Prólogo

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"A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou.
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou."

- Fernando Pessoa
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2008

12 anos antes...

Geralmente as crianças são doces e inocentes, pelo menos é o que os adultos dizem mas eu todos os dias me questiono: será isso verdade?

Sentada no banco, eu observo as crianças no recreio, elas correm e brincam na grama, sorridentes e alegres enquanto eu sou a menina que todos maltratam, ninguém gosta de mim, não tenho amigos. Bom apenas tenho uma amiga que também anda sozinha mas ela tem tudo, pode ter amigos mas prefere andar sozinha, eu dava tudo para ter a vida dela.

Meu pai perdeu tudo que tinha, todo o seu império, era dos arquietetos mais requesitados em MontClaire e agora é apenas um homem pobre com uma fraca reputação por alguns erros que cometeu, projetos falhados e endividamentos. Acho que também não lutou o suficiente pra recuperar o que era nosso.

Desde essa desgraça ninguém quer andar comigo todos me abandonaram. Não entendo porque fui colocada de parte por virar pobre. Pensei que o mundo era bom. Agora entendo porque Kate não se quer apegar a ninguém, com medo que passe pelo o mesmo que eu e sofra mais.

Só que eu não era como ela quando tinha tudo, eu gostava de andar rodeada de amigos, que agora descobri que eram falsos, todos gostavam de ir na minha mansão pois eu tinha uma enorme sala de jogos, desde que descobriram que não tenho mais pararam de andar comigo.

Acreditem ou não mas as crianças já não são mais doces e inocentes pois elas fazem maldades horríveis comigo, chegaram a me trancar numa sala de arrumações minúscula, chorei por horas até que uma funcionária me encontrou, desde aí que tenho medo de ficar em lugares pequenos, entro em pânico, já colocaram minha cabeça numa privada e já fui humilhada várias vezes no vestuário.

Hoje o dia até está a ser mais tranquilo do que eu esperava mas sinto-me triste sem a minha única amiga pois com ela sinto-me mais protegida. Talvez Kate esteja doente, ultimamente sinto que ela está muito distante e com um ar abatido, ainda ontem estava com fortes dores de cabeça, deve ser por isso que faltou.

Um arrepio percorre todo o meu corpo e o medo me invade quando vejo Sophia e Caroline se aproximarem, elas me humilham desde que fiquei pobre.

Caroline e Shophie param na minha frente e começam me humilhando com palavras feias que eu só escuto vindo delas. Por isso que eu acho que as crianças são más.

Escuto à minha volta risos maldosos e não consigo perceber como as pessoas são capazes de se sentirem bem com a tristeza dos outros.

Caroline me pega pelo braço com força e me arrasta para trás da escola e junto com ela traz mais meninas e meninos e é então que depositam em mim toda a maldade que eles têm dentro deles.
Eles continuam me batendo mas eu posso escutar:

- Ela é feia e pobre vira-lata não merece estar no mesmo espaço que nós. - as crianças ao redor riem.

Continuam me chamando nomes horríveis que eu nunca escutei e eu já não tenho mais forças para gritar, sinto que estou perdendo os sentidos.
Foi então que me rendi, apertei os olhos com toda a força, preparada para o próximo chute, que não chegou e foi quando ouvi uma voz lá no fundo.

Escuto as crianças correndo para longe.

Reúno as únicas forças que me restaram e abro os olhos lentamente e me deparo com um rosto familiar e acolhedor. Não consigo reparar muito na pessoa que me está ajudando pois me sinto tonta e com muito sangue escorrendo do nariz e meu corpo completamente dolorido.

O moço me pegou no colo e seguimos até a enfermagem da escola, parece saber bem o caminho pois foi bem rápido que chegamos, então me senta num banquinho e logo se dirige ao interior da enfermagem, daqui eu posso escutar ele exaltado com os funcionários certamente pelo que me aconteceu. Entro na enfermagem e só me consigo focar na minha imagem assustadora no espelho.

Ele fala algo mas eu não escuto nada, apenas me olho no espelho e vejo o estado em que estou. O olho roxo e o lábio cortado. Quando saio do meu transe ele não se encontra mais aqui.

Saio da enfermagem e finalmente deixo o meu choro contido se libertar. Vou correndo o mais rápido que posso, com as únicas forças que me restaram.
Eu não quero mais viver neste mundo onde só existe gente má.
Às vezes eu só queria não existir.

Espero que tenham gostado! Até ao próximo capítulo.

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