Havia rugas de tensão entre as sobrancelhas de Duke Wall. Apesar de muitas vezes gentil, não era o tipo de rosto que alguém gostaria de contrariar. Ainda mais na situação em que estávamos, onde ninguém ali dentro parecia saber o que de fato estava acontecendo.
Duke estava revirando uma pilha de documentos — que pareciam conter informações sobre recentes manifestações demoníacas em diferentes cidades — e anotando tudo em uma folha de papel. Quando terminou, a entregou para Priam, que começou a lê-la imediatamente. As linhas em torno de sua boca aprofundaram-se e as sobrancelhas se uniram numa expressão intrigada.
— Como assim, Duke? — ele indagou, aborrecido. — Você sabe que ela não pode fazer isso, não sozinha. É perigoso demais, ela não dá conta.
— Na verdade, por que ela está indo com a gente, hein? — Quis saber Faith. — Não faz o menor sentido. Ela não é uma Ceifadora!
— Mas é semianjo, uma de nós — retrucou Christopher, do meu lado.
— Isso não significa nada — ela vociferou —, ela vai acabar comprometendo a gente. Ela não tem treinamento e conhecimento suficiente!
— Parece que você me chamou de burra — eu murmurei, mas foi o suficiente para ela ouvir. — Certo, isso me ofendeu um pouco.
— E se essa fosse a minha intenção? — rebateu Faith. Encarando-me com aqueles seus olhos puxados de um azul-gelo sombrio.
— Chega! — berrou Duke.
Todos o encararam.
— Não é da sua conta o porquê de eu querê-la nessa Caçada — ele disse severamente, com uma expressão carrancuda no pequeno rosto. — Aliás, será ótimo para ela ver como é o dia a dia de um Ceifador... E garanto a vocês que ela será muito útil, já que é uma das melhores semianjos iniciantes atualmente. Dificilmente será um peso morto.
Faith Miller bufou.
— O que exatamente terei que fazer? — perguntei. — Não posso fazer muito esforço por causa do meu ombro... Nora Tanner recomendou... — tentei explicar, mas Faith me interrompeu.
— Ah, agora ela está dando uma de coitadinha — zombou. — Fala sério, né, garota. Você mutilou Callie, minha amiga! E nem por isso ela está com esse vitimismo todo.
Senti um arrepio na espinha e abaixei a cabeça. A palavra "mutilou" atravessou meu corpo como se fosse um tiro.
— Desculpe... — sussurrei. — Eu não tive a intenção...
— Basta! — Duke interveio. — Parem vocês duas.
— Isso é coisa demais para ela Duke... — insistiu Priam. — É melhor chamar outra pessoa.
— Deem um jeito! Se ela tiver dificuldades, a treinem. Façam o que precisa ser feito. Esse é o trabalho de vocês — gritou o diretor. — Essas Entidades estão chamando muito a atenção dos humanos, precisamos dar um jeito nisso o quanto antes...
— Estressadinho... — ouvi Chris sussurrar para si mesmo.
Priam enrolou o papel e guardou no bolso.
— Já que não temos muitas alternativas, quando podemos ir?
— Ao entardecer — respondeu Duke, mal-humorado.
Engoli em seco.
Duke saiu de detrás de sua mesa e veio até mim, pondo a mão leve sobre meu ombro bom.
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Entidades
RandomE se anjos e demônios realmente existissem? E se os anjos descessem dos Céus, se apaixonassem por humanos e tivessem filhos? A jovem Lola Witt descobre da pior forma possível que seres malignos existem, e que seu pai, um dia, fora um anjo. Isso faz...