Capítulo 41 - Os Sobreviventes

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Antes que eu pudesse pensar em algo, uma Entidade com asas atravessou o imenso céu em cima da minha cabeça. Sua aparência lembrava a de um abutre depenado, com as pelancas penduradas e o pescoço longo, áspero e careca. As asas saíam atrofiadas das costas, longas e ágeis. Tinha em mãos uma lança com uma lâmina preta pontiaguda, e não demorou muito para que a criatura a arremessasse em nossa direção.

Ouvi o assobio da lança cortando o ar e caindo a poucos centímetros de mim e de Leone.

— Corram! — gritou Priam.

Eu comecei a correr, seguindo-o, mas logo parei quando ouvi um gemido atrás de mim. Olhei para trás e vi Bonnie tentando levantar Leone, mas ele era pesado demais para ela.

— Por favor, o ajudem! — ela gritou, aflita.

Me aproximei apressadamente.

— Por que ele não se levanta? Ele está tão ferido assim? — Perguntei para Bonnie.

Mas não foi ela quem respondeu.

— E-eu... — ele gaguejou. — Eu não sinto minhas pernas.

Engoli em seco.

Priam voltou correndo, Christopher o ajudou a colocar Leone montado em suas costas. Somente quando Priam teve certeza absoluta de que Leone estava seguro foi que ele voltou a correr. E eu o segui.

Um pedaço escuro de nuvem se destacou no céu vermelho à frente, e de repente avançou para baixo, mais veloz que qualquer um de nós seria capaz de acompanhar. Eu vi de relance a imagem terrível de asas e dentes, o abutre e os olhos vermelhos, e então Bonnie estava subindo ao céu, presa às garras do demônio voador.

— Aaaaaaahhhhh! — Ela berrava e se contorcia. Eu tentei gritar "Não se mexa!", pois se ela caísse daquela altura, morreria na certa. Minha voz não saía, por mais que eu tentasse.

Eu pensei em arco e flechas, mas onde eu encontraria? Estava escuro demais e eu poderia acertá-la acidentalmente. Eu nunca fui boa de mira, ao contrário de Bonnie. Mas era ela quem precisava de ajuda.

— BONNIE! — Gritou Leone das costas de Priam, quase sem forças. Parecia estar suando frio. — Façam alguma coisa! Ajudem-na!

Eu quero, Leone. Mas o que eu poderia fazer? Não conseguia nem pensar direito. Só de imaginar que meu corpo tinha sido dominado por uma Entidade, eu já começava a ficar enjoada e histérica. Isso estava me assombrando, não conseguia focar no agora.

Ao meu lado, Faith deu um passo adiante, levantando a mão direita. Ela tentou localizar a criatura que sobrevoava o céu avermelhado, e quando achou que era o momento perfeito, botou em prática seus poderes de Eletrocinética. Um fio brilhante violeta disparou de sua mão, alcançando o céu, subindo, impossivelmente alto. Em instantes, eu ouvi a Entidade gritar, um uivo estridente de dor. A criatura estava girando pelo ar, vacilante, com Bonnie ainda presa. As garras pareciam estar envoltas das pernas dela, mas eu não conseguia enxergar direito. Faith concentrou-se novamente e disparou outra carga elétrica violeta pelas mãos. Eu nunca a tinha visto fazer aquilo antes, e de certa forma era impressionante. Gostaria de ter uma habilidade semelhante à dela, uma habilidade que me ajudasse no campo de batalha, e não um poder particularmente inútil de ver as memórias de alguém.

Instantes depois, a Entidade começou a despencar do céu, em alta velocidade. Avistei Bonnie subindo nas costas da criatura. O demônio teria que no mínimo cair de peito no chão para que Bonnie não se machucasse tanto, mas da forma que estava despencando do céu — de cabeça — ambos morreriam com o impacto.

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