Capítulo 9 - Anjos da Noite

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Então foi assim:

Lá embaixo, Caleb se avizinhou ao lado de meu corpo esguio, colocou seus braços ao redor de minha cintura e nos cobriu com suas asas brancas, servindo como uma espécie de escudo. Contudo, o caminhão já estava perto demais. O motorista aparentou ter tentado frear, mas infelizmente acabou nos acertando em cheio. Um borrão branco foi arremessado com toda a velocidade em direção à floresta. E enquanto isso, do outro lado da rua, o motorista perdia o controle e capotava várias vezes seu caminhão.

Repentinamente tudo escureceu, e antes que eu pudesse pensar em fazer alguma coisa, eu estava de volta ao telhado do prédio, ainda segurando o pulso de Caleb.

Ele parecia estar tão surpreso quanto eu.

— Vo-você me salvou daquele acidente! — Gaguejei. — Eu sabia que era impossível eu estar viva se... se eu não tivesse tido a ajuda de alguém, ou sei lá.

— Como sabe disso? — Ele me perguntou.

— Ora — soltei seu pulso e respondi —, foi você que me mostrou com seus poderes mágicos de anjo.

Ele balançou a cabeça negativamente.

— Eu não mostrei nada a você, e eu acho que no fundo você sabe disso — falou, enquanto uma brisa fria escovava seus cabelos louros. — Agora eu tenho certeza absoluta do que você é.

— E o que eu sou? — Quase supliquei.

— Lorraine Jean Witt, dezesseis anos. Tem um irmão, Nathan Anthony Witt. Ele é uma ameaça — ele quase sussurrou a última palavra. — Seu pai, Garrett... Bom, eu o conheci. Era um homem honrado.

Caleb estava com um olhar distante. Ele parecia adorar observar o nada. Mas então ele fechou os olhos e suspirou, mas não voltou a olhar para mim.

— Priam White já está vindo — ele disse. — Você ficará bem agora. Não se preocupe — Caleb afastou-se, subiu na mureta, relaxou os ombros e esperou que suas asas se erguessem novamente. — Adeus.

— Espere! — Eu supliquei. — Vamos nos ver novamente?

— Eu espero que não — foi a última coisa que ele disse.

E assim o anjo Caleb Langston desapareceu, se jogando da mureta e sumindo em meio as nuvens densas do céu. Fiquei parada ali por um bom tempo, pensando em tudo que ele havia dito para mim, e no quanto eu me sentia desolada por não ter tido coragem de beijá-lo, já que provavelmente eu nunca mais o veria depois daquele dia. Eu sabia que isso soava muito estúpido, já que eu tinha acabado de conhecê-lo, mas eu sentia que existia algo dentro de mim que me fazia estar ligada a ele, como uma corrente. Algo difícil de ser compreendido, mas possível de ser sentido.

Mas ei, espera um minuto aí... Ele disse que Nathan, meu irmãozinho, é uma ameaça?

• • •

Desci, ainda um pouco trêmula, as escadas de emergência do prédio. Eu ainda estava perplexa, tentando engolir o bolo que estava entalado em minha garganta. Ainda não conseguia parar de pensar no garoto de asas. O anjo. Caleb. E então no exato momento em que eu pus meus pés no chão, uma caminhonete velha estacionou ao meu lado. Priam.

— Mais que diabos! — Bradou, descendo do carro. Seu rosto estava vermelho, e sua roupa estava coberta de manchas de sangue. — Onde foi que você se meteu?

— Bom, você disse para eu fugir, e eu fiz isso — esclareci. — Ah, e... você está vivo, que bom. Pensei que você não daria conta daqueles policiais, ou sei lá o que eles eram.

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