FINAL CHAPTER

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Dizem que o luto passa por cinco estágios. Primeiro: a negação, seguida pela raiva. Depois vem a negociação, depressão e, finalmente, a aceitação. No entanto, o luto é um mestre impiedoso. No momento em que você começa a achar que está livre, você percebe que nunca teve chance. Não importa quanto tempo passe, ele sempre volta e te assola. Foi assim com mamãe e será assim novamente.

O céu estava carregado com nuvens cinzas e pesadas, a garoa fina iniciava-se tímida e fazia com que as gotículas de água escorressem pelos vidros das janelas. A minha mente rodopiava para fora daquele cemitério, enquanto eu ouvia de longe a voz recitar:

— Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá;

Senti uma presença ao meu lado direito e, automaticamente, virei o pescoço procurando saber quem era. Pude então reconhecer a dor naqueles olhos castanhos.
— Querida, então você é a famosa Cassidy? — Tocou meu ombro, com um sorriso triste pendurado em seus lábios ressecados e piscou os olhos repetidas vezes, tentando afastar - em vão - as lágrimas.
— Perdão? — Ajeitei os óculos escuros, que escondiam as olheiras profundas sobre a pele pálida.
— Sou Dorine Tuan. — Passou a mão na sua saia preta, e divagou o olhar pela capela.
Por Deus! A mãe de Mark estava na minha frente. Como eu olharia dentro dos olhos daquela mãe sem sentir a culpa me consumir por ter levado o filho dela para uma cova?
— M-Meus pêsames, Senhora Tuan. — Abaixei a cabeça, segurando ambas as mãos que suavam como nunca. As pontas de meus dedos estavam gélidas e eu podia sentir o olhar daquela mulher em mim.
— Mark falava muito bem de você, querida. Por isso eu quis vir até aqui. Quis conhecer o motivo do sorriso dele! Sabe, uma vez ele me disse que você era a melhor amiga dele e, bem, eu não queria lhe conhecer nessas circunstâncias, mas infelizmente a vida nos prega peças. — Sua voz soava chorosa e eu não tive ânimo para erguer o meu rosto. — Quero dizer também para que não se culpe. Se meu filho estava lá por você, foi porque te amava e queria o seu bem. — Segurou minhas mãos, que estavam encima da minha calça de lavagem escura.

Não consegui conter as lágrimas e deixei que elas rolassem pelo meu rosto, amenizando um pouco do sofrimento que eu sentia naquele momento.
Não podia ser real. Era real? Era! Acabou.

Senti um abraço apertado e desajeitado e me permiti chorar junto àquela mãe. A dor de perder um filho com certeza era cortante em seu coração. Após alguns minutos, ela levantou, juntando-se à um homem de cabelos grisalhos.

Fiquei de pé e andei pelo tapete vermelho, indo em direção ao caixão que ele estava.

Aquela risada gostosa de ser ouvida nunca mais poderá ser apreciada; aquele abraço aconchegante nunca mais poderá ser sentido; aquelas horas passadas em uma praia vendo o sol nascer tornaram-se, agora, uma lembrança que não poderá ser revivida; mas, o amor e a amizade que um dia nos uniu, ficará para sempre em meu coração.

Seu rosto estava sereno e mais pálido que o normal. Seus lábios estavam roxos e em suas narinas tinham algodões. Levei a ponta de meus dedos até a bochecha de meu falecido amigo, acariciando o local com uma emoção enorme dentro de mim. Ele havia partido.
Minhas mãos foram parar no seu cabelo onde eu alisava com carinho; Os fios alinhados, contornando agora sua sobrancelha com toda delicadeza possível.
Senti os olhos marejarem e a vista embaçar, me abaixei na altura de seu corpo e selei os lábios em sua testa. Sussurrei em seu ouvido como se ele pudesse me ouvir: Eu te amo. Descanse em paz e até algum dia, meu coelhinho.

Virei de costas, segurando o grito agonizante que estava preso em minha garganta e corri, saindo por aquela enorme porta e batendo de frente com alguém.
— Me desculpe, eu... — Parei de falar assim que vi quem era e passei minhas mãos pelo seu pescoço em um abraço desesperado.
— Vai ficar tudo bem. Eu prometo. — Sussurrou, enlaçando minha cintura.
— Jackson... — Tentei falar.
— Shh, eu sei que está sendo difícil pra caramba. Eu sei de verdade. Você não precisa fingir! Não pra mim. Não agora. — Me encarava com ternura.
Encostei minha cabeça em seu peito e me pus a chorar copiosamente, soltando soluços altos e chacoalhando meu corpo, enquanto era amparada por ele, que acariciava meus cabelos com a ponta dos dedos, fazendo movimentos circulares
— Eu estou aqui com você. Por você. — Beijou minha testa e eu me afastei, olhando para além de Jackson, onde estavam Daya, Youngjae e Jaebum encostados no tesla de minha amiga.

7 Hearts Where stories live. Discover now