Capítulo 29 - Uma Jornada Inesperada

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Havia rugas de tensão entre as sobrancelhas de Duke Wall. Apesar de muitas vezes gentil, não era o tipo de rosto que alguém gostaria de contrariar. Ainda mais na situação em que estávamos, onde ninguém ali dentro parecia saber o que de fato estava acontecendo.

Duke estava revirando uma pilha de documentos — que pareciam conter informações sobre recentes manifestações demoníacas em diferentes cidades — e anotando tudo em uma folha de papel. Quando terminou, a entregou para Priam, que começou a lê-la imediatamente. As linhas em torno de sua boca aprofundaram-se e as sobrancelhas se uniram numa expressão intrigada.

— Como assim, Duke? — ele indagou, aborrecido. — Você sabe que ela não pode fazer isso, não sozinha. É perigoso demais, ela não dá conta.

— Na verdade, por que ela está indo com a gente, hein? — Quis saber Faith. — Não faz o menor sentido. Ela não é uma Ceifadora!

— Mas é semianjo, uma de nós  — retrucou Christopher, do meu lado.

— Isso não significa nada — ela vociferou —, ela vai acabar comprometendo a gente. Ela não tem treinamento e conhecimento suficiente!

— Parece que você me chamou de burra — eu murmurei, mas foi o suficiente para ela ouvir. — Certo, isso me ofendeu um pouco.

— E se essa fosse a minha intenção? — rebateu Faith. Encarando-me com aqueles seus olhos puxados de um azul-gelo sombrio.

Chega! — berrou Duke.

Todos o encararam.

— Não é da sua conta o porquê de eu querê-la nessa Caçada — ele disse severamente, com uma expressão carrancuda no pequeno rosto. — Aliás, será ótimo para ela ver como é o dia a dia de um Ceifador... E garanto a vocês que ela será muito útil, já que é uma das melhores semianjos iniciantes atualmente. Dificilmente será um peso morto.

Faith Miller bufou.

— O que exatamente terei que fazer? — perguntei. — Não posso fazer muito esforço por causa do meu ombro... Nora Tanner recomendou... — tentei explicar, mas Faith me interrompeu.

— Ah, agora ela está dando uma de coitadinha — zombou. — Fala sério, né, garota. Você mutilou Callie, minha amiga! E nem por isso ela está com esse vitimismo todo.

Senti um arrepio na espinha e abaixei a cabeça. A palavra "mutilou" atravessou meu corpo como se fosse um tiro.

— Desculpe... — sussurrei. — Eu não tive a intenção...

Basta! — Duke interveio. — Parem vocês duas.

— Isso é coisa demais para ela Duke... — insistiu Priam. — É melhor chamar outra pessoa.

— Deem um jeito! Se ela tiver dificuldades, a treinem. Façam o que precisa ser feito. Esse é o trabalho de vocês — gritou o diretor. — Essas Entidades estão chamando muito a atenção dos humanos, precisamos dar um jeito nisso o quanto antes...

Estressadinho... — ouvi Chris sussurrar para si mesmo.

Priam enrolou o papel e guardou no bolso.

— Já que não temos muitas alternativas, quando podemos ir?

— Ao entardecer — respondeu Duke, mal-humorado.

Engoli em seco.

Duke saiu de detrás de sua mesa e veio até mim, pondo a mão leve sobre meu ombro bom.

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