo novamente em um piscar de olhos.

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