Capítulo 13

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Yasmin Medeiros

Arthur me observa enquanto eu sento do lado dele, estou começando a ficar arrependida de ter vindo.

- Boa noite. - eu falo me recompondo no banco rústico.

- Boa noite Yasmin. - ele responde enquanto checa algo no seu celular.

Como assim ele está chamando pelo meu nome sem as formalidades? Nós nem temos intimidade nenhuma.

- Porque me chamou? - sou direta pois não gosto de rodeios.

- Já percebi que é direta então vou ser sincero com você... - ele começa falando e já sei que não vem coisa boa por aí.

- Não vou mentir, gostei muito do que vi no evento, você é uma mulher muito bonita e interessante... - ah não! Ele está dando em cima de mim, é isso mesmo?

Seus olhos param no meu decote e ele sorri, continua olhando meu pescoço e sobe para meu rosto. Que asqueroso, acho que consegue ser pior que o Carl. Porque raios ele se está fazendo a mim se existem por aí mulheres tão bonitas quanto eu.

- E já que trabalhamos na mesma empresa eu queria convidá-la para almoçar comigo amanhã. Aceita? - ele pergunta pousando seu braço em cima da mesa provavelmente para exibir seu relógio caríssimo.

- Claro. - eu faço o meu sorriso mais falso e aceno com a cabeça fingindo entusiasmo.

- Que ótimo. Vou adorar conhecê-la melhor.- ele pousa sua mão na minha. Arg mas ele está louco?

- Hum, sim vai ser muito... - a minha vontade era dizer outra coisa mas me controlo. - muito interessante. - eu concluo e disfarço sorrindo.

- Mas agora se me dá licença eu tenho de ir, minhas amigas estão esperando por mim. - aponto para a mesa delas para me tentar escapar das garras dele.

Sua mão quente continua sobre a minha mas rapidamente retiro a minha mão da mesa. Que nojo. Tenho de ir desinfetar imediatamente.

- Tudo bem, então nós vemos amanhã! - ele fala e está com uma expressão estranha e um sorriso triunfante. Estou começando a ficar assustada.

Sou apenas uma estagiária mas já fui num grande evento da empresa, estive com pessoas muito importantes, já conheci a mansão do meu chefe, inclusive dormimos juntos, foi sem querer claro, e agora o responsável pela parte financeira quer ter um encontro comigo, eu realmente não sei o que está acontecendo com a minha vida. Será um sinal de que a minha vida vai mudar?

A minha rotina mudou completamente de um dia para o outro, mas pelo menos não estou mais tendo aquelas aulas chatas, na empresa tenho conseguido me escapar das tarefas difíceis por isso está indo tudo bem, tirando a cobra da Yaren que sempre que pode aproveita para me infernizar a vida.

Percorro o bar, peço mais uma bebida no balcão e volto para a minha mesa, Sara e Emily me encaram curiosas.

- Que foi? - eu pergunto stressada.

- O que você estava fazendo com o Sr. Arthur? - Emily o conhece então ficou ainda mais intrigada.

- Ah, ele queria me parabenizar pela minha postura no evento. - sorrio forçosamente. - foi muito simpático da parte dele.

- Simpático? Ele? Não estamos falando da mesma pessoa de certeza! - Emily dispara e eu fico ainda mais confusa.

- Então porque? - pergunto curiosa.

- Ele é um bosta com os funcionários, mas como é amigo de longa data do chefe nunca ninguém o enfrenta. - eu a escuto atentamente. Algumas informações podem ser úteis para mim.

Olho para a mesa dele e vejo ele pagando a conta e indo embora de seguida.

Claro, esse palhaço apenas me quer levar para a cama e depois vai me tratar como qualquer outro funcionário.

Sara olha para nós confusa e eu lhe faço um resumo destes últimos acontecimentos.
Continuamos falando por um tempo sobre vários assuntos até Emily se despedir. Gostei de a conhecer melhor só é pena que seja tão focada no trabalho ao ponto de não se divertir nunca. De certeza que ainda vai trabalhar em algum projeto durante a noite.

Eu e Sara saímos do bar e ela continua me aconselhando para eu ser uma pessoa melhor e não dar tanto valor ao dinheiro. Sempre a mesma coisa, às vezes eu fico irritada e revido mas hoje estou tão intrigada com o convite de Arthur que nem reajo.

- Yasmin não se meta em problemas na empresa, eles são pessoas bem influentes. Não são para brincadeira. - ela me adverte pois já sabe que eu arranjo algumas confusões.

Na faculdade, na rua, em bares, no shopping, bom... eu já arranjei alguns problemas em vários lugares, mas claro, já está tudo resolvido. Desde que cresci nunca mais deixei que me humilhassem, então na mínima coisa eu já fico em alerta e encaro logo de frente a pessoa.

- Eu estou me adaptando bem, ainda não arranjei nenhuma confusão. - Sara me olha apreensiva por eu ter dito "ainda" e eu a acalmo de seguida. - nem pretendo.

Caímos na risada. Ela sempre foi muito da paz e eu da guerra.

Não lhe contei o que aconteceu no dia do meu aniversário pois sei que vou levar com mais um sermão dela sobre valores morais e isso me deixa entediada. Então guardo para mim mesma até conseguir o que quero.

Também não quero encher Sara com os meus problemas. Ela me contou que finalmente arranjou um emprego, fez contrato com uma empresa de limpezas bem conceituada e agora está em formação para que possa começar o trabalho em breve, ao que parece eles são bem exigentes e estão por trás da limpeza de grandes espaços, tanto interiores como exteriores.

Fiquei feliz por ela mas ao mesmo tempo sei que ela merece melhor, sei lá, eu iria me sentir humilhada por trabalhar em limpezas mas acabei por não falar isso pois não a quero magoar. Tomara que a situação dela melhore rápido para que possa voltar novamente à faculdade.

Sara acabou por me dar uma carona, ela é a única que sabe onde fica minha verdadeira casa, aliás é a única que conhece a minha verdadeira situação. Mesmo assim sinto tanta vergonha.

Sara após ter atingido a maioridade conseguiu a sua licença de condução e comprou um carro usado para se poder deslocar sem depender sempre do ónibus. Já demos grandes passeios nesta lata velha.

Eu queria ter também mas ainda não consegui juntar um dinheiro para isso e depois sei que não ia conseguir comprar um carro, mesmo que fosse velho.

Já disse que não vou trabalhar para esses lugares comuns onde a gente pobre ganha a vida. Eu não suportaria essa humilhação. Talvez por isso eu ainda não obtive o dinheiro suficiente mas quem sabe com o dinheiro do estágio consiga. Sim, é um estágio remunerado. Quando a faculdade faz pareceria com grandes empresas como essa normalmente pagam-nos um valor, claro que não é o que os trabalhadores fixos ganham, é bem menos mas ainda assim é melhor que nada né!

Saio dos meus pensamentos quando chegamos na minha casa velha a cair aos pedaços. Eu realmente não posso chamar isso de casa.

- Obrigada. - eu agradeço à Sara.

- Não foi nada, e sempre que você precisar de alguma coisa é só ligar. - ela sorri e trocamos um abraço.

Bato a porta do seu carro e aceno. Vejo seu carro desaparecer através das assustadoras ruas deste bairro.

Mais uma vez abro este maldito portão velho e praguejo pela vida miserável que tenho, pela "minha família" que não se importa mais comigo e por tudo que perdi.

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Olá pessoas lindas :) Deixem a vossa estrelinha e comentem muito para eu saber o que estão achando!

O que virá por aí?

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⏰ Last updated: May 10, 2021 ⏰

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